Brasil é líder em agropecuária sustentável e Mato Grosso é exemplo

Published on: March 11, 2025

“A qualidade e a disseminação da informação sobre o agro brasileiro são determinantes para abrir mercados e construir confiança…”

Renata Bueno Miranda é analista de relações internacionais da Embrapa e ex-secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do MAPA.

Miranda é formada em engenharia de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, com mestrado pela Universidade Federal de Lavras.

Renata Miranda, analista da Embrapa


AgriBrasilis – Que políticas públicas promovem inovação e sustentabilidade no agro?

Renata Miranda – O Brasil possui um conjunto robusto de políticas públicas de Estado, que transcendem governos e refletem o compromisso histórico do agronegócio brasileiro com a inovação e a sustentabilidade. Essas políticas criam as condições necessárias para um modelo de desenvolvimento econômico, social e ambiental equilibrado.

Entre as estratégias estruturantes, destacam-se iniciativas como o abastecimento e a regulação de estoques, a mecanização e automação do campo, o crédito rural e os programas de seguro agrícola. Além disso, políticas de promoção, como o Plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), o Floresta+, e o Plano de Recuperação de Pastagens Degradadas, são pilares fundamentais para impulsionar práticas sustentáveis no setor.

Essas ações não apenas fortalecem a produtividade, mas também garantem a preservação dos recursos naturais e a redução das emissões de gases de efeito estufa, posicionando o Brasil como líder global em agropecuária sustentável.

AgriBrasilis – Quais os avanços na recuperação de pastagens degradadas?

Renata Miranda – O Plano ABC+, que está em sua segunda década, tem como meta recuperar mais de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. Na primeira fase do plano (2010-2020), os resultados foram expressivos, superando a meta inicial de 15 milhões de hectares, com a recuperação de aproximadamente 18 milhões de hectares.

Esse avanço foi possível graças à adoção de tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o plantio direto e a fixação biológica de nitrogênio, que aumentam a produtividade enquanto regeneram o solo.

A recuperação de pastagens não só melhora a eficiência produtiva, mas também contribui para a redução do desmatamento, pois permite intensificar a produção em áreas já abertas, evitando a necessidade de expansão para novas áreas.

AgriBrasilis – Por que o Mato Grosso é considerado exemplo de agro sustentável?

Renata Miranda – O MT é um exemplo emblemático da agropecuária tropical sustentável, refletindo o potencial do Brasil nessa área. O estado combina alta eficiência produtiva com práticas climáticas responsáveis, demonstrando que é possível conciliar produção e preservação. Assim como no Brasil, o MT produz até três safras no mesmo hectare, com alta produtividade e redução no uso de insumos e recursos naturais.

Além disso, o estado reflete a liderança do Brasil em energia renovável. Enquanto a matriz energética mundial tem apenas 29% de fontes renováveis, o Brasil alcança 78%, e o MT contribui significativamente para esse índice. O estado também é um dos pilares do Plano ABC+, o maior plano de agricultura de baixo carbono do mundo, com meta de mitigar 1 bilhão de toneladas de CO2 até 2030.

Com tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o plantio direto, MT se consolida como um modelo de produção sustentável, gerando empregos e impulsionando o PIB nacional. Assim, o estado não é apenas um caso de sucesso, mas um reflexo do potencial do agro brasileiro.

AgriBrasilis – A senhora disse que a chave da sustentabilidade deve ser a informação. Em que sentido?

Renata Miranda – A informação é, de fato, a chave para a valorização da sustentabilidade no agronegócio. Hoje, não basta ter produtos de alta qualidade e preços competitivos; é essencial comunicar de forma clara e transparente como esses produtos são produzidos.

A qualidade e a disseminação da informação sobre o agro brasileiro são determinantes para abrir mercados e construir confiança com consumidores e parceiros internacionais. No entanto, não adianta ter acesso à informação se ela não for colocada de forma acessível e útil para quem precisa.

A transparência é a melhor ferramenta para combater a desinformação e construir credibilidade. Por isso, investimos em plataformas digitais e sistemas de rastreabilidade que permitem ao produtor rural acessar e compartilhar dados sobre sua produção, demonstrando seu compromisso com práticas sustentáveis e legais.

AgriBrasilis – Qual o balanço de sua gestão como Secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo?

Renata Miranda – Minha gestão foi marcada pela estratégia de “recuperar o lugar de fala do Brasil no mundo e valorizar o compromisso do produtor rural com a sustentabilidade”.

Trabalhamos intensamente em fóruns internacionais e junto aos principais mercados para desmistificar a imagem do agro brasileiro e destacar nossos avanços em práticas sustentáveis.

Um dos pilares da nossa atuação foi o fortalecimento do Plano ABC+, com a modernização de suas bases de dados e a criação da Plataforma AgroBrasil+Sustentável. Essa plataforma visa qualificar a produção agropecuária brasileira e empoderar o produtor rural, fornecendo-lhe informações precisas e acessíveis sobre sua propriedade. Trata-se de um processo de cidadania digital, que elimina a dependência de intermediários e permite ao produtor comprovar, de forma independente, que sua produção é realizada com responsabilidade e dentro da legalidade.

Além disso, promovemos o diálogo constante com setores públicos e privados para alinhar expectativas e construir uma visão compartilhada sobre o futuro do agro brasileiro.

AgriBrasilis – Quais os planos do Brasil para a COP 30?

Renata Miranda – A COP 30 é um momento crucial para o Brasil reafirmar seu papel de liderança na agenda climática global. A conferência vai muito além do agro; é um chamado ao dever para todos os setores econômicos.

O Brasil tem a responsabilidade de conduzir pelo exemplo, avaliando seu legado desde a Rio92, que lançou as bases para as discussões climáticas globais.

No topo da agenda está o Financiamento Climático, um tema urgente e essencial para viabilizar ações de adaptação e mitigação. Os impactos das mudanças climáticas já são sentidos em todo o planeta, especialmente pelas populações mais vulneráveis, e é preciso agir com pragmatismo e urgência.

O Brasil levará para a COP 30 propostas concretas, como a importância da recuperação de pastagens degradadas, a promoção de bioeconomia e a restauração de ecossistemas, além de reforçar a necessidade de cooperação internacional para garantir recursos e tecnologias que permitam aos países em desenvolvimento cumprir suas metas climáticas.

A COP 30 será também uma oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental, reforçando seu compromisso com um futuro sustentável.

 

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