86% dos vinhos do Chile contém Denominação de Origem

Bodega Cal y Canto Viña Santa Rita
Publicado em: 23 de novembro de 2020

Especialista em vinhos fornece panorama.

O Chile, apesar de não possuir muita área, é um país conhecido por sua vasta variedade climática e territorial, que proporciona diferentes qualidades aos vinhos produzidos, assim, desde 2013, criou-se o sistema de denominação de origem que tem disponibilizado no mercado rótulos de alta qualidade a um custo acessível. Desta forma, a  AgriBrasilis entrevistou Jaime de la Barra, gerente de vitivinicultura da Vinícola Santa Rita, localizada no Vale do Maipo no Chile.

 

 

AgriBrasilis – O Chile é um país com um território que varia principalmente suas latitudes. Como isso influencia a produção de vinho chilena de norte a sul? Como por exemplo Coquimbo, Aconcágua, Vale Central e Região Sul.

Jaime de la barra – Certamente o Chile apresenta grande variabilidade em todo o seu território, se alguém observar o mapa ou ver as fotos do país, pode imediatamente ter uma ideia de tudo o que acontece aqui:

  •  O Sul é frio, com geleiras e neves eternas;
  •  O Norte, com o deserto do Atacama, o mais seco do mundo, com
    precipitação média de 1,5mm por ano;
  •  Cordilheira dos Andes com altura média de 4300 metros;
  •  O oceano Pacífico contorna todo o oeste do país.

 

Com esses dados, pode-se deduzir que no Norte faz calor e no Sul faz frio, no entanto, isso só é verdade nos extremos do país. Na zona central entre as latitudes 32 ° e 37 °, que é onde se encontram 95% dos vinhedos plantados, o mais relevante é a proximidade do mar ou a altura da serra.  O mar é muito frio e apresenta temperaturas médias de 10°C no inverno e 14°C no verão, é como ter um ar condicionado funcionando o dia todo. Por isso, em geral para o cultivo de uvas viníferas, a influência do mar é muito mais relevante do que a latitude. Por exemplo, se no dia 31 de janeiro eu estiver em nosso vinhedo Limarí (400 km ao norte de Santiago e 15 km da costa) às 3 da tarde, a temperatura é 27 ° C. Nesse mesmo dia em Cauquenes (350km ao sul de Santiago, 80km da costa) fazia 36 ° C.

Dessa forma, há cerca de 10 anos atrás, o Chile passou por uma reclassificação de origens, denominando se o vinho pertence à Costa, aos Andes ou se está entre as Cordilheiras, justamente para reconhecer a influência da altura e do oceano.

“A produção nacional de vinhos foi 13,4% menor este ano”

 

AgriBrasilis – O Chile como produtor se destaