Biodigestores reduzem a emissão de gases do efeito estufa

“Outra forma de sequestro dos GEE pelos biodigestores é através do uso do efluente líquido como biofertilizante”

Luciano dos Santos Rodrigues é engenheiro agrícola, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-doutorado em saneamento pela UFMG. Rodrigues é pós-doutor em engenharia sanitária pela Universidade Estadual de São Paulo.

Luciano Rodrigues, professor da UFMG


Com as taxas atuais de emissão de gases de efeito estufa, as temperaturas mundiais podem aumentar em 2°C, valor que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas diz ser o limite para evitar níveis “perigosos” até 2050. A maioria das emissões causadas pelas atividades humanas é oriunda da queima de combustíveis fósseis, principalmente carvão, petróleo e gás natural.

Biodigestores são sistemas de tratamento via digestão anaeróbia, em que os resíduos orgânicos, como dejetos animais, restos de alimentos, esgoto, e restos de culturas são degradados, resultando na geração do biogás, composto basicamente de gás metano (CH4)  e dióxido de carbono (CO2), responsáveis pelo efeito estufa e mudanças climáticas.

Todo  sistema anaeróbio de armazenamento e tratamento gera esses gases. Como na maioria das vezes os gases não são captados, eles são emitidos para  atmosfera e contribuem para o aquecimento do planeta.

Uma das características dos biodigestores é a captura do biogás por meio de campânulas metálicas, e mais atualmente geomembranas próprias, de forma que o gás pode ser queimado ou aproveitado.

Na queima, apenas o metano é removido, e transformado em CO2. Como o metano chega a ser 23 vezes mais poluente do que o CO2, podemos considerar que esse processo “sequestra” carbono.

O que é interessante no caso de biodigestores é o aproveitamento do biogás na forma de aquecimento, de produção de energia elétrica, ou na conversão do biogás em biometano, que pode ser utilizado como combustível veicular.

A contribuição dos biodigestores para sequestro e redução da emissão dos GEE dá-se de forma direta e indireta. De forma direta, acontece quando o biogás é aproveitado no aquecimento de ambientes diretamente ou por meio de queima em caldeiras, ou quando convertido em energia elétrica em geradores de biogás. Dessa forma, todo metano é sequestrado, porém ainda ocorre emissão de CO2.

A produção do biometano tem crescido. Essa produção se baseia na purificação do biogás com remoção de gás sulfídrico e dióxido de carbono, com o gás tendo valores superiores a 97% de metano, utilizado como combustível em automóveis, ônibus, e caminhões, seja de forma direta ou injetado na rede de gás natural, para ser utilizado em postos de combustível.

Outra forma de sequestro dos GEE pelos biodigestores é através do uso do efluente líquido como biofertilizante, em substituição ao fertilizante mineral. Por ser um efluente tratado, ocorre a redução da emissão de GEE em mais de 50%, se comparado ao efluente orgânico in natura.

De forma indireta, os biodigestores, através do aproveitamento do biogás, vão reduzir ou substituir diversos combustíveis fósseis não renováveis e que geram GEE, como a lenha, o carvão e óleo diesel na queima e/ou aquecimento de ambientes, do uso das usinas de energia térmica, etc. Como será produzida energia, ocorre a diminuição da demanda de energia elétrica das hidrelétricas e não há necessidade de acionar usinas térmicas.

O uso do biometano substitui o uso de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, e a injeção do biometano na rede de gás natural, diminui o uso desse combustível fóssil, que também gera GEE.

 

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