Earth Fund de Jeff Bezos está interessado na pecuária no Brasil

“O que acontece com a pecuária brasileira tem impactos globais. Estamos interessados ​​em apoiar o Brasil na produção sustentável de carne bovina e laticínios…”

Andy Jarvis é o diretor deFuture of Food” no Bezos Earth Fund, com bacharelado em geografia e doutorado pelo King’s College London, ex-diretor da Alliance of Biodiversity International.

Andy Jarvis, diretor de “Future of Food” no Bezos Earth Fund

Andy Jarvis, diretor de “Future of Food” no Bezos Earth Fund


AgriBrasilis – Por que o Bezos Earth Fund está interessado na pecuária brasileira?

Andy Jarvis – O Brasil tem o maior rebanho do planeta e é também o país com maior biodiversidade. O que acontece com a pecuária brasileira tem impactos globais. Estamos interessados ​​em apoiar o Brasil na produção de carne bovina e laticínios de forma sustentável – livre de desmatamento ilegal e com baixas emissões.

AgriBrasilis – Quanto será investido e como?

Andy Jarvis – Até o momento, anunciamos um total de US$ 66 milhões para o trabalho no Brasil, o que inclui subsídios para apoiar a criação e gestão de áreas protegidas e territórios indígenas, detecção precoce e resposta a incêndios florestais, apoio ao desenvolvimento econômico e empregos, capacitação para mercados de carbono e produção pecuária sustentável, incluindo a rastreabilidade no Estado do Pará. Geralmente concedemos doações a organizações sem fins lucrativos, e nosso portfólio continua a evoluir.

AgriBrasilis – Há muita resistência dos agricultores em adotar métodos mais sustentáveis?

Andy Jarvis – Todos os agricultores que conheci consideram-se bons administradores de suas áreas e querem gerir as suas explorações agrícolas de uma forma que lhes proporcione meios de subsistência, protegendo ao mesmo tempo o seu bem mais precioso: a terra. Mas os incentivos têm de ser adequados para produtores, ou seja, eles devem receber o apoio e os benefícios da mudança para práticas mais sustentáveis. Uma razão pela qual estamos particularmente interessados ​​no Brasil é porque o governo sinalizou fortemente o seu compromisso com isso. Faz todo o sentido – o Brasil é altamente competitivo no mercado global e o país tem muito a ganhar na busca por um sistema alimentar mais sustentável. O Brasil pode se tornar um líder global nesse sentido.

AgriBrasilis – Por que a rastreabilidade do gado de corte é importante neste contexto?

Andy Jarvis – A rastreabilidade do gado é a melhor prática para o setor de carne bovina atualmente. É uma forma de gerir a saúde animal de forma mais holística, gerir melhor as cadeias de abastecimento e um meio pelo qual os agricultores podem ser recompensados ​​através da cadeia de valor por melhores práticas de produção. No longo prazo, os sistemas de rastreabilidade serão um pilar da competitividade num mercado cada vez mais concorrido.

“Ao mesmo tempo que apoiamos o setor pecuário a reduzir as suas emissões e os seus impactos negativos na natureza, também olhamos para o tema das proteínas alternativas”

Ao mesmo tempo que incentiva as boas práticas, a rastreabilidade também pode combater as más práticas. O Brasil tem os maiores níveis mundiais de desmatamento ilegal, e a cadeia de abastecimento de carne bovina é um fator significativo disso. Quando um consumidor compra uma picanha ou um bife, ele deve ter a garantia de que não existe nenhuma atividade ilegal por trás da sua produção. A rastreabilidade do gado também é uma forma de garantir que os produtos que chegam ao mercado não tenham sido produzidos ilegalmente e estejam livres de desmatamento.

AgriBrasilis – Quais são os benefícios diretos para os pecuaristas ao adotarem práticas mais sustentáveis? É possível gerar receitas adicionais participando no mercado de carbono?

Andy Jarvis – A sustentabilidade deve ser uma prioridade para todos os agricultores, pois eles são os primeiros a se beneficiar disso. A sustentabilidade implica uma boa gestão dos recursos terrestres e hídricos, de forma a garantir capacidade produtiva a longo prazo. Além disso, o mercado de produtos sustentáveis ​​cresce dentro e fora do Brasil, seja pela preferência do consumidor ou pela responsabilidade corporativa. As práticas sustentáveis ​​proporcionam uma vantagem competitiva e mais oportunidades de mercado.

Além disso, uma exploração agrícola sustentável bem gerida também pode sequestrar carbono e proteger as florestas e, como resultado, aproveitar as oportunidades do mercado de carbono. As nossas subvenções também procuram encontrar meios pelos quais os pecuaristas que adotam a rastreabilidade e protegem as florestas possam conseguir rendimentos adicionais dos mercados de carbono.

AgriBrasilis – Qual é o objetivo do Centro Bezos de Proteínas Sustentáveis ​​e quando será inaugurado?

Andy Jarvis – Ao mesmo tempo que apoiamos o setor pecuário a reduzir as suas emissões e os seus impactos negativos na natureza, também olhamos para o tema das proteínas alternativas. Com a crescente procura de alimentos de origem animal, vemos oportunidades para alternativas à base de plantas para complementar os produtos de origem animal no mercado, a fim de enfrentar as crises climáticas e naturais. Nossos Centros Bezos para Proteína Sustentável trabalharão para melhorar esses produtos, buscando atingir uma paridade de preço e sabor frente as carnes convencionais. Mais detalhes serão anunciados em breve.

AgriBrasilis – Qual é o tamanho do mercado de proteínas alternativas no Brasil?

Andy Jarvis – É um mercado pequeno, mas está crescendo significativamente. Em 2023, o mercado de produtos cárneos vegetais foi de US$ 226 milhões, mostrando crescimento de 38% entre 2022 e 2023. Esperamos que as proteínas alternativas ganhem participação de mercado significativa na próxima década, à medida que os produtos melhorem e o preço se torne cada vez mais acessível aos consumidores. Vemos isso como um complemento aos produtos de origem animal – e não como um substituto – e o Brasil tem muito a ganhar com a crescente indústria global focada nesse tipo de produto.

Produtos proteicos alternativos fermentados e à base de plantas são produzidos por agricultores, e o Brasil é o maior produtor do ingrediente número 1 na maioria das carnes vegetais – a soja. Para o Brasil, adotar proteínas alternativas poderia proporcionar mais crescimento econômico.

 

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