“Percebemos a oportunidade de plantar oliveiras influenciados pelo plantio no Uruguai, que na época estava em rápida expansão.”
Fernando Rotondo é agrônomo pela Universidad Nacional Agraria “La Molina” do Peru, mestre em gestão internacional e especializado em olivicultura pelo Instituto Andaluz de Investigación y Formación Agraria, Pesquera, Alimentaria y de la Producción Ecológica, da Espanha.
Rotondo lidera a OlivoPampa, empresa familiar brasileira produtora de azeitonas de mesa e azeites do tipo extra virgem, de qualidade superior, em Sant’Ana do Livramento, Rio Grande do Sul.
AgriBrasilis – O Brasil não tem histórico de cultivo de olivas. O que levou o senhor a decidir pelo cultivo no Rio Grande do Sul?
Fernando Rotondo – Percebemos a oportunidade de plantar oliveiras influenciados pelo plantio no Uruguai, que na época (2005-2005) estava em rápida expansão. Isso ocorreu alguns anos antes do início do plantio no Brasil.
A similitude do clima na região da fronteira do Rio Grande do Sul com diversas regiões do Uruguai foi um indicador da viabilidade da oliveira aqui no paralelo 31 Sul. Além disso, a região é um importante polo vitícola com informações muito valiosas geradas sobre horas de luz, horas de frio (abaixo de 12 graus), calor no verão, amplitude térmica, etc. Também detectamos na época alguns pioneiros na região de Caçapava e Cachoeira do Sul.
AgriBrasilis – Quais as características de clima e solo necessárias para o bom desenvolvimento das oliveiras?
Fernando Rotondo – Principalmente acúmulo de horas de frio abaixo de 12 graus e estações bem definidas, além de usência de chuvas no período de colheita e amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite).
Porém, nem tudo é bom: um fator negativo que temos aqui na região são alguns anos com geadas tardias na primavera. As geadas queimam a florada de primavera. Além disso, às vezes chove no verão, o que aumenta a incidência de doenças e pragas.
AgriBrasilis – Do total da área plantada, que proporção é para produção de azeite e quanto é para o consumo em conserva?
Fernando Rotondo – Aproximadamente 30 % do olival da OlivoPampa foi plantado com variedades adequadas para azeitonas de mesa, entre elas: Manzanilla, Picual, Ascolana, etc. salientando que essas variedades também são próprias para produzir excelentes azeites.
O Brasil é um grande importador e consumidor de azeites e também um grande consumidor de azeitonas.
AgriBrasilis – Quais as principais pragas e doenças que afetam o cultivo de oliveiras?
Fernando Rotondo – A cultura das oliveiras é afetada por diversas doenças fúngicas decorrentes da umidade do ambiente e temperaturas no inverno e primavera: a antracnose, olho de pavão, emplomado, etc.
Há necessidade de aplicar produtos nos inícios das infestações, salientando que existem muitos produtos para olivicultura orgânica, que não deixam resíduos na fruta.
Um fato positivo é que no Brasil não ocorrem importantes doenças e pragas epidêmicas das regiões produtoras: mosca da oliveira, tuberculose, etc. Portanto, esse não é um fator limitante no Brasil.
AgriBrasilis – Quais as tendências do mercado oleícola para os próximos anos?
Fernando Rotondo – Há uma tendência estável para os azeites comuns (clássicos), muitas vezes rotulados erroneamente, e é crescente o segmento premium, que foca num público de apreciadores de qualidade e alimentação saudável. Há muito espaço para desenvolver uma estratégia setorial de educação ao consumidor. O segmento premium é novo no mundo dos azeites , inclusive nos países tradicionalmente produtores.
AgriBrasilis – Por que o azeite do Brasil está sendo tão premiado e apreciado?
Fernando Rotondo – Na minha visão, alguns dos novos olivicultores brasileiros se inseriram no segmento premium para se diferenciar dos azeites comuns de baixa qualidade, também denominados clássicos. Esses azeites chegam ao Brasil rotulados erroneamente ou no limite da classificação entre virgens (com algum defeito) e extra virgens (sem defeitos).
Houve uma tendência de aprendizado com líderes mundiais do segmento em diversos países e disposição de testar a qualidade dos produtos brasileiros nos concursos internacionais, porém ainda estamos produzindo pouco volume. Esses produtores diferenciados produzem ótimas frutas, sadias, colhidas cedo (fruta mais verde que madura), mas com baixos rendimentos de azeite. Essa é também uma tendência mundial orientada a qualidade e que não é muito antiga, iniciou-se nos 80.
Na comparação com os azeites comuns, clássicos, o azeite bom de colheita temprana , idôneo e bem produzido custa caro. Consequentemente, o foco mercadológico inicial está em apreciadores da gastronomia e da alimentação saudável.
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