Quedas no volume exportado de café devem continuar

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“Temos visto sucessivas quedas nos volumes das exportações de café, o que deve continuar no próximo trimestre, com números menores que as médias dos anos anteriores”

Haroldo Bonfá é diretor da Pharos Consultoria, especialista em comercialização e mercado internacional de café. Bonfá é formado em economia pela Universidade de São Paulo e foi diretor de marketing internacional da Companhia Cacique de Café.

Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria


AgriBrasilis – Por que as negociações internacionais de café estão mais lentas em 2023? O que isso deve representar para o mercado brasileiro?

Haroldo Bonfá – Negociações para a venda do café em grãos e/ou solúvel acompanham as cotações internacionais: Bolsas de Café Arábica, em Nova Iorque, e de Café Robusta, em Londres. É importante acompanhar essas Bolsas, além da cotação das moedas internacionais, uma vez que o recebimento do valor precisará ser convertido em reais.

Importante notar que as bolsas em 2023 estão extremamente voláteis, assim como o dólar, provocando uma maior preocupação junto para os produtores e traders, e também na outra ponta (trader – indústria) no sentido de procurar a melhor cotação para fechamento dos preços, tanto do dólar como da Bolsa.

Em certas épocas existe uma correlação invertida entre a taxa de câmbio (dólar-real) e as Bolsa de Nova Iorque. Ou seja, uma valorização do real pode afetar em até 70% o aumento nos preço da Bolsa de Nova Iorque, uma vez que o valor da liquidação da venda em reais teria que ser compensado pelo aumento nos preços de Nova Iorque para que se mantenha o valor final da venda.

AgriBrasilis – Como estão se comportando os estoques e os preços internacionais do café? Por quê?

Haroldo Bonfá – Os estoques internacionais estão em queda, tanto dos cafés certificados pela Bolsa, como dos estoques monitorados pela Associação de Café Americana, além daqueles monitorados pela Federação Europeia de Café. Devido aos preços altos, algumas empresas acharam mais vantajoso consumir os estoques do que comprar no mercado.

AgriBrasilis – O Conselho Monetário Nacional aprovou (04/04/23) reajustes para os preços de cafés arábica (R$ 684,16) e conilon (R$ 460,02) para a safra 2023/24. Por que essa medida foi adotada e quais as consequências?

Haroldo Bonfá – Essa prática tem como finalidade garantir o mínimo de remuneração para o produtor junto às autoridades (Conab e Bancos), mas é uma ferramenta pouco usada, uma vez que os preços praticados no mercado estão muito acima dos mínimos ofertados pelo Governo.

Mesmo assim, preços mínimos podem sinalizar o comprometimento do Governo Federal em adquirir ou subvencionar produtos agrícolas, caso seus preços de mercado encontrem-se abaixo dos preços mínimos estabelecidos.

AgriBrasilis – Ainda existem incertezas sobre a oferta brasileira? Quais os fatores determinantes da oferta para as próximas safras?

Haroldo Bonfá – A safra 2023/24 já começou a ser colhida e estará pronta para embarque em dois ou três meses. A questão é se teremos mão de obra disponível para colher uma produção alta. Além disso, existem preocupações sobre as chuvas, que podem prejudicar em muito a qualidade do café colhido.

Para a safra 2024/25, teremos um período climático muito importante. Sempre ocorre no inverno a possibilidade de geadas. Outra preocupação é sobre o regime de chuvas, que afeta a florada, pegamento e maturação das plantas de café.

A safra do café ocorre apenas uma vez por ano, entre março e setembro. Existem discrepâncias nas avaliações sobre a safra, que ocorrem por muitos motivos: extensão territorial, tendo em vista que no Brasil existem 2,24 milhões hectares de café, sendo 1,84 milhão de hectares para lavouras em produção e 402 mil hectares de área em formação; diferenças metodológicas; além da falta de equipamentos de alta tecnologia.

Com relação à safra 2022/23, as incertezas são muitas. A primeira questão é: qual será o volume das exportações de café nos próximos três meses, antes da entrada da nova safra? Temos visto sucessivas quedas nos volumes das exportações de café, o que deve continuar no próximo trimestre, com números menores que as médias dos anos anteriores.

Existem varias razões para esse processo, desde a variação nos preços, que desestimula as vendas/embarques, além de fatores exógenos, como o aumento nos fretes e limitação da oferta de contêineres no âmbito internacional. Outro ponto é a perspectiva de diminuição do consumo internacional em função de uma possível recessão, principalmente na Europa e nos EUA.

AgriBrasilis – Honduras voltou a ser o principal fornecedor da Intercontinental Exchange. O que a ICE representa e qual a participação do Brasil? O que é necessário para que o Brasil volte ao primeiro lugar? 

Haroldo Bonfá – Os cafés de Honduras passaram por período de escassez, possibilitando que o café brasileiro ficasse mais competitivo. Recentemente, Honduras recuperou a sua produção (aproximadamente 5,5 milhões de sacas/ano), fazendo com que o café brasileiro perdesse competitividade.

 

 

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