“A cafeicultura brasileira é sustentável, já que utiliza técnicas de manejo que permitem o uso de insumos de forma eficiente, podendo ser inclusive certificada…”
Darlan Einstein Livramento é professor do Centro Superior de Ensino e Pesquisa de Machado – CESEP, e sócio-proprietário na Livramento Consultoria Agrícola. Livramento é engenheiro agrônomo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Lavras.
No manejo da lavoura existem operações agrícolas que contribuem com a sustentabilidade da cafeicultura:
- Indicação e uso de cultivares mais eficientes;
- Escolha do sistema de cultivo;
- Manejo de plantas daninhas;
- Manejo e controle de pragas e doenças;
- Calagem;
- Utilização de insumos de melhor performance e menor impacto ambiental;
- Manejo do solo com a reciclagem da palha do café e a adubação verde visando melhorias biológicas, físicas e químicas;
- Estudos de fisiologia do cafeeiro relacionando reservas orgânicas e nutrição mineral;
- Irrigação;
- Cultivo intercalar;
- Associação de cultivos e arborização e mecanização agrícola.
Essas práticas têm contribuído para integrar processos biológicos e ecológicos com a cafeicultura, visando diminuir o uso de insumos não renováveis, e ajudando a construir ativos de capital importantes para a cultura.
Entretanto, “novas” abordagens surgem para aprimorar a condução da lavoura. No caso da adubação, por exemplo, existem fertilizantes estabilizados; de liberação lenta controlada; e liberação lenta por efeito químico.
Adubação orgânica, organo-mineral e adubação verde também contribuem para sustentabilidade da cafeicultura. Existem os reguladores de crescimento de plantas e bioestimulantes, que fornecem um “ajuste fino”, e que proporcionam benefícios para as plantas de café como tolerância a estresses bióticos e abióticos, maior crescimento vegetativo e reprodutivo e aumentos de produção.
Outro exemplo é o cultivo intercalar e arborização, que é baseado na ideia de um melhor aproveitamento da área, redução de custos e formação de microclima. Essa pode ser uma estratégia de diversificação de áreas, tornando a atividade mais sustentável.
Doenças e insetos pragas que atacam o cafeeiro também possuem formas de manejo que contribuem para a sustentabilidade. O monitoramento efetivo associado ao manejo dos insetos pragas com a utilização de diferentes formas de controle: cultural, genético, químico, biológico, comportamental, são estratégias que podem diminuir as injúrias causadas pelos insetos.
Nas doenças do cafeeiro, deve haver monitoramento dos sintomas e sinais da doença, quantificando a incidência e severidade como forma de indicar o tipo e época de controle. Nesse contexto, estudos sobre quantidade de inóculo inicial associado a redução de ciclos das doenças no campo possibilitam incrementos no controle, e com menor uso de insumos.
O uso de indutores de resistência contra doenças é uma opção para auxiliar no controle das doenças e aumento da produtividade. Também não podemos deixar de citar as estações de aviso fitossanitários, que colaboram no manejo das pragas e doenças do cafeeiro. Todas essas técnicas permitem maior eficiência de uso de recursos.
No preparo pós-colheita, o uso de técnicas que utilizam menos insumos pode ser observado no reaproveitamento da água do lavador, descascador e despolpador de café e uso de despolpadores/descascadores da cereja, que utilizam pouca ou nenhuma água. A própria água residuária, que contém potássio, pode ser utilizada em compostagem, juntamente com a palha e casca do café.
A cafeicultura pode influenciar o balanço de carbono, onde emissões e remoções de gases do efeito estufa – GEE podem ser quantificadas em função dos diferentes tipos de manejo da lavoura, associando a biomassa estocada nas áreas de preservação e nos solos, onde as boas práticas agrícolas podem afetar o balanço de gases, melhorando a densidade e o potencial de armazenamento de carbono.
Diante desses cenários, a gerência ecológica que aborda fluxos de energia, ciclagem de nutrientes e resiliência do sistema pode levar ao redesenho da cafeicultura com resultados positivos para a produtividade, redução do uso de insumos e balanço de carbono.
A cafeicultura brasileira é sustentável, já que utiliza técnicas de manejo que permitem o uso de insumos de forma eficiente, podendo ser inclusive certificada. A certificação pode contribuir para que o produtor de café seja remunerado pela quantidade e qualidade das práticas sustentáveis de manejo adotadas. Assim, o segmento pode vislumbrar, através de mecanismo comerciais, a remuneração direta ao produtor ou grupo de produtores pelo sequestro de carbono.
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