“Até o momento, o governo não encontrou uma alternativa para substituir o glifosato ou fornecer aos agricultores uma ferramenta melhor…”
Luis Eduardo González Cepeda é presidente da União Mexicana de Fabricantes e Formuladores de Agroquímicos – UMFFAAC, diretor comercial do Grupo Dragón (Agricultura Nacional S.A. de C.V.), formado em agronomia pela Universidade Autônoma do Estado do México.
AgriBrasilis – Qual é o papel da União Mexicana de Fabricantes e Formuladores de Agroquímicos e qual é o perfil de seus membros?
Luis González – A UMFFAAC nasceu como uma Associação Civil em 1976, integrada por empresários mexicanos, unidos por importantes empresas estrangeiras fornecedoras de produtos fitossanitários.
Um dos nossos objetivos é conscientizar sobre como os alimentos são produzidos no campo e como chegam à mesa das pessoas, sobre importância dos insumos que os agricultores utilizam para fornecer alimentos e gerar desenvolvimento econômico.
No México, a indústria de agroquímicos cumpre as normas e regulamentações nacionais e internacionais, mas existem áreas de oportunidade para fortalecer as relações comerciais dos membros do Tratado de Livre Comércio entre Canadá, Estados Unidos e México (USMCA), uma delas sendo a harmonização dos respectivos marcos regulatórios, tema em que foram registrados avanços importantes, mas também existem ameaças de retrocesso. Esse tema pode decair em disputas comerciais caso seja abandonada a fundamentação científica e se as decisões sobre políticas públicas forem baseadas em fundamentos ideológicos.
AgriBrasilis – Qual é o mercado mexicano de pesticidas e qual é a tendência para 2023?
Luis González – O mercado formal de pesticidas de 2022 foi estimado em aproximadamente US$ 1,65 bilhão, no caso da indústria formal ou regulamentada no México. A tendência média de crescimento anual nos últimos anos é de 3% até 5%, com algumas oscilações em função de condições adversas, como ocorreu durante o período da pandemia de Covid-19 e do conflito Ucrânia-Rússia.
Aos poucos, o mercado mexicano está mudando para produtos mais específicos para o controle de pragas e doenças, buscando soluções diferenciadas, com menor impacto ambiental, toxicidade e maior facilidade de uso, etc.
Com relação ao mercado para 2023, a situação não é muito otimista, devido ao clima seco, já que no México dois terços da área agrícola utilizam sistema de sequeiro (não-irrigada), principalmente para o cultivo de grãos. Além disso, existe incerteza no mercado internacional devido à queda dos preços dos insumos. Estimamos uma contração de aproximadamente 3% até 5%.
AgriBrasilis – Como a queda dos preços dos produtos está afetando o mercado em relação ao ano passado?
Luis González – Os preços caíram drasticamente no primeiro trimestre de 2023. O estoque na cadeia de produção foi comprado a preços mais altos, o que está causando perdas ou redução de lucro para importadores ou formuladores.
Também existem incertezas para os canais de distribuição em relação à compra de produtos quando se observa que os preços ainda estão em queda. Essa é uma questão complicada para o setor no México em 2023.
Do ponto de vista do agricultor, essa situação é favorável, pois eles sofreram aumentos significativos nos preços de fertilizantes e pesticidas derivados dos efeitos da pandemia e do conflito Ucrânia-Rússia.
AgriBrasilis – Quais as etapas de comercialização do produto desde a fabricação/formulação até o usuário final?
Luis González – Ao contrário de outros países, no México a comercialização é mais complexa devido a forma como as unidades de produção agrícola estão estruturadas. Temos produtores com grandes extensões de área, principalmente nas regiões norte e oeste, o que permite que trabalhem com economias de escala; por outro lado, temos também unidades de produção fragmentadas, em grande parte utilizadas para agricultura de subsistência, principalmente nas regiões sul-sudeste e centro do país.
Nas unidades de produção agrícola em escala comercial, a comercialização ocorre desde o fabricante ou formulador até o grande distribuidor, que atende grandes grupos agrícolas.
No caso de unidades produtivas fragmentadas ou muito pequenas, a cadeia de comercialização é mais longa: os grandes atacadistas regionais abastecem um canal que chamamos de “balcões” ou revendas locais, que por sua vez abastecem outro canal, que são os varejistas, que chegam até o pequeno produtor. Este é um canal complexo que exige muitos pontos de venda para chegar ao agricultor e que encarece os produtos.
AgriBrasilis – Como o crédito é fornecido ao longo da cadeia de agrotóxicos, da fabricação ao consumo?
Luis González – Grandes empresas desenvolvem análises técnicas para determinar as linhas de crédito para o canal de distribuição. Essas linhas de crédito normalmente são asseguradas por empresas de crédito nacionais e internacionais.
O grande distribuidor fornece crédito aos sub-distribuidores, que também escalam essas linhas de crédito. É importante mencionar que existem distribuidores no país que podem estar com excesso de crédito, podendo ultrapassar em três ou quatro vezes seu valor, porque cada empresa, cada fornecedor, oferece financiamento para eles.
Existem algumas empresas que concedem linhas de crédito aos grandes agricultores. Vale ressaltar que fornecer crédito para o agricultor é arriscado: se as condições favorecerem, ele pode pagar pontualmente, mas se não favorecerem, o agricultor pode permanecer com essa dívida até o próximo ciclo ou ano agrícola.
No caso dos “balcões” ou revendas locais, as operações normalmente são feitas à vista, envolvendo baixíssimo volume de produtos.
AgriBrasilis – Como a indústria vê a proibição do glifosato e outras restrições do governo? Ainda existe a possibilidade de voltar atrás nessas proibições?
Luis González – A proibição do glifosato no México é uma decisão unilateral, sem qualquer embasamento científico, técnico ou análise sobre os riscos e consequências para a agricultura, para o mercado e campo. É possível que o decreto seja efetivado e cumprido no último dia de março de 2024.
Se os EUA ou outros países discutirem esse assunto no âmbito dos acordos internacionais de livre comércio, existe a possibilidade de estenderem o prazo do decreto até o final da atual gestão federal.
Até o momento, o governo não encontrou uma alternativa para substituir o glifosato ou fornecer aos agricultores uma ferramenta melhor.
AgriBrasilis – Qual é o tamanho do mercado de pesticidas ilegais?
Luis González – O último relatório, de 2020, estima um valor de mais de US$ 200 milhões. Alguns cálculos já falam em aproximadamente US$ 300 milhões por ano em termos de pesticidas ilegais.
Se também levarmos em consideração o mercado ilegal de fertilizantes foliares e outros fertilizantes de baixo volume, a cifra pode alcanar mais de US$ 500 milhões.
O mercado ilegal cresce porque o governo não tem realizado fiscalizações, apreensão de produtos, investigações, etc.
AgriBrasilis – Você disse que falta base científica nas políticas públicas de agrotóxicos no México. Na sua opinião, qual seria a melhor prática?
Luis González – Precisamos que as políticas públicas sejam baseadas na ciência. A desinformação ao redor das evidências científicas sobre substâncias perigosas tornou-se uma ferramenta poderosa para manipular a opinião pública e o debate sobre o abastecimento de alimentos, causando confusão, dúvida e desconfiança.
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