Prejuízos entre 10% a 25%, e até morte de plantas em ataques severos.

Lucia Vivan, Fundação MT
O percevejo barriga verde (Diceraeus melacanthus) ataca o milho em suas fases iniciais, causando problemas de formação como perfilhamento e improdutividade. Todas as regiões produtoras de milho no Mato Grosso apresentaram presença de população do percevejo nas últimas duas safras, resultando em aumento de aplicações de inseticida e mesmo perdas onde o manejo não foi feito de maneira correta.
Em entrevista exclusiva para AgriBrasilis, Lucia Vivan, pesquisadora da Fundação de Apoio a Pesquisa Agropecuária do Mato Grosso, fala sobre os problemas causados pelo percevejo e métodos de manejo.
Lucia Vivan é formada em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina, com mestrado em Fitossanidade pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e doutorado em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná e Pós-doutorado em Entomologia pela ESALQ (2010).
AgriBrasilis – Como é a ação do percevejo barriga-verde junto à planta de milho e quais os danos e prejuízos?
Lucia Vivan – Os adultos e ninfas de Diceraeus melacanthus (percevejo barriga-verde) se alimentam na base de plântulas de milho injetando os estiletes através da bainha até as folhas internas, o que causará a lesão que é percebida visualmente após a expansão dessas folhas. Esse ataque ocorre poucos dias após a emergência da planta de milho e pode causar morte da plântula ou da gema apical o que acarretará um perfilhamento dessa planta, e uma planta improdutiva. Algumas folhas do cartucho não conseguem desenrolar e apresentam um aspecto de encharutamento com amarelecimento das folhas.
Os prejuízos podem variar de 10% a 25% ou morte de plantas em ataques severos.
AgriBrasilis –Há uma estimativa da área afetada no Mato Grosso?
Lucia Vivan – Nas duas últimas safras todas as regiões produtoras de milho apresentaram presença de população de percevejo barriga verde e, algumas regiões com populações altas onde o manejo dessa espécie não foi bem realizado ocorreram perdas significativas.
AgriBrasilis – Quais outras culturas também são atacadas?
Lucia Vivan – O percevejo barriga verde é um inseto polífago e com isso sobrevive em diferentes culturas, coberturas utilizadas na entressafra, como também grande parte das plantas daninhas. A cultura da soja é um hospedeiro onde esse inseto consegue se desenvolver e aumentar populações para as áreas com milho na sequência.
AgriBrasilis – Quais os métodos de controle e manejo?
Lucia Vivan – O controle do percevejo barriga verde na cultura do milho deve ser com o uso de tratamento de sementes com produtos neonicotinoides e aplicações logo após a emergência em 3 a 5 dias após o plantio e repetidas aos 7 a 10 dias após o plantio. A necessidade de mais aplicações dependerá da pressão da praga na área. O dano nas plantas de milho causado por percevejo barriga verde é até o estágio V5. A partir do momento que a planta tem um engrossamento do caule maior de 1 cm ocorre redução de dano.
Para o manejo de percevejo barriga verde no sistema de produção deve-se manejar essa população durante todo o período do ano. Áreas com presença de plantas daninhas irão favorecer o desenvolvimento dessa praga, oferecendo alimento e local de oviposição, por isso áreas em pousio tem grande probabilidade de manter populações dessa espécie. Antes do plantio da soja é importante avaliar a palhada e verificar se tem a presença do inseto, pode-se optar por uma dessecação pré-plantio e, também uso de tratamento de sementes focando o percevejo barriga verde no plantio da cultura da soja.
Durante o desenvolvimento da cultura da soja é importante avaliar a população de barriga verde, principalmente se a cultura safrinha for o milho. No entanto, essa espécie se mantém mais na palhada, o que pode dificultar seu monitoramento.
Antes do plantio do milho também deve-se monitorar a população de percevejo barriga verde na palhada e, pode-se realizar uma aplicação logo após o plantio do milho.
AgriBrasilis – A quantidade de defensivos agrícolas aplicados para o controle desta praga aumentou de forma significativa?
Lucia Vivan – Sim, nos últimos anos tem-se realizado maior número de aplicações visando essa praga.
Na maioria das áreas se tem feito 3 a 4 aplicações, no entanto muitas vezes se tem o dano, isso devido a altas populações presentes nas áreas, decorrente do controle não realizado dentro do sistema de produção, permanência de plantas daninhas nas áreas e tigueras de milho.
AgriBrasilis – Qual o motivo deste surto de infestação?
Lucia Vivan – Hoje o sistema de produção propiciou a permanência do inseto nas áreas. Hoje se tem a intensificação do cultivo de milho principalmente na safrinha, o rotação e sucessão de culturas tem sido modificada em relação a composição, abundância e capacidade de adaptação de diferentes espécies de pragas. Essas mudanças, podem, ter desencadeado o crescimento populacional de algumas espécies de pragas e, dentre essas o percevejo Diceraeus melacanthus.
Áreas com plantas daninhas remanescentes e tigueras de milho também propiciam a permanência e crescimento dessa espécie.
