A ameaça do cancro cítrico em Minas Gerais

“Devido à facilidade de disseminação, o cancro cítrico é uma grande ameaça para citricultura mineira…”

Leonardo do Carmo é gerente de defesa sanitária vegetal do Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA, coordenador da Câmara Técnica e Temática de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, engenheiro agrônomo e mestre em defesa sanitária vegetal pela UFMG.

Leonardo do Carmo, gerente de defesa sanitária vegetal do IMA


AgriBrasilis – O cancro cítrico é uma ameaça para a citricultura de Minas Gerais? Quais prejuízos essa doença pode causar?

Leonardo do Carmo – Devido à facilidade de disseminação, o cancro cítrico é uma grande ameaça para citricultura mineira. Os maiores prejuízos trazidos por esta praga são o aumento do custo de produção, a restrição do comércio e as perdas de produção, caso não exista o manejo correto.

AgriBrasilis – Como ocorre a disseminação da doença? Por que esse processo pode ser tão rápido?

Leonardo do Carmo – A disseminação do cancro cítrico ocorre por ventos, chuvas, ferramentas contaminadas, veículos, mudas contaminadas e até mesmo por pessoas. O processo é rápido pela característica da bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, causadora da doença. Esta bactéria possui um “flagelo polar”, o que facilita sua locomoção em lâmina d’água, penetrando na planta por aberturas naturais ou ferimentos. O desenvolvimento da doença ocorre preferencialmente em temperaturas de 25° a 30° C e alta umidade, o que acontece principalmente no período das estações da primavera e verão em MG.

AgriBrasilis – Quais os sintomas e como se dá a confirmação da doença? Em caso positivo, que providências devem ser tomadas?

Leonardo do Carmo – Os sintomas do cancro cítrico ocorrem primeiramente nas folhas, na face inferior com ponto amarelecido, desenvolvendo para pústula de cor marrom e com o progresso rápido da doença. Também é possível observar a lesão com saliência correspondente em ambos os lados da folha. Depois, a praga alcança o caule da planta e atinge os frutos. Posteriormente há a queda das folhas doentes.

Fonte: IMA

Quando há suspeita da doença, o produtor deve comunicar o fato ao IMA com urgência, para que possamos verificar a situação, coletar material e enviar para análise laboratorial.

A propriedade, então, fica interditada até que o resultado laboratorial fique pronto. Neste período não é permitida a saída de frutos do local, como medida cautelar, para evitar disseminação para outras regiões.

Em caso de resultado positivo, notificamos o produtor a realizar a erradicação, ou seja, destruição da produção e fazemos levantamento em todas as propriedades vizinhas, para verificar a situação da sanidade das plantas de citros. A propriedade positiva fica interditada por 180 dias após a eliminação do último foco.

Caso sejam constatados sintomas da doença em outras propriedades do município e os laudos sejam positivos para cancro cítrico, adotamos as mesmas medidas e solicitamos a alteração do status sanitário do município junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para Sistema de Mitigação de Risco (SMR).

Essa alteração de status sanitário é importante para que os produtores adotem medidas de controle para convivência com a praga, evitando a disseminação para outros municípios ou regiões.

“O principal meio de prevenção do cancro cítrico é adquirir mudas sadias e regulares juntos aos órgãos de defesa sanitária vegetal de cada estado.”

AgriBrasilis – Como prevenir a ocorrência da bactéria Xanthomonas spp Xanthomonas citri subsp. citri., causadora do cancro cítrico?

Leonardo do Carmo – O principal meio de prevenção do cancro cítrico é adquirir mudas sadias e regulares juntos aos órgãos de defesa sanitária vegetal de cada estado. É possível se certificar da sanidade dessas plantas por meio da documentação sanitária exigida.

Além disso, é importante utilizar caixarias plásticas higienizadas, quebra ventos nos pomares e desinfestação de veículos na entrada da propriedade.

Outros meios de prevenção são evitar ferimentos nas plantas nos tratos culturais e controlar o acesso de pessoas nas propriedades.

AgriBrasilis – Que métodos de controle são recomendados?

Leonardo do Carmo – Os principais métodos de controle são o controle do Minador do Citros, que causa ferimentos nas plantas, facilitando a entrada da bactéria, a limpeza das ferramentas utilizadas no trato junto às plantas cítricas, uso de cobre metálico para evitar a entrada pelas aberturas naturais ou ferimentos da planta e a destruição de frutos contaminados.

AgriBrasilis – Qual é a importância dos cursos de habilitação em emissão de CFO/CFOC e para que servem esses certificados? 

Leonardo do Carmo – Nos cursos de CFO/CFOC, capacitamos os engenheiros agrônomos para orientar os produtores sobres as medidas de prevenção nas regiões sem ocorrência da praga. Estes profissionais também são capacitados para identificação do cancro cítrico, os quais podem notificar a suspeita junto ao IMA, o mais breve possível.

Para regiões onde há o status sanitário e do SMR, os profissionais orientam sobre o manejo a ser adotado e realizam todo o acompanhamento.

Tanto o CFO quanto o CFOC garantem a saúde dos produtos vegetais. O produtor, para transitar com frutos de citros, precisa da Permissão de Trânsito Vegetal. Esse documento é emitido pelo IMA mediante apresentação do CFO ou CFOC.

AgriBrasilis – Que outras pragas e doenças têm causado preocupação em MG?

Leonardo do Carmo – Outra praga que causa enorme preocupação para citricultura mineira é o Huanglongbing (HLB), conhecido como greening, que hoje é a pior praga da citricultura nacional.

AgriBrasilis – Que projetos e ações do IMA contribuem para a sanidade das lavouras de MG?

Leonardo do Carmo – O IMA realiza inspeções periódicas nas lavouras em todas as regiões produtoras de citros em Minas Gerais e também fiscaliza essas propriedades para verificar o cumprimento das normas de sanidade vegetal.

O IMA também verifica o trânsito para evitar a entrada de pragas ou a disseminação para regiões que não têm ocorrências, realizamos trabalho de educação sanitária com público estudantil, crianças, adolescentes, universitários, junto à cadeia produtiva e profissionais que atendem os produtores rurais. Além disso, para garantir a eficiência do serviço de sanidade vegetal, realizamos treinamentos para nossos servidores, que executam essas ações.

 

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