“estudos apontam que seria necessário investimentos de R$ 10 bilhões ao ano, por 10 anos, para zerar este déficit até 2030”
Além dos cuidados com a lavoura, a armazenagem de grãos é outro fator importante para garantir a rentabilidade da atividade agrícola para o produtor rural.
Enquanto nos Estados Unidos é cultural que cada produtor tenha seu silo, no Brasil os custos de tal investimento e a falta de maiores recursos financeiros ofertados de maneira acessível aos produtores faz deste um grande gargalo para nossa agricultura.
Tadeu Vino é Superintendente Comercial e de Marketing da Kepler Weber
A AgriBrasilis entrevistou Tadeu Vino, da Kepler Weber – empresa de soluções pós-colheita, para beneficiamento, armazenagem de grãos e movimentação de granéis-, para comentar quanto custa ter um sistema de armazenagem, e quais as vantagens, além de fornecer um panorama da situação no Brasil e das novas tecnologias do setor.
Tadeu é Superintendente Comercial e de Marketing da Kepler Weber, formado em engenharia agrícola pela Unicamp. Tem quase 30 anos de empresa e se tornou o principal gestor da área, em 2010.
AgriBrasilis- Qual a importância estratégica da armazenagem para o agro?
Tadeu Vino – O Brasil tem repetido nos últimos anos produções recordes de grãos, o que vai ao encontro da necessidade mundial por maior disponibilidade de alimentos. Na medida em que o agronegócio ganha amplitude no campo, cresce também o déficit de armazéns para guardar esta produção. Para este ano, segundo estimativas, o déficit da armazenagem deve atingir 85 milhões de toneladas.
Levantamentos recentes, feitos pela Câmara Setorial de Equipamento para Armazenagem de Grãos (CSEAG), da Abimaq, indicam que seriam necessários cerca de R$ 10 bilhões ao ano, por 10 anos, para zerar este déficit até 2030. Apesar dos recursos disponibilizados pelo Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), safra 21/22, serem de R$ 4,12 bilhões, ainda estamos distantes do volume necessário. Recentemente, o Banco do Brasil e o New Development Bank (NDB) – Banco de Desenvolvimento dos Brics, anunciaram um entendimento para destinar mais R$ 1,5 bilhão para construir armazéns.
São iniciativas que evidenciam uma preocupação em estimular o desenvolvimento do pós-colheita, algo que o próprio produtor já se deu conta da importância e tem feito investimentos com recursos próprios, inclusive. O agricultor que tem onde guardar o que colhe não fica exposto ao ‘preço de balcão’, pago no auge da safra, e também não sobrecarrega a logística do país tendo que transportar todo volume colhido em um curto tempo. É importante dizer também que a armazenagem livra o produtor de riscos climáticos na hora da colheita. Hoje, menos de 20% da estrutura de armazenagem está perto das fazendas, enquanto que Estados Unidos e Canadá têm 56% e 80%, respectivamente.
Outro ponto fundamental é a questão da segurança alimentar do país. Sem ter onde guardar o que produz, o Brasil acaba diante de riscos de abastecimento, caso haja alguma quebra significativa de safra.
AgriBrasilis – Qual o custo de um silo? Qual sua durabilidade, custo de manutenção e o tempo de amortização?
Tadeu Vino –O investimento em uma unidade de beneficiamento e armazenagem de grãos gira em torno de R$ 700,00 a R$ 1.000,00 por tonelada armazenada e pode ser totalmente financiado pelo PCA, por exemplo. O prazo máximo para pagamento estipulado pelo BNDES é de 12 anos. Vale destacar que a armazenagem representa uma maximização dos lucros para o agricultor, que pode chegar a 15%. Ou seja, o produtor consegue, em cinco ou seis anos, recuperar o valor investido na unidade. Quando bem conservado, com manutenções preventivas, uma unidade de armazenagem pode durar mais de 30 anos. A Kepler possui canais diretos com os principais agentes financeiros. Com isso, conseguimos auxiliar o produtor na tomada de recursos para o investimento em armazenagem de grãos de forma segura e ágil.
AgriBrasilis – Quanto da colheita é armazenada e quanto se perde por falta de armazenagem adequada?
Tadeu Vino –A safra brasileira de 20/21 será ao redor de 260 milhões de toneladas e temos uma capacidade estática para armazenar de 175 milhões de toneladas de grãos, quando o ideal seria, segundo a Conab, manter uma capacidade instalada 20% superior a produção total de grãos, ou seja, 312 milhões de toneladas. Na safra 2020/21, estima-se um déficit de cerca de 85 milhões de toneladas, o que representa um aumento em relação ao ano passado, quando estava estimado em 80 milhões de toneladas. Ainda que as perdas com transporte e armazenagem inadequada sejam percentualmente pequenas, quando se considera o valor total gerado pelo agronegócio brasileiro, o país atinge cifras importantes, que dependem de investimento em pós-colheita para serem mitigadas.
AgriBrasilis – Por que o Brasil ainda armazena pouco?
Tadeu Vino – Historicamente o produtor investiu em expansão de área, por meio da aquisição de novas propriedades. Mas isso começou a mudar nos últimos anos, impulsionado pelo avanço da tecnologia no campo, que permite ampliar a produção sem avançar sobre fronteiras agrícolas. Aliado a isso, o produtor passou a viver uma alta demanda global por alimentos, com commodities valorizadas, e ele despertou para a possibilidade de melhorar os ganhos antes da produção sair da porteira da fazenda. Com armazenagem, o produtor ganha flexibilidade durante a colheita e poder na hora de vender a produção com melhores preços, o que muda a estratégia de negociação da sua safra. É uma mudança cultural, que já está a caminho e que mantém este mercado de pós-colheita aquecido.
AgriBrasilis – A KW tem algum projeto para incentivar a adesão às suas tecnologias?
Tadeu Vino – Nos últimos anos, a Kepler Weber vem mantendo investimentos constantes no desenvolvimento de novos produtos e em inovação. A plataforma Sync, desenvolvida pela companhia, já está sendo embarcada nas unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos, o que permite transformar o pós-colheita em armazenagem 4.0. É um sistema integrado que permite aos produtores ter, na palma da mão ou no computador, todo o monitoramento da operação da planta. Na prática, ela possibilita melhorar a eficiência energética e o desempenho geral das unidades armazenadoras, reduzindo custos, e oferecendo maior segurança para os clientes e para os colaboradores que atuam no local. Tecnologia é um caminho para o futuro e a Kepler Weber, como líder no mercado Latino Americano, tem o compromisso de disponibilizar para seus clientes um caminho para conduzir o pós-colheita na direção da inovação, como aliada da eficiência aos produtores.
AgriBrasilis – Que novas tecnologias estão sendo desenvolvidas no setor?
Tadeu Vino – A Kepler Weber acaba de lançar o KW MAX, que é um sistema de secagem pensado e desenvolvido para trazer benefícios econômicos na sua operação, bem como garantir melhor qualidade de grãos secos, características que impactam diretamente em melhores ganhos para o produtor. Também este ano, a companhia apresentou ao mercado um novo sensor de nível, de ondas de radar, que monitora o volume e a movimentação de grãos armazenados. Tanto o sistema de secagem quanto o sensor atuam em sintonia com o quadro de comando e a plataforma KW Cloud – Sync, na qual os dados são disponibilizados e podem ser acessados pelo produtor em tempo real.