Biofertilizantes à base de algas ganham espaço

Published on: October 8, 2025

“Atualmente, os extratos de macroalgas representam a principal fonte de bioestimulantes…” 

Marciel Stadnik, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, doutor em Ciências Agrárias pela Universidade de Hohenheim, com mestrado em Fitopatologia pela UFV e graduação em Agronomia pela UFSC. 


Marciel Stadnik, professor da UFSC

AgriBrasilis – Qual é a importância dos bioinsumos à base de algas? 

Marciel Stadnik – O uso de bioinsumos à base de algas vem ganhando espaço no cenário agrícola mundial, especialmente dentro da perspectiva de uma produção mais sustentável e resiliente. As algas apresentam compostos bioativos únicos, capazes de estimular o crescimento das plantas, aumentar a resistência a estresses bióticos e abióticos, além de melhorar a qualidade do solo e a eficiência no uso de nutrientes. Além disso, o uso de bioinsumos algais também contribui para a saúde ambiental e a competitividade dos sistemas agrícolas. Atualmente, os extratos de macroalgas representam a principal fonte de bioestimulantes, ou biofertilizantes, como são conhecidos no Brasil,  impulsionando o desenvolvimento de uma cadeia industrial emergente. 

AgriBrasilis – Quanto custa para produzir esses produtos?  

Marciel Stadnik – Em relação ao custo de produção, os valores variam bastante conforme a escala, a espécie utilizada e a tecnologia empregada. Em cultivos controlados de microalgas, o investimento inicial é mais elevado, devido à necessidade de infraestrutura como fotobiorreatores, sistemas de aeração e controle de luz. Por outro lado, a exploração de macroalgas marinhas em regiões costeiras pode ser mais econômica, especialmente quando há políticas públicas de incentivo ao manejo sustentável. Em termos médios, a produção de um litro de extrato bruto pode variar de alguns reais em escala industrial até valores mais altos em pequena escala experimental. Entretanto, com o avanço tecnológico, os custos vêm caindo e, consequentemente, tornam os bioinsumos cada vez mais competitivos. 

AgriBrasilis – Quais espécies são as mais utilizadas? Como são cultivadas ou obtidas?  

Marciel Stadnik – As macroalgas marrons mais conhecidas são Ascophyllum nodosum e Ecklonia maxima, coletadas no Atlântico Norte e na África do Sul, respectivamente, e muito usadas no mercado internacional de biofertilizantes. Entre as microalgas, destacam-se Chlorella e Spirulina, cultivadas em tanques abertos ou em fotobiorreatores, devido à alta produtividade e ao rico valor nutricional. As macroalgas podem ser obtidas tanto por coleta no mar quanto por cultivo em sistemas de maricultura, prática comum em países asiáticos e que, mais recentemente, também vem sendo desenvolvida no Brasil, principalmente com a macroalga vermelha Kappaphycus alvarezii. 

A proposta não é substituir os macronutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio, mas sim aumentar a eficiência de seu uso…

AgriBrasilis – Quais as diferenças práticas entre macroalgas e microalgas? 

Marciel Stadnik – Do ponto de vista prático, macroalgas e microalgas apresentam diferenças importantes. As macroalgas são organismos multicelulares, de fácil visualização, com grande biomassa e composição rica, incluindo em polissacarídeos sulfatados, como alginatos, carragenanas e ulvanas. Já as microalgas são unicelulares, com crescimento rápido e grande diversidade bioquímica, incluindo lipídios, proteínas e pigmentos. Essa distinção reflete diretamente na aplicação: as macroalgas são tradicionalmente usadas como biofertilizantes líquidos aplicados ao solo ou às folhas, enquanto as microalgas oferecem oportunidades em biofertilizantes, biopesticidas e até mesmo em formulações de liberação controlada de nutrientes. 

AgriBrasilis – As algas podem reduzir a dependência de fertilizantes minerais convencionais? 

Marciel Stadnik – Um aspecto estratégico é que as algas podem contribuir significativamente para reduzir a dependência de fertilizantes minerais convencionais. A proposta não é substituir os macronutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio, mas sim aumentar a eficiência de seu uso, minimizando perdas por lixiviação, favorecendo a absorção radicular e estimulando a fisiologia da planta. Além disso, compostos bioativos presentes nas algas atuam como indutores das defesas naturais das plantas, o que pode diminuir a necessidade de aplicações frequentes de defensivos químicos. Na prática, a incorporação de bioinsumos derivados de algas em programas de manejo integrado representa um caminho promissor para uma agricultura menos dependente de insumos sintéticos e mais alinhada aos princípios da sustentabilidade.  

Em resumo, os biofertilizantes à base de algas representam uma fronteira inovadora na agricultura moderna. Elas unem ciência, sustentabilidade e eficiência produtiva, trazendo benefícios tanto para o agricultor quanto para o meio ambiente. A tendência é de crescimento contínuo desse mercado, especialmente em países que buscam ampliar sua competitividade agrícola sem abrir mão da conservação ambiental. 

 

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