Altas tarifas de importação limitam acesso ao mercado tailandês. Tailândia é um dos maiores importadores do complexo soja do Brasil. Outro produto com potencial na Tailândia são os lácteos.
Maria Eduarda de Serra Machado é adida agrícola pelo Brasil em Bangkok, Tailândia. Machado é médica veterinária e Mestre em Inspeção e Tecnologia de Produtos de Origem Animal pela Universidade Federal Fluminense.
AgriBrasilis – Qual é o perfil da produção agrícola da Tailândia?
Maria Machado – A Tailândia é a segunda maior economia do Sudeste Asiático, com PIB nominal de cerca de US$ 500 bilhões em 2020. Agricultura do país é competitiva, diversificada e especializada. Com exportações bem-sucedidas internacionalmente, o país está entre os 15 maiores exportadores de alimentos do mundo. O setor agrícola responde por aproximadamente 9% do PIB, com cerca de 40% da força de trabalho do país. Maioria dos agricultores tailandeses possui menos de oito hectares.
Commodities agrícolas produzidas no país incluem pesca, tapioca, borracha, arroz, grãos e açúcar. Exportações de atum enlatado, abacaxi e camarão congelado, bem como de carne de aves são destaque por causa do crescente polo agroindustrial do país.
AgriBrasilis – Qual a importância das relações comerciais entre os setores agrícolas do Brasil e Tailândia?
Maria Machado – Tailândia é maior importador de produtos do agronegócio brasileiro do Sudeste Asiático, a Tailândia segue tendência do mercado asiático. Até o primeiro semestre de 2021, a Tailândia importou US$ 1,416,139 bilhões, um aumento de 27,05% em comparação com 2020. Isto representa uma participação no comércio tailandês de 2,40% para o Brasil.
Produtos do complexo da soja foram os mais exportados do Brasil para Tailândia no primeiro semestre de 2021, com aumento de 26,45% em comparação a 2020. Também aumentaram exportações de produtos florestais, couro, carne bovina, algodão, cereais, produtos hortícolas, leguminosas, raízes e tubérculos.
AgriBrasilis – Recentemente, foi feita a abertura para a carne bovina brasileira no país. Qual é a importância dessa abertura?
Maria Machado – A presença da carne bovina brasileira na Tailândia reforça nossa participação no Sudeste Asiático.
O setor de carnes brasileiro vê a Tailândia como importadora de miúdos, mas existe interesse dentro do país na carne industrializada e premium. Tailândia tem um mercado de pequeno porte, mas está em franco crescimento para produtos de alto valor agregado. No momento, o Brasil tem apenas cinco estabelecimentos aprovados para exportar carne bovina para a Tailândia.
Desafio será tornar competitivo o acesso ao mercado tailandês, tendo em vista que a tarifa de importação para carne bovina congelada é de 50% e para miúdos é de 30%. O Brasil não tem acordo de livre comércio com a Tailândia e nem com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
AgriBrasilis – Qual é o perfil das importações e exportações do agro entre os dois países?
Maria Machado – O Brasil se destaca apenas nas commodities do complexo soja, produtos florestais e algodão, com aumento recente da participação da carne bovina.
Brasil exporta mais produtos agrícolas para a Tailândia do que importa. Produtos agrícolas tailandeses mais exportados para o Brasil, são a borracha e o pescado.
AgriBrasilis – A Tailândia é um dos maiores importadores do complexo soja do Brasil. Quais outros produtos do agro que têm potencial de crescimento nas exportações?
Maria Machado – O Brasil tem potencial de crescimento para produtos da nossa biodiversidade, como o açaí, conhecido na Tailândia e vendido em diversas formas. No entanto, o tailandês não sabe que o fruto é originário da Amazônia, e muito menos que faz parte de uma cultura extrativista, inserida no conceito de sociobiodiversidade.
Outro produto com potencial na Tailândia são os lácteos. O certificado sanitário brasileiro foi aceito pelas autoridades sanitárias tailandesas em 2020, sendo o mercado aberto para lácteos classificados como “Alimentos de Qualidade e Padrão Prescritos”.
Dentre os produtos lácteos mais exportados pelo Brasil para Tailândia entre 2017 e 2020, encontram-se: queijos; leite e creme, concentrado ou contendo açúcar ou outro tipo de adoçante; e leite e creme, não concentrado ou não contendo açúcar ou outro tipo de adoçante.
Finalmente, destaco o nosso café especial: um dos melhores para fazer blend com o café tailandês. No entanto, uma das grandes barreiras para a ampliação de mercado para o café são os impostos, já que a tarifa aplicada é de 90%.