Ao longo do mês de março a cidade de Sorriso (MT) enfrentou um período de chuvas que arrasaram lavouras de soja em fase de colheita, causando grandes prejuízos aos produtores da região.

Em entrevista à AgriBrasilis, Adriano Gomes explicou os motivos das perdas nas lavouras e as alternativas do produtor para prevenir os danos por esse tipo de fenômeno.
Adriano é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná e, atualmente, é o analista responsável pelos levantamentos de mercado interno, safra e comercialização de soja e milho, além de atuar nas operações em bolsa e no relacionamento com os clientes da Assessoria AgRural.
AgriBrasilis – Qual a área estimada que foi inundada?
Adriano Gomes – Esse tipo de levantamento é muito difícil de ser feito. Em poucos dias não é possível ter um número exato, mesmo porque as chuvas ocorrem quase que diariamente e podem aumentar a área afetada. Outra questão é que as áreas afetadas estão dentro de propriedades privadas, o que dificulta ainda mais a avaliação no local. O que podemos dizer é que as chuvas foram muito frequentes, em volumes bem expressivos, sem dar a chance de o produtor entrar na lavoura no momento decisivo para a colheita em alguns pontos do médio-norte do estado. O grande problema inicial foi no atraso do plantio, que foi muito concentrado entre a ultima semana de outubro e a primeira semana de novembro, e a soja que foi plantada nesse período só ficou pronta em meados de fevereiro para início de março, que foi quando ocorreram essas chuvas em grande volume. Porém, apesar do atraso no plantio, o clima favoreceu a safra durante o desenvolvimento da planta, principalmente no enchimento de grãos, o que deu um fôlego para o produtor e recuperou o potencial da safra, até adiantou um pouco a colheita, visto que, quando ocorreram as fortes chuvas, o produtor tinha colhido mais do que o previsto.
AgriBrasilis – Qual a dimensão do prejuízo que os produtores tiveram com esse fenômeno?
Adriano Gomes – Não foi toda a safra que foi prejudicada. O terço final da colheita apresenta mais problemas com o excesso de umidade e problemas com a qualidade dos grãos. Alguns talhões, que apresentavam rendimento por volta de 61/62 sacas por hectare, após o acometimento pelas chuvas a produtividade caiu para cerca de 55 sacas por hectare, levando em consideração que a soja já estava dessecada e pronta para colher. Portanto nesses casos houveram perdas significativas, pois há desconto por perda de qualidade e grãos avariados na hora da venda, e no caso dos produtores que não contam com estruturas de armazenamento na fazenda perdem mais na padronização dos grãos. Além disso há a perda de densidade nos grãos, ocasionado pelo excesso de chuva na fase final da produção. Portanto, somando essas perdas, há um prejuízo significativo para o produtor.
AgriBrasilis – Existem meios de se prevenir contra situações como esta?
Adriano Gomes – O que o produtor costuma fazer até para prevenir que uma boa parte da safra esteja em uma mesma fase de desenvolvimento tanto durante a fase de enchimento de grãos quanto a fase reprodutiva da soja, que necessita de chuva e caso ocorra um veranico nessa época causaria uma redução do potencial produtivo, e também para toda a safra não ficar pronta de uma só vez e causar problemas na colheita, é o escalonamento de plantio, porém, como no ano passado tiveram problemas com falta de chuvas no início da safra, o produtor optou por plantar tudo de uma só vez quando as primeiras chuvas ocorreram, e então uma boa parte da produção ficou pronta na mesma época e aí ocorreram as chuvas.
Outras alternativas que o produtor possui para poder se prevenir desses fenômenos é o monitoramento climático e levantamento do histórico da região. Infelizmente esse ano está sendo bem atípico quanto a ocorrência e o volume de chuvas, e atrapalha muito até o produtor que possui essas alternativas.
AgriBrasilis – O seguro rural cobre as perdas causadas por este fenômeno natural?
Adriano Gomes – Depende de cada apólice de seguro que o produtor obter. Geralmente o seguro cobre essas perdas por danos naturais, mas a maioria das seguradoras levam em conta a janela ideal de safra de cada região. Então, por exemplo, o produtor que atrasou muito o plantio, passou da janela de colheita e, infelizmente, passa por uma situação como essa, não será coberto pela seguradora ou terá cobertura em partes de sua produção, a qual foi colhida no período certo, mas foi acometida pelo fenômeno.

