Com queda histórica na produção, México aumenta dependência de importações — inclusive do Brasil

Publicado em: 13 de novembro de 2025

“A crise no setor de grãos e oleaginosas se aprofunda: a produção, que em 2026 foi de 36,2 milhões de toneladas, deve cair para…”

Juan Carlos Anaya Castellanos é diretor geral do Grupo Consultor de Mercados Agrícolas – GCMA, formado em administração pela Universidade Tecnologica do México.


AgriBrasilis – A agricultura mexicana vive um momento de crise?

Juan Anaya – Em 2023, a produção total de grãos e oleaginosas no México foi de 294 milhões de toneladas. Em 2024, caiu para 284,3 milhões, e a estimativa do GCMA para 2025 é de 282 milhões de toneladas, uma nova redução de 0,8%.
A crise no setor de grãos e oleaginosas se aprofunda: a produção, que em 2024 foi de 36,2 milhões de toneladas, deve cair para 34,4 milhões em 2025, o menor volume desde 2006. Atualmente, o México produz apenas 42% de seus grãos e oleaginosas e é o segundo maior importador mundial, atrás apenas da China.

AgriBrasilis – A dependência do milho importado é o maior problema da agricultura mexicana?

Juan Anaya – Sim. Pelo terceiro ano consecutivo, o México será o maior importador mundial de milho, com importações estimadas em 24,9 milhões de toneladas. O índice de segurança alimentar é preocupante: o país produz apenas 49% do milho que consome, e a safra de 2025 deve ser a menor desde 2012, com 23,31 milhões de toneladas. Até setembro de 2025, já haviam sido importadas 19,4 milhões de toneladas, das quais apenas 87 mil tiveram origem no Brasil.

AgriBrasilis – A queda na produção de trigo também preocupa?

Juan Anaya – Sim. A produção de trigo atingiu o nível mais baixo dos últimos 40 anos, apenas 1,79 milhão de toneladas. O indicador de autossuficiência alimentar despencou: em 1994 era de 76%, e hoje está em apenas 22%.

AgriBrasilis – O crédito e o seguro agrícola são as únicas formas de enfrentar a crise?

Juan Anaya – O acesso ao crédito é crítico: apenas 8% dos produtores conseguem financiamento, e o fechamento da Financiera Rural no governo anterior agravou o problema. No caso dos seguros, apenas 3% dos agricultores têm cobertura. Os programas de apoio ao crédito e ao seguro foram eliminados desde 2019, o que deixa o setor mais vulnerável.

AgriBrasilis – Como o México tem lidado com o protecionismo dos Estados Unidos?

Juan Anaya – É uma relação de resistência, mas também de complementaridade. Apesar das pressões do presidente Trump, Estados Unidos e México são parceiros e vizinhos estratégicos. Em 2024, 90% das exportações agroalimentares mexicanas tiveram os EUA como destino, somando US$ 49 bilhões, enquanto o México importou US$ 30 bilhões em produtos agroalimentares norte-americanos. Para produtores de milho, trigo, farelo de soja, carne suína, frango e leite, o México é um dos principais compradores.

AgriBrasilis – Há espaço para diversificar os mercados?

Juan Anaya – Sim, desde que os novos mercados sejam economicamente viáveis. O México tem uma vantagem logística importante em relação a muitos países que tentam acessar o mercado norte-americano — o maior do mundo em consumo. Produtos como frutas, hortaliças, cerveja e tequila continuam liderando as exportações.

AgriBrasilis – Que políticas poderiam garantir maior produtividade e competitividade ao produtor mexicano?

Juan Anaya – É necessário que os programas de apoio sejam voltados à produção, retomando mecanismos de financiamento, seguro, infraestrutura, tecnologia e assistência técnica que ampliem a oferta de grãos básicos. Também é fundamental direcionar mais recursos à infraestrutura hídrica e à sanidade agropecuária, pilares da previsibilidade e da competitividade do setor.