Empresa de veículos elétricos de olho no agro quer faturar R$ 2 bilhões até 2027

“Com menos peças suscetíveis à desgastes e quebras, veículos elétricos têm um comportamento muito mais equilibrado, necessitando de menos intervenções, ao mesmo tempo em que geram uma economia enorme…”

Nelson Füchter Filho é CEO da Fever Mobilidade e do Grupo Le Monde, formado em administração pela Universidade do Estado de SC e em direito pela Universidade Federal de SC, com pós-graduação em finanças pela FGV e especialização em estratégia empresarial pela INSEAD.

A Fever Mobilidade atua na distribuição de veículos elétricos, e quer faturar R$ 2 bilhões até 2027 com caminhões elétricos nas lavouras.

Nelson Füchter, CEO da Fever Mobilidade


AgriBrasilis – Por que produzir veículos elétricos para o campo?

Nelson Füchter – O campo talvez seja o lugar que mais irá sentir os efeitos positivos da eletrificação das frotas que realizam o trabalho pesado nas fazendas.

Com o avanço da tecnologia, a mobilidade elétrica em veículos comerciais está provocando uma revolução no modo como essas máquinas convivem com os trabalhadores, com o meio ambiente e, principalmente, nas planilhas financeiras das empresas que têm frotas.

Há uma transição em curso, que começou por máquinas menores, como empilhadeiras, carrinhos de carga e caminhões compactos. Todos esses veículos estão tendo uma utilização crescente nas propriedades rurais da Europa como frotas “staff”, que são aqueles veículos que acompanham os grandes implementos agrícolas como tratores de grande força e colheitadeiras, por exemplo.

“O campo talvez seja o lugar que mais irá sentir os efeitos positivos da eletrificação das frotas que realizam o trabalho pesado nas fazendas”

Na administração da maioria dessas propriedades, há ainda uma circulação constante de pick-ups a diesel e a gasolina, tratores a diesel (a chamada linha verde), entre outros veículos menores que fazem o leva e traz dos insumos, a limpeza, a manutenção e até a segurança de toda a propriedade.

A primeira razão para se decidir por um veículo operacional elétrico é a economia direta que ele gera em combustíveis, manutenção e revisão ante veículos a combustão. Por possuírem construção mais moderna, veículos elétricos possuem até 70% menos peças do que um veículo tradicional. Isso acontece porque todo o conjunto motopropulsor térmico necessita de vários componentes, como motor térmico, caixa de câmbio, radiador, cano de escapamento, etc. Tudo isso é substituído por uma única peça (motor elétrico).

Com menos peças suscetíveis à desgastes e quebras, veículos elétricos têm um comportamento muito mais equilibrado, necessitando de menos intervenções, ao mesmo tempo em que geram uma economia enorme. O custo total de propriedade quando comparamos um trator pequeno a um caminhão elétrico pequeno chega a ser 85% menor em favor do caminhão elétrico, por exemplo.

A segunda razão é a produtividade: veículos elétricos ficam muito mais tempo disponíveis para o trabalho do que veículos a combustão. Os intervalos para manutenção são bem maiores e não há problemas de quebras ou mal funcionamento de itens como motor e caixa de câmbio.

Outro ponto é a segurança do local de trabalho. Para ter uma frota de veículos a combustão a fazenda precisa manter um tanque de combustível grande para abastecimento dentro da propriedade. Ao incluir esse item na sua rotina operacional, o risco de abastecimento é alto, assim como o do próprio armazenamento. Em relação ao direito trabalhista, por exemplo, com tanques de combustíveis maiores do que 200 L de capacidade (o que é comum), o proprietário da fazenda terá que pagar adicional de periculosidade a todos os profissionais com acesso ao tanque. No caso do veículo elétrico, é necessário apenas uma tomada ou, no máximo, uma estação de recarga instalada.

