“…não há mudança no status sanitário brasileiro perante a Organização Mundial de Saúde Animal…”
Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA, do conselho administrativo do Instituto Ovos Brasil e vice-presidente do International Poultry Council.
Santin é formado em direito e mestre em ciência política e governo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
AgriBrasilis – Os casos recentes de influenza aviária devem afetar o mercado brasileiro?
Ricardo Santin – Não. Os casos registrados se referem a aves silvestres. Por esse motivo, não há mudança no status sanitário brasileiro perante a Organização Mundial de Saúde Animal.
Cabe lembrar que o Brasil nunca registrou a enfermidade em aves comerciais. Tanto o abastecimento interno quanto as exportações se mantêm em patamares normais, e assim deverão seguir.
AgriBrasilis – Quais as consequências do estado de emergência zoossanitária declarado pelo MAPA?
Ricardo Santin – Se trata de uma medida cujo principal objetivo é a desburocratização de processos no âmbito do ministério, caso seja necessária a adoção de medidas emergenciais de contenção da enfermidade. A medida também passa a mensagem para o mundo que o Brasil está atento e alerta para evitar que isto alcance a produção comercial.
AgriBrasilis – Como o senhor avalia as medidas de mitigação adotadas pelo governo e pela indústria até o momento?
Ricardo Santin – Na verdade, não há até aqui qualquer medida de mitigação da enfermidade. Cabe lembrar que a situação se deu exclusivamente em aves silvestres, por isso, apenas são cabíveis medidas de monitoramento.
As ações realizadas até aqui, e que tem sido muito bem sucedidas tanto da parte do Governo, quanto da cadeia agroindustrial, são as amplas campanhas e as medidas preventivas para a proteção da biosseguridade dos planteis.
AgriBrasilis – Quais as orientações dadas aos produtores para prevenção dos planteis? Que sinais indicam a presença do vírus nos animais?
Ricardo Santin – A ABPA estabeleceu um amplo protocolo, que inclui a suspensão total das visitas, revisão das estruturas de biosseguridade da granja (como telamento, arcos de desinfecção, rodolúvio, pedilúvio, proteção das fontes hídricas para as aves alojadas e da ração, entre outras medidas), entre outros pontos. Ao mesmo tempo, pedimos que os produtores se engajem na campanha nacional de orientação e proteção ao setor produtivo, compartilhando as informações com seus pares.
No caso de qualquer situação suspeita com aves, como andar cambaleante, pescoço torto, alta mortalidade de aves em uma área, é fundamental avisar com urgência o serviço veterinário oficial, seja por meio da secretaria de agricultura da cidade, do estado ou o MAPA.
AgriBrasilis – Na hipótese da gripe aviária alcançar granjas comerciais, que mercados devem restringir o comércio com o Brasil? Quais os mercados mais exigentes?
Ricardo Santin – O Brasil investe fortemente em biosseguridade, ao mesmo tempo que o país mantém um amplo plano estruturado para o eventual enfrentamento da enfermidade, caso seja necessário.
O Governo tem trabalhado nisso e já recebeu aceite para regionalização ou zoneamento de mais de dois terços dos países destinos dos produtos brasileiros. Temos expectativas de efeitos reduzidos em relação aos impactos financeiros, entretanto preferimos não tratar de valores para evitar especulações sobre preceitos irreais.
AgriBrasilis – É possível que uma campanha de vacinação implique em barreiras comerciais para o Brasil? Por quê?
Ricardo Santin – Diversos países estão trabalhando no desenvolvimento de vacinas. No caso do Brasil, a ABPA apoia a realização de estudos sobre a vacina contra a Influenza Aviária, em linha com os pontos defendidos pelo International Poultry Council e o International Egg Council.
Mesmo não demandando a medida para a sua própria produção – já que a estratégia brasileira é de monitoramento e de erradicação de eventuais focos – o setor produtivo brasileiro defende que não haja barreiras comerciais às nações que optarem pela adoção da medida.
A eventual adoção da vacina se dará estritamente por decisão do MAPA, por meio do Plano Nacional de Sanidade Avícola.
AgriBrasilis – Qual a atuação da Associação Brasileira de Proteína Animal no contexto da crise sanitária avícola?
Ricardo Santin – A ABPA tem adotado uma ampla estratégia nacional e internacional de enfrentamento da enfermidade, seja por meio de seu Comitê de Crise constituído pela diretoria da entidade, ou via Grupo Especial de Prevenção à Influenza Aviária, além de sua Câmara de Entidades Estaduais, onde são traçadas estratégias de monitoramento e ações de emergência, campanhas, esclarecimentos para imprensa e stakeholders nacionais e internacionais, entre outras medidas. Tudo isso sempre em alinhamento com o MAPA, que vem desenvolvendo um trabalho excepcional frente à enfermidade.
LEIA MAIS: