China continuará importando soja brasileira

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Publicado em: 5 de outubro de 2021

Produção de soja, milho e farelo deve bater novamente recorde com relação ao ano passado.

 

Luciano Botelho, presidente da divisão de Oleaginosas da ADM América do Sul.

Luciano Botelho, presidente da divisão de Oleaginosas da ADM América do Sul.

AgriBrasilis entrevistou Luciano Botelho, engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e presidente da divisão de Oleaginosas da ADM América do Sul.

Há 20 anos na América do Sul, a Archer Daniels Midland Company (ADM), possui cerca de 50 silos na América do Sul, atuando na Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, comercialização e processamento de grãos, fabricação de óleos vegetais, biodiesel, e insumos para a indústria de nutrição humana e animal, empregando quase 5.000 colaboradores. Está desde 1997 no Brasil, a maior operação sul-americana, com cerca de 3.300 colaboradores.

AgriBrasilis – Qual o panorama do agro na América Latina?

Luciano Botelho – A América Latina é uma região de muitos desafios, especialmente no que tange o desenvolvimento econômico de toda uma cadeia e, claro, não podemos esquecer os impactos da pandemia. No Brasil, a produção de soja, milho e farelo deve bater novamente recorde com relação ao ano passado, o que nos coloca em uma posição bastante favorável nas exportações para a Europa e continente asiático.

Outro ponto importante que vale a pena ser destacado é a transformação digital das empresas, um movimento crescente e acelerado. A iniciativa privada está empenhada em buscar novas parcerias que podem ajudar o agricultor a a melhorar a produção no campo, bem como a vender seus produtos no mercado.

Em fevereiro, a ADM, junto com as principais tradings globais de grãos, lançou uma plataforma digital, com o uso de tecnologia blockchain para facilitar a troca de informações entre importadores e exportadores. Além de reduzir processos repetitivos, manuais, caros e demorados, essa nova maneira de compartilhar dados e construir confiança ajudou não só a desburocratizar parte do processo assim como garantir a comunicação em um ambiente seguro e transparente.

Não menos importante é a questão da sustentabilidade. Empresas e produtores estão também empenhados em garantir uma produção de boas práticas e mais sustentável. Em março passado, atualizamos a nossa nova política de sustentabilidade. Até o final de 2022, a empresa espera alcançar a rastreabilidade total de suas fontes diretas e indiretas ao longo de suas cadeias de abastecimento de soja no Brasil, Paraguai e Argentina. E queremos eliminar a conversão de florestas, ou o desflorestamento, de todas as cadeias de abastecimento da empresa até 2030 em todos os continentes onde temos atuação.

AgriBrasilis – De que forma a disputa China-EUA beneficia ou atrapalha as exportações do agro da América Latina?

Luciano Botelho – Não atrapalha em nada. O Brasil seguirá como um grande parceiro da China nas relações comerciais. Os chineses demandam muita soja para alimentar o rebanho de animais, principalmente o de suínos, que deu sinais de recuperação do surto da peste suína africana que atingiu aquele país no meio do ano. Além disso, como o cenário da pandemia ainda é incerto, observamos a preocupação dos chineses em abastecer os estoques para garantir a segurança alimentar também das pessoas.

Acreditamos que a participação da China nas exportações brasileiras de soja deve se manter pouco acima dos 70%. Importante lembrar que, nos últimos anos, essas exportações também foram mais distribuídas com outros destinos, por exemplo, do continente europeu. E isso é fruto do desenvolvimento de outros corredores de exportações, como o Arco Norte que nos permitiu chegar competitivamente a mais destinos. Mas a China continuará com uma participação maior nas exportações de soja brasileira e o país seguirá como um grande parceiro da China nas relações comerciais.

AgriBrasilis – Como o aumento dos insumos tem refletido no mercado? Quais os motivos do aumento dos preços de insumos?

Luciano Botelho – O mercado de commodities é regido igual aos demais, ou seja, pela lei da demanda x oferta. Com a recuperação chinesa na demanda principalmente por soja e a pandemia, observamos uma maior demanda pelos produtos agrícolas em geral, seja por grãos ou por insumos ocasionando o aumento dos preços.

AgriBrasilis – Quais os impactos dos fenômenos climáticos na produção e estoques de grãos, e o nível de água nos rios em relação aos custos de frete e escoamento da produção?

Luciano Botelho – Lidar com os impactos dos fenômenos climáticos é sempre um grande desafio. Nossa percepção é que o setor se prepara para plantar mais e isso depende, claro, de um clima favorável para conseguir recuperar os estoques a níveis satisfatórios, permitindo assim um equilíbrio de cotações. E isso deve ocorrer em um futuro próximo.

No que concerne ao frete, a pandemia gerou atraso em todo cenário logístico mundial, incluindo movimentação marítima e interna. Vemos um aumento de custo logístico devido aos desafios ocasionados por esses atrasos e menor capacidade de navegabilidade nos rios brasileiros.

AgriBrasilis – Como a quebra de safra do milho e café no Brasil afetou os estoques mundiais e outros países produtores?

Luciano Botelho – Sobre o milho, o mercado esperava que o Brasil exportasse entre 30 e 35 milhões de toneladas. Com a quebra da safra atual, as exportações devem girar ao redor de 15 milhões e essa redução irá impactar os estoques mundiais deste produto.