Existe também uma melhora do bem-estar geral de quem convive com essas máquinas. Diferente dos barulhentos e fumacentos tratores e pick-ups, os caminhões elétricos não emitem gases, não fazem nenhum ruído e também não emitem vibrações para quem os guia. Além disso, eles têm o câmbio automático, diminuindo o esforço repetitivo do operador do veículo.

AgriBrasilis – Existe demanda por esse tipo de tecnologia? Quais são as expectativas de vendas para o curto e médio prazo?

Nelson Füchter – Sim, existe. A transformação da mobilidade está acontecendo em todos os segmentos da economia e no agro não está sendo diferente. Foi por conta desse fato que resolvemos trazer a linha FEVER ALKÈ para o Brasil.

O FEVER ALKÈ ATX 340 EH começou a ser apresentado a potenciais clientes a partir de fevereiro de 2024 e os primeiros testes têm sido animadores. Esperamos comercializar 50 unidades já em 2024.

AgriBrasilis – Quanto a Fever estima faturar com a venda de veículos elétricos para o agro?

Nelson Füchter – Nosso planejamento indica potencial de cerca de 350 unidades até o final de 2027. Junto com a linha de triciclos elétricos e um terceiro veículo comercial que iremos lançar no segundo semestre desse ano, nossa estimativa de faturamento é de R$ 2 bilhões até o final de 2027.

AgriBrasilis – O senhor disse que se espera boa aceitação entre produtores de frutas no Brasil. Por quê?

Nelson Füchter – Estamos focando inicialmente nas propriedades rurais ligadas a frutas em geral, e também em algumas culturas como o café. Focamos ainda na área de reflorestamento, papel e celulose e alguns tipos de mineração mais leve.

Na Itália já existem muitas viticulturas que só utilizam esse tipo de veículo. Com o aumento da exigência dos importadores de produtos agrícolas brasileiros no que se refere ao ESG, ter uma frota sustentável fará com que o produtor ganhe muitos pontos nas avaliações, viabilizando melhores contratos e longevidade no fornecimento.

AgriBrasilis – A potência de trabalho é equivalente à dos veículos movidos a diesel? 

Nelson Füchter – Sim, o veículo elétrico tem mais torque do que um veículo a combustão, funcionando melhor quando em tarefas intermitentes e de baixa velocidade.

AgriBrasilis – O veículo elétrico da empresa está em fase de testes em uma fazenda em MG. Quais são os resultados até agora? Quando será comercializado?

Nelson Füchter – Não temos dados concretos para revelar agora. O que podemos dizer é que fomos aprovados já em diversas fazendas para início dos testes de conceito, que têm duração maior.

Atualmente, temos unidades em teste em um haras no estado de GO, em uma área de reflorestamento no ES, e em um operador logístico em um porto de SP.

AgriBrasilis – Quanto deve custar um veículo elétrico da Fever? Quais são seus benefícios?

Nelson Füchter – Um veículo FEVER ALKÈ ATX 340 EH já vem completo, inclusive com a caçamba em alumínio e preparo para aplicações de implementos agrícolas, tanto na traseira como na dianteira.

Além disso, ele também conta com bloqueio de diferencial (que faz ele se comportar como um 4×4) e tem autonomia para 8 horas de trabalho duro e ininterrupto.

Sua capacidade de carga é de 1.600 kg combinada com uma capacidade de arrastar um implemento de até 4,5 toneladas. É um produto robusto e confiável.

Possui uma bateria LFP (íons de lítio) de última geração de 20kWh e pode ser carregado em 3,5 horas.

Uma carga completa do veículo custa ao redor de R$ 16,00, mas se a propriedade rural já produzir sua própria energia via placas fotovoltaicas, por exemplo, o custo pode ser considerado como zero.

O preço do veículo é de aproximadamente R$ 359.000,00 e pode ser financiado em até 60 meses. Além disso, possuímos planos de assinatura em 48 ou 60 meses a partir de R$ 9.990,00, dependendo dos detalhes da operação.

 

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