Safra 2020/21: Brasil caminha para alcançar novo recorde na produção de grãos

Courtesy of André Shimohiro
Publicado em: 2 de dezembro de 2020

Superintendente de Informações do Agronegócio da Conab comenta sobre a previsão.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou seu segundo Levantamento da safra de grãos 2020/21, e estimaram que o Brasil deverá alcançar 268,9 milhões de toneladas de alimentos produzidos, representando 4,6% a mais do que a temporada 2019/2020 ou 11,9 milhões de toneladas. Para comentar sobre o novo recorde, o Superintendente de Informações do Agronegócio da Conab cedeu a seguinte entrevista para a AgriBrasilis.

Cleverton Tiago Carneiro de Santana é formado em Agronomia pela Universidade do Estado do Mato Grosso, e possui mestrado em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é Superintendente da Área de Levantamento e Avaliação de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

 

AgriBrasilis – A previsão da Conab é de safra recorde. Quais fatores favoreceram este incremento?

Cleverton Santana – Nesta safra, apesar do incremento de área favorecido pelos bons preços pagos aos produtos rurais, a produtividade é o fator mais relevante no aumento da produção agrícola. Várias regiões do país tiveram intempéries climáticas que afetaram a produtividade, mas o mais abrangente ocorreu na Região Sul. A expectativa de, nesta safra, termos produtividade próxima do normal, além do aumento de área, resultará numa nova safra recorde.

 

AgriBrasilis – Como são realizados os cálculos de previsões de safra fornecidas mensalmente a nível nacional?

Cleverton Santana – 

1- ESTIMATIVA INICIAL POR MODELOS ESTATÍSTICOS → Área e Produtividade

A cada nova safra, são geradas estimativas iniciais com base em modelos estatísticos que consideram todo o histórico da Conab – para soja, são 43 anos. Esses modelos fazem apontamentos de área a ser cultivada e produtividade.

2- “PACOTE TECNOLÓGICO” → Produtividade

Continuamente, a equipe de campo da Conab acompanha o “pacote tecnológico” usado pelos agricultores, o que lhes dá base para o cálculo dos custos de produção e também sobre a produtividade a ser obtida.

3- ACOMPANHAMENTO AGROMETEOROLÓGICO E ESPECTRAL → Produtividade

Em parceria com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a Conab acompanha semanalmente o clima e seus impactos em microrregiões. Com a Universidade de Maryland, a Conab mantém parceria para o monitoramento quinzenal dos índices de vegetação (NDVI) das principais culturas do País. 

Com o objetivo de se incorporar mais informação espectral à estimativa de produtividade, a Conab tem trabalhado em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária, usando o sistema WebAgritec para monitorar as culturas agrícolas.

4- MAPEAMENTO AGRÍCOLA → Área

São utilizadas imagens de satélites para a estimativa das áreas cultivadas. O procedimento é feito em duas etapas. Na primeira, com base em imagens de baixa resolução, é feita a estimativa macro da área com soja. Posteriormente, são analisadas imagens de alta resolução e feitas correções da área inicial. Nesta etapa, são sorteados pontos que são visitados pelos técnicos a fim de se ter a validação do mapeamento automatizado, ou seja, é confirmado in loco que tal registro de imagem corresponde de fato a cultura avaliada.

5- AGENTES COLABORADORES → Área, Produtividade e Produção

A equipe de campo da Conab se reúne periodicamente com produtores e técnicos para coletar suas informações objetivas e percepções sobre calendário de plantio-colheita, condições das lavouras, área, produtividade e produção a ser obtida. Com base nessas informações, a Conab realiza ajuste qualitativo das estimativas.

Até a safra 2018/19, o registro era feito em formulários de papel e, posteriormente, incluído no sistema, tornava mais lento o processamento e divulgação dos dados. A partir de 2019/20, as informações são registradas diretamente no sistema da Conab, por meio de tablets que os técnicos têm em mãos, e transmitidas online (onde se tem internet).

A Conab conta, ao todo, com quase mil colaboradores. Em seu conjunto, esses produtores e técnicos detêm informações referentes a, no mínimo, 90% da área cultivada com os 16 grãos acompanhados em todo país. Em Mato Grosso, por exemplo, eles têm dados referentes a cerca de 90% da área de soja; em milho, a abrangência é de 100%.

6- ESTIMATIVA OBJETIVA DA PRODUTIVIDADE – “CROP TOUR” → Produtividade

A equipe vai a campo coletar e contabilizar detalhes de amostras. Procede-se, por exemplo, à contagem de pés por metro linear, espaçamento entre linhas, contagem de vagens e de grãos por vagem. As informações são registradas diretamente no sistema da Conab, por meio de tablets.

O “crop tour” é realizado na fase de finalização do enchimento do grão: começa em janeiro em Mato Grosso, se estende para o Sudeste, Sul e retorna para o Centro-Oeste, terminando em março no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

7- ANÁLISE DE DISPERSÃO DOS DADOS

Todo o conjunto de dados, obtidos com colaboradores e registros específicos em campo, é submetido a tratamento estatístico que elimina “pontos dispersos”, de modo a se ter mais consistência e normalização dos dados efetivamente considerados para as estimativas.

 

AgriBrasilis – O que se pode dizer dos resultados obtidos na safra de grãos passada?

Cleverton Santana – De certa forma, foi uma safra relevante. Alcançamos recorde de produção em várias culturas (soja, milho, algodão, amendoim). A safra de soja, por exemplo, poderia ter sido ainda maior, mas houve perdas relevantes no Rio Grande do Sul, principalmente, por causa das condições climáticas.

 

AgriBrasilis – Como tem sido a relação de área de pecuária x área de agricultura nos últimos anos? Qual é a tendência futura?

Cleverton Santana – Ainda não acompanhamos sistematicamente os dados de pecuária. A pecuária fará parte das análises da Conab a partir de 2021. Mas há um movimento intenso de redução de área de pastagens que tem sido reconvertidas para a produção de grãos. A tendência é que isso continue no futuro.

 

AgriBrasilis – Quais serão os desafios para agricultura brasileira para seguinte safra (2021/22)?

Cleverton Santana – Os principais seriam reduzir os custos, sem perder a eficiência de produção; gestão da lavoura e gestão de riscos em tempos de incertezas climáticas, sobretudo em uma safra que será influenciada pelo La Niña; e conseguir uma boa comercialização do produto, aproveitando a atual alta dos preços.