É necessário conhecer as propriedades físico-químicas dos herbicidas

“Os solos podem reter herbicidas e indisponibilizar para o banco de sementes de plantas daninhas…”

Kassio Ferreira Mendes é pesquisador e professor de rastreabilidade em qualidade agropecuária e ambiental do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, agrônomo pela Universidade do Estado de Mato Grosso, mestre em produção vegetal pela UFV e doutor em energia nuclear na agricultura pela USP.

Mendes tem experiência em manejo integrado de plantas daninhas, comportamento ambiental e rastreabilidade de pesticidas.

Kassio Mendes, pesquisador da USP


AgriBrasilis – Quais são as interações entre herbicidas e meio ambiente?

Kassio Mendes – Os herbicidas podem interagir de diferentes formas com o meio ambiente. São os processos de retenção, transporte e transformação que regem o comportamento e destino dos herbicidas no ambiente. Então é necessário conhecer as propriedades físico-químicas dos herbicidas e dos solos, além das condições ambientais.

AgriBrasilis – Qual é o efeito das condições do solo na dinâmica e eficiência desses produtos?

Kassio Mendes – Os solos podem reter herbicidas e indisponibilizar para o banco de sementes de plantas daninhas, por isso, é necessário fazer uma análise físico-química do solo antes de recomendar um herbicida residual (aplicado na pré-emergência).

Os teores de matéria orgânica (MO) e a argila são os principais responsáveis pela retenção dos herbicidas. Assim, em solos mais argilosos e com mais MO, as doses recomendadas dos herbicidas são maiores em relação aos solos arenosos. O pH interfere apenas em herbicidas residuais de carácter ácido, que podem ficar mais ionizáveis (carregados negativamente) após a calagem e sofrerem com o processo de transporte via lixiviação. Tal fato causa a ineficiência de controle das plantas daninhas na camada agricultável do solo.

AgriBrasilis – Qual é a importância da rastreabilidade para herbicidas?

Kassio Mendes – A rastreabilidade dos herbicidas no solo é importante para evitar problemas de contaminação e carryover (efeito residual negativo) nos cultivos em rotação e sucessão com a cultura que recebeu a aplicação dos herbicidas. As injúrias causadas por herbicidas podem reduzir a produtividade da cultura.

Outro ponto importante, é a rastreabilidade dentro da planta cultivada, em que herbicidas sistêmicos são absorvidos e translocados dentro da planta, e os resíduos podem atingir os grãos ou sementes. Diante do exposto, o limite máximo de resíduos (LMR) nas culturas devem ser rigorosamente respeitados em produtos para exportação, importação e consumo interno no país.

AgriBrasilis – Quais ingredientes ativos são mais persistentes no ambiente e por quê?

Kassio Mendes – Os herbicidas com elevado tempo de meia-vida da degradação (DT50) persistem mais nos solos, pois são moderadamente sorvidos aos coloides do solo e tem uma degradação biológica mais lenta. Os herbicidas aplicados em cana-de-açúcar, como o indaziflam, tebuthiuron e sulfentrazone são muito persistentes no solo.

AgriBrasilis – Levando isso em conta, que manejo é recomendado para a aplicação desses produtos?

Kassio Mendes – Quando for aplicar um herbicida, é necessário conhecer as propriedades físico-químicas do produto e as culturas cultivadas no sistema de produção, para evitar problemas de injúrias e impacto ambiental. Um outro ponto fundamental é que se deve fazer a integração dos métodos de controle de plantas daninhas na agricultura, não apenas o controle químico com o uso de herbicidas.

AgriBrasilis – De que formas a época de aplicação interfere no desempenho dos herbicidas?

Kassio Mendes – Os herbicidas podem ser aplicados em época seca e úmida, em função da solubilidade em água e retenção no solo. Na época chuvosa é recomendado aplicar herbicidas de baixa solubilidade em água e elevada retenção, como feito na cultura da cana-de-açúcar. Mas é de suma importância saber que os herbicidas só têm ação residual no solo quanto tem umidade, então, uma chuva de 10-20 mm é necessária para ativação do herbicida e biodisponibilidade na solução do solo.

AgriBrasilis – Por que a buva (Conyza sumatrensis) é considerada a daninha mais difícil de controlar?

Kassio Mendes – A buva produz elevado número (até 200 mil) de sementes por plantas, que germinam de forma escalonada no solo, aumentando a longevidade do banco de sementes. Aliado a isso, já existem no Brasil biótipos de buva com resistência múltipla aos herbicidas (até 5 mecanismos de ação). Assim, é necessário o controle da buva na pré-emergência, utilizando herbicidas residuais e a integração dos controles físico e cultural, já que essa planta daninha é fotoblástica positiva e precisa de luz para emergir.

AgriBrasilis – Quais os principais métodos não-químicos de controle?

Kassio Mendes – O manejo integrado de plantas daninhas é composto por 6 métodos: os manejos preventivo e cultural, e os controles físico, químico, biológico e mecânico. Então, tem-se 5 controles não-químicos, mas os mais utilizados são o mecânico, cultural e físico. Não existe nenhum bioherbicida registrado no Brasil para o controle biológico de plantas daninhas.