Bioenergia, COP30, compliance: oportunidades para o agronegócio brasileiro

Published on: September 1, 2025

“O agronegócio no Brasil tem um papel fundamental na solução dos desafios globais de segurança alimentar e sustentabilidade climática…”

Giovana Araújo é sócia-líder de agronegócio da KPMG, formada em economia pela UFBA, com MBA pela USP e pela FGV.


Giovana Araújo, KPMG

Agribrasilis – Você considera que “toda empresa de alimentos é também potencialmente uma empresa de energia”. A bioenergia é plenamente explorada no Brasil?

Giovana Araújo – Conforme a demanda por energia sustentável acelera, há uma riqueza de bioenergia não aproveitada no campo ao redor do mundo esperando por soluções de conversão. Então, é provável que cada vez mais empresas que atuam no agronegócio também se tornem companhias de energia. O agronegócio é vocacionado para este tripé: alimentos, fibras e combustíveis.

No Brasil, o agronegócio expandiu as funções tradicionais de produção de alimentos e fibras para uma atuação ampliada como fornecedor de bioenergia moderna. Um estudo recentemente publicado pelo Observatório da Bioeconomia da FGV mostra que a bioenergia vinculada ao setor respondeu por 29,1% da oferta interna de energia em dados de 2023, contribuindo com 60% da energia renovável consumida no país. Se não houvesse a contribuição do agronegócio na produção de energia renovável, a participação de fontes limpas na matriz energética brasileira seria próxima da média mundial.  

O agronegócio no Brasil tem um futuro promissor como provedor de bioenergia. A lei 14.993, sancionada em 08/10/2024, pavimenta o caminho nessa direção. A lei integra as políticas de transição energética do governo brasileiro e determina a ampliação do uso de biocombustíveis como etanol, biodiesel, diesel verde, BioQAV, e combustíveis sintéticos.

Na própria operação agrícola, há muito espaço para expansão do uso de biocombustíveis em substituição ao diesel, com a utilização de biogás, etanol e biodiesel em veículos pesados. O setor agropecuário brasileiro ainda mantém uma elevada dependência de combustíveis fósseis na operação.

Agribrasilis – A KPMG tem apoiado exportadoras do agro a atender às exigências dos mercados internacionais. Quais as exigências e as dificuldades desse processo?

Giovana Araújo – O desafio de compliance de regulamentações internacionais que regem o comércio global é exponencial. As exigências serão crescentes em múltiplos mercados por dados que não apenas informem, mas atestem a forma como os alimentos, fibras e combustíveis são produzidos. É um desafio, portanto, de governança e segurança de dados, que precisa ser endereçado com tecnologia, conhecimento especializado, e selos de confiança.

A KPMG tem apoiado os clientes em frentes de auditoria, asseguração e consultoria, com destaque para o hub de rastreabilidade, onde temos uma parceria com uma plataforma SaaS chamada OriginsNext. A plataforma OriginsNext cria um gêmeo digital da cadeia de fornecimento, conectando dados e evidências de compliance de forma ágil e segura e, ao mesmo tempo, discricionária. Um dos diferenciais da plataforma OriginsNext é que foi construída com uma visão de compliance aderente à demanda do regulador, ou seja, conectando dados e evidências de toda a operação sob a ótica do produto. 

Um dos maiores desafios no caso do Brasil é que compliance upstream não significa necessariamente compliance dowsntream, já que no processo de transporte e armazenamento dos produtos há compartilhamento de cargas de distintas procedências.  

“…COP30 ocorrer no Brasil será uma oportunidade para comunicarmos melhor ao mundo sobre a relevância e maturidade do agronegócio nacional.”

Agribrasilis – A COP 30 acontecerá em novembro no Pará. Qual é o papel do agro?

Giovana Araújo – A COP 30 é um fórum multilateral e, como tal, é fundamental que continue relevante. Os desafios de segurança alimentar e de sustentabilidade climática, para citar alguns, precisam ser endereçados coletivamente por muitas jurisdições. 

O fato da COP30 ocorrer no Brasil será uma oportunidade para comunicarmos melhor ao mundo sobre a relevância e maturidade do agronegócio nacional. Os avanços tecnológicos do agronegócio brasileiro ao longo das últimas décadas, que se traduziram em crescimento exponencial de produtividade agrícola e pecuária, têm sido fundamentais para enfrentar temas como a necessidade de tornar a agricultura mais sustentável, a redução das emissões de GEE, a manutenção e regeneração dos solos, a resiliência a eventos climáticos extremos. 

O Brasil também tem inovado em programas para atrair capital para projetos sustentáveis, em modelo de blended finance com a participação do Tesouro Nacional e bancos privados. O agronegócio no Brasil tem um papel fundamental na solução dos desafios globais de segurança alimentar e sustentabilidade climática e temos muito a contribuir nesse debate.

Agribrasilis – Por que a senhora entende que os consumidores estão “pautando a agenda do agro”?

Giovana Araújo – Por trás das crescentes exigências regulatórias por mais transparência sobre a forma como os alimentos, fibras e combustíveis estão sendo produzidos, acredito que existe um consumidor mais atento e preocupado com a sua saúde e com o meio ambiente. O agronegócio é uma cadeia de valor por conceito e na ponta dessa cadeia está o consumidor. Naturalmente, esse consumidor vai pautar a agenda de toda a cadeia.

 

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