Máquinas autônomas. “ A eficiência operacional e os níveis de qualidade que são alcançados, justificam todo investimento.”
Entrevista exclusiva com Fernando Gonçalves, presidente da Jacto.

Fernando Gonçalves, Presidente da Jacto
Fernando Gonçalves é engenheiro mecânico, pós-graduado em negócios pela Universidade de Harvard. Antes de assumir a direção da companhia, Fernando atuou no desenvolvimento de produtos em máquinas agrícolas, inovação, gestão industrial e gestão de empresas.
A Jacto foi fundada em 1948, é uma das principais empresas na fabricação de máquinas agrícolas no País, atuando em mais de 100 países.
AgriBrasilis – Quais as tecnologias “do futuro” que já fazem parte do dia a dia do agricultor?
Fernando Gonçalves – Em termos de tendências e novas tecnologias – algumas já bem disseminadas e que estão sendo vistas em feiras agrícolas nacionais e internacionais – estão veículos autônomos, drones, ferramentas que possibilitam experiências múltiplas e muitas startups voltadas para o agronegócio, oferecendo soluções para culturas, máquinas e produtores.
De forma geral, acredito que a integração de sistemas é um desafio para o agronegócio e que, entre os fatores de sucesso para a IoT (Internet of Things) na agricultura, está a amplitude em escala e a massificação do uso, com atenção à formação e qualificação profissional para pleno uso dessas tecnologias. Além disso, se estamos falando de um futuro da agricultura baseado na digitalização, precisamos de atenção, sobretudo, no que diz respeito à infraestrutura para a conectividade no campo.
Falando em automação, a Jacto lançou sua tecnologia autônoma para pulverização, o Arbus 4000 JAV. O projeto JAV – Jacto Autonomous Vehicle – teve início em 2008 e, desde então, a empresa já apresentou ao mercado dois protótipos do equipamento. Os testes foram conduzidos nas culturas de silvicultura e citros, sendo agora o modelo Arbus 4000 JAV, a versão apresentada como um produto com viabilidade comercial que estará disponível na forma de um serviço completo para o produtor rural logo em breve.

Foto cedida pela Jacto
AgriBrasilis – De que forma máquinas autônomas podem contribuir na lucratividade da lavoura?
Fernando Gonçalves – Como as máquinas autônomas possuem mais sistemas, tecnologias e softwares embarcados, elas apresentam um custo maior que seus equivalentes tradicionais, ou seja, o custo de aquisição é maior e sim, essa é uma barreira de entrada. Sempre vem a pergunta: “como justificar o investimento?”. Se formos olhar as experiências da indústria, por exemplo, as máquinas de usinagem CNC e robôs de solda. Nesses casos, passado décadas, o custo de aquisição ainda é maior que o convencional, contudo, a eficiência operacional e os níveis de qualidade que são alcançados, justificam todo investimento.
No caso da agricultura, enxergamos que o processo é o mesmo. Olhamos para a eficiência dos equipamentos atuais. Por uma série de motivos, inclusive falta de visibilidade, os equipamentos trabalham efetivamente fazendo sua atividade fim em torno de 40%. E a esmagadora maioria não tem consciência desses números. Temos ainda o tema da Qualidade do trabalho. Por exemplo: quanto uma operação de aplicação de defensivo com deficiência prejudicou o resultado da lavoura? Podemos inferir, mas é muito difícil saber o que teria ocorrido se algo fosse melhor.
Com as máquinas autônomas, consegue-se uso da capacidade muito maior. Como as operações são automáticas e todo o “filme” registrado, temos uma operação auditável e com qualidade muito maior. O uso de soluções da agricultura com o conceito de gestão à vista e suporte da conectividade no campo, permite o acompanhamento das operações e tomadas de decisão ao longo dos processos trazendo uma visão holística não só daquela operação, mas de toda a produção, isso traz a gestão para novos patamares.
AgriBrasilis – Qual o papel destas ferramentas na busca por um agro mais sustentável?
Fernando Gonçalves – Nesse contexto, também existe um forte apelo às questões de sustentabilidade, que são absolutamente necessárias e que já impactam o produtor rural e a forma como ele produz, como as questões de rastreabilidade dos alimentos.
A população quer saber o que estão consumindo e quais os recursos que foram utilizados no processo produtivo daquele alimento. Por isso, tecnologias que permitam um acompanhamento preciso, do campo à mesa, são cada vez mais uma exigência do mercado consumidor.
Dessa forma, defendemos que é preciso mudar todo ecossistema, com aprendizados e experiências coletivas, pessoas protagonistas, que vão assumir o papel de traduzir essas novas ferramentas para o dia a dia do campo. Transformar a tecnologia, que é muito complexa em algo que seja simples e que o agricultor consiga usar.
Hoje temos como um ponto muito claro que essas tecnologias para massificar precisam mostrar de forma muito fácil os ganhos. Nesse sentido, destacamos o uso do piloto automático, que diminuiu consideravelmente o amassamento e a sobreposição de aplicações de insumos durante a pulverização e ilustra de forma muito clara essa questão de ‘enxergar os ganhos’. Essas tecnologias já estão bastante difundidas e presentes. Precisamos caminhar dessa forma com as demais. E para se ter uma ideia da complexidade desse cenário, em um pulverizador nosso, o Uniport 3030, a cada 5 segundos são enviadas para nuvem mais de 300 tipos informações que podem fornecer predição e correção do trabalho da máquina na lavoura, em tempo real.
AgriBrasilis – Como o produtor deve se preparar para adotar o uso destas ferramentas?
Fernando Gonçalves – É verdade que essas tecnologias estão cada vez mais presentes no campo. No entanto, ainda existe certo temor quanto à disponibilidade de mão de obra capacitada para operar essas tecnologias.
A capacitação é fundamental. Além de aumentar a produtividade da unidade do produtor rural, melhora as condições de trabalho e a remuneração, atraindo ainda mais profissionais. Muitas empresas, e essa é uma premissa da Jacto, que fornecem as tecnologias, oferecem também o treinamento necessário para as utilizar. O nosso aplicativo Jacto Connect contempla módulos de treinamentos e capacitação.
