Produção de mirtilos está em queda no Chile

“Outra razão para a queda nas exportações de mirtilo in natura são os baixos preços registrados no mercado”

Jorge Esquivel Manterola é diretor da Blueberries Consulting e da D&E Consultores Associados. Manterola é engenheiro agrônomo, mestre em química dos solos e nutrição vegetal pela Universidade Autónoma de Madrid.

Jorge Manterola, diretor da Blueberries Consulting


AgriBrasilis – Como é o mercado de mirtilo no Chile? Quem são os principais compradores?

Jorge Esquivel – A indústria chilena de mirtilos é principalmente exportadora. A produção do Chile dificilmente é orientada para o mercado interno.

O principal mercado de destino é a América do Norte (EUA e Canadá), para onde vão mais de 50% das exportações. O restante é exportado para a Europa, com 30%, Extremo Oriente, com 10%, América Latina e Oriente Médio.

Nos últimos anos, a participação do mercado asiático tem aumentado rapidamente, principalmente a China. As cotas de vendas ainda são pequenas, embora estejam aumentando.

AgriBrasilis – Quais as empresas mais importantes desse setor? Que variedades são cultivadas, em que regiões?

Jorge Esquivel – As principais empresas produtoras e exportadoras são Hortifrut, Agroberries, Prize, GiddingsFruit, Niceblue, Copefrut, Frusan, Dole, Zurgroup, CarSolFruit, Northbay Produce, dentre outras.

Os mirtilos no Chile são cultivados desde a região de Coquimbo (conhecida como “quarta região”), com clima semidesértico, até a região de Los Lagos (“décima região”), com clima austral, frio e chuvoso. Diferentes variedades são usadas em cada área. A colheita pode ser precoce, intermediária e tardia, com baixa ou alta exigência de horas de frio.

Três regiões do país representam 71% dos embarques: Maule, Ñuble e Biobío,  e estão localizadas na zona central do país, com clima temperado.

O Chile cultiva as variedades Legacy, Duke, Brigitta, Brightwell, Blue Ribbon, entre outras, embora as principais variedades chilenas sejam Legacy e Duke, que respondem quase 40% dos embarques totais do país.

AgriBrasilis – Como se comportaram as últimas safras chilenas? Quais fatores levaram à recente expansão do mercado de mirtilo congelado?

Jorge Esquivel – A expiração das variedades cultivadas pela indústria chilena provocou uma queda na produção das últimas safras, caindo de mais de 110.000 toneladas, há três ou quatro anos, atrás para 80.000.

Para enfrentar essa situação, iniciou-se uma importante substituição varietal, mas devido às condições edafoclimáticas do Chile, esse processo tem sido lento em relação ao Peru, por exemplo, onde uma planta começa a produzir a partir do 1º ano. No Chile, a produção demora duas ou três safras, e quatro ou cinco para atingir o máximo potencial produtivo.

Soma-se a isso o fato de que a qualidade da fruta dessas variedades não segue o padrão exigido pelos novos consumidores, razão pela qual boa parte da produção tem que ser proveniente da indústria de congelados.

Outra razão para a queda nas exportações de mirtilo in natura são os baixos preços registrados no mercado, o que leva muitos produtores a preferir enviar a fruta congelada e fazer colheitas mecanizadas, economizando mão de obra.

AgriBrasilis – Como os custos têm se comportado no setor?

Jorge Esquivel – Os custos e a lucratividade da indústria também variaram. Os custos aumentaram devido ao impacto da pandemia no setor da logística e dos transportes, e da guerra na Ucrânia, com relação aos fertilizantes, por exemplo.

Além disso, os valores da fruta no mercado mundial caíram devido ao aumento da oferta, então a lucratividade do negócio diminuiu.

AgriBrasilis – Qual a importância da genética e do desenvolvimento de novas variedades? Quais características são buscadas no melhoramento?

Jorge Esquivel – A nova genética tem como missão resolver várias necessidades da indústria, como uma menor sensibilidade da planta para pragas e doenças; maior eficiência hídrica e, acima de tudo, melhor qualidade da fruta, em termos de tamanho, sabor, turgidez e firmeza, para enfrentar longas viagens aos mercados de destino.

AgriBrasilis – Como as mudanças climáticas afetaram o cultivo de mirtilos? Quais adaptações serão necessárias?

Jorge Esquivel – No Chile, a mudança climática está deslocando o clima para o sul cerca de 100 quilômetros a cada 10 anos, de modo que a geografia da cultura muda anualmente. A seca prolongada também é uma consequência desse fenômeno, e por isso as principais adaptações genéticas ocorrem nesse aspecto. As cultivares estão melhor preparadas para enfrentar uma situação de escassez hídrica.

AgriBrasilis – Quais as atividades da Blueberries Consulting?

Jorge Esquivel – A Blueberries Consulting é uma consultoria internacional que objetiva apoiar o desenvolvimento da indústria global do mirtilo. Por isso, a empresa mantém o mais importante portal virtual de informação especializada sobre o mirtilo em espanhol.

Nós realizamos visitas técnicas comerciais em lavouras de diferentes países produtores e realizamos periodicamente seminários internacionais sobre a cultura do mirtilo nos principais países produtores e exportadores dessa fruta para o mercado in natura.

 

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