O que o mercado brasileiro de agroquímicos pode aprender com a China?

Published on: September 10, 2025

“Como maior produtor mundial de pesticidas genéricos, a China fabrica cerca de 600 ingredientes ativos por ano…”

Jalen Fan é vice-diretor da Divisão 1 do Subconselho da Indústria Química da China (CCPIT CHEM), responsável pela organização da China International Agrochemical & Crop Protection Exhibition (CAC), realizada todos os anos em março, em Xangai.  

Fan é agrônomo e mestre em Extensão Agrícola pela Academia Chinesa de Ciências Agrícolas. 


Jalen Fan, vice-diretor do CCPIT CHEM

AgriBrasilis – A China ainda está focada em produzir agroquímicos “me too” (genéricos)?
Jalen Fan – Como maior produtor mundial de pesticidas genéricos, a China fabrica cerca de 600 ingredientes ativos por ano, contribuindo para a segurança alimentar global ao aumentar a produtividade agrícola.  

O setor evoluiu do “Me Too” para o “Me Better” e até o “Me Best” (da produção de genéricos para produtos melhores e inovação). Hoje, a pesquisa e desenvolvimento no país estão cada vez mais voltadas à inovação.  

Entre 2020 e 2024, foram registrados 85 produtos com base em 49 novos ingredientes ativos. Globalmente, 63 novas moléculas receberam nomes comuns ISO, das quais 29 (46%) tiveram origem na China. Isso mostra a transição do “Me Too” para o “Me First” (do “eu também” para “eu primeiro”). 

AgriBrasilis – Quais são as principais tendências em P&D de agroquímicos e bioinsumos?
Fan – Apesar dos altos custos e do longo tempo de desenvolvimento, as empresas chinesas têm investido fortemente em inovação. De 2020 a 2024, foram registrados sete novos ingredientes ativos, a maioria de “baixa” ou “micro” toxicidade. No mesmo período, as formulações à base de água, especialmente os concentrados em suspensão (SC), ganharam espaço e representaram 36,7% dos novos registros. 

A indústria de biopesticidas também se expande rapidamente, com mais de 2.000 aprovações envolvendo 165 ingredientes ativos. Somente entre 2020 e 2024, foram registrados 57 novos biopesticidas. Tecnologias como biologia sintética e RNAi estão cada vez mais presentes, possibilitando o desenvolvimento de produtos mais seguros e sustentáveis. 

O governo chinês restringiu novos investimentos em produtos como glifosato, glufosinato e abamectina...

AgriBrasilis – Como a inteligência artificial está sendo aplicada?
Fan – A inteligência artificial auxilia no desenho de moléculas, na digitalização da gestão agrícola, em sistemas de alerta precoce de pragas e na modernização da produção de defensivos, rumo à automação e neutralidade de carbono. Modelos 3D desenvolvidos na Universidade de Guizhou já resultaram em mais de 20 novos pesticidas na China. 

AgriBrasilis – O excesso de capacidade produtiva pode derrubar o mercado global?
Fan – A capacidade instalada corresponde, em grande parte, à demanda mundial. O governo chinês restringiu novos investimentos em produtos como glifosato, glufosinato e abamectina, incentivando a modernização das fábricas já existentes. Com o controle estatal e a concorrência internacional, acreditamos que o equilíbrio será mantido. 

AgriBrasilis – Quais os efeitos da pressão regulatória e ambiental?
Fan – As empresas precisam cumprir padrões ambientais mais rígidos, investir em tecnologias limpas e adotar práticas mais sustentáveis. Quem não se adapta corre o risco de ter a produção suspensa ou encerrada. 

AgriBrasilis – O que o Brasil pode aprender com a experiência chinesa?
Fan – A China é o maior produtor e o Brasil é o maior consumidor de pesticidas, o que torna a cooperação estratégica. Os biopesticidas são um campo promissor, já que as mais de 2.000 aprovações chinesas oferecem oportunidades para parcerias. O Brasil pode se beneficiar da colaboração em registros, controle de qualidade, tecnologia de formulações e equipamentos. Juntos, nossos países podem impulsionar a produção sustentável e garantir colheitas mais abundantes. 

 

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