Sistemas agroflorestais

Publicado em: 2 de março de 2022

“Sistemas agroflorestais podem ser aplicados a todos os biomas brasileiros e à diferentes maneiras de produção.”

Valter Ziantoni é engenheiro florestal pela Universidade Federal do Paraná, especialista em gerenciamento pela Fundação Getúlio Vargas e mestre em agrofloresta pela Bangor University, Reino Unido.

Paula Costa é engenheira florestal e especialista em gerenciamento ambiental pela Universidade de São Paulo – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, além de Bióloga pela Universidade Estadual de São Paulo.

Ziantoni e Costa são fundadores do Hub Agroflorestal Pretaterra.

Valter Ziantoni e Paula Costa, fundadores do Pretaterra.

AgriBrasilis – O que é agricultura regenerativa, agroecologia e agrofloresta (ou Sistemas Agroflorestais)?

Paula e Valter – Agricultura regenerativa abrange diferentes técnicas agrícolas com objetivo de reabilitar e conservar sistemas agrícolas e alimentares através da regeneração do solo, aumento da biodiversidade, melhora do ciclo da água, dentre outras questões.

Agroecologia é uma ciência que considera princípios ecológicos para estudo e tratamento de ecossistemas produtivos e nativos, de maneira que sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos e economicamente viáveis.

Agrofloresta resulta da integração de árvores na paisagem produtiva, sejam culturas agrícolas ou animais, inspirado na dinâmica dos ecossistemas naturais. É um sistema produtivo que associa a produção de alimentos com a recuperação de áreas degradadas.

AgriBrasilis – Por que optar pela agrofloresta?

Paula e Valter – As principais vantagens da agrofloresta frente à agricultura convencional são a recuperação da fertilidade dos solos, com redução de erosão, aumento da infiltração de água, e conservação de rios e nascentes. Há ainda o aumento da diversidade de espécies, o controle natural de pragas e doenças e a diversificação da produção.

Além disso, as árvores podem servir como fonte de renda, uma vez que a madeira e os frutos podem ser explorados e vendidos.

Existem diferentes tipos de sistemas agroflorestais. No Brasil, alguns dos principais são agrossilviculturais, combinando árvores (silvicultura) com cultivos agrícolas anuais ou perenes; silvipastoris, que unem árvores e pastagens (animais) e os sistemas de enriquecimento de capoeiras com espécies de importância econômica (como por exemplo, a cabruca com cacau).

Sistemas agroflorestais podem ser aplicados em todos os biomas brasileiros e a diferentes maneiras de produção. Desde a agricultura familiar, de pequena escala ou artesanal, até o cultivo de grandes culturas, mais tecnificadas e mecanizadas, em grande escala.

Para que esses sistemas sejam viáveis, é necessário um bom planejamento e equilíbrio entre a produção do agronegócio e a conservação ambiental. Os envolvidos no processo colhem os frutos através de um produto de maior valor agregado.

AgriBrasilis – Existe espaço para inovação dentro do contexto da agrofloresta?

Paula e Valter – Existe. Exemplo é a análise e planejamento baseados em bancos de dados robustos, que permitem aos empreendedores rurais uma tomada de decisão mais assertiva. Nos projetos de agrofloresta, sobram exemplos que reforçam a importância de Data Science.

A lógica de todos os projetos agroflorestais é a mesma, pois nos inspiramos nos ecossistemas naturais. Contudo, não existe uma receita pronta e a análise de dados é fundamental para elaborar o design próprio mais adequado para cada sistema produtivo.

Tanto é fato que a Pretaterra é um hub de inteligência agroflorestal, tendo implementado mais de 100 projetos dentro e fora do Brasil. O Brasil está se tornando vitrine mundial de projetos agroflorestais e estamos construindo um grande banco de dados para que mais produtores adotem este modo de produzir.

AgriBrasilis – O que é e como funciona o projeto Pretaterra?

Paula e Valter – A Pretaterra é uma iniciativa que se dedica à disseminação de sistemas agroflorestais regenerativos, desenvolvendo designs replicáveis e elásticos, combinando dados científicos, informações empíricas e conhecimentos tradicionais com inovações tecnológicas, construindo um novo paradigma produtivo.

Na vanguarda da Agrofloresta, a Pretaterra projetou, implementou e modelou economicamente o design agroflorestal que ganhou, em 2019, o primeiro lugar em Sustentabilidade do Prêmio Novo Agro, do Banco Santander e da ESALQ, com o case “Café dos Contos”, em Monte Sião (MG).

Em 2018, ganhamos o primeiro lugar em negócios inovadores no concurso de startups no Hackatown e, em 2020, fomos finalistas do Prêmio Latinoamerica Verde. Em 2021 a Pretaterra passa a encabeçar a maior iniciativa regenerativa do mundo em sua frente Agroflorestal, a Circular Bioeconomy Alliance.

É esse o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Pretaterra, uma iniciativa que se dedica à construir um novo paradigma produtivo que não se baseie somente na monocultura.

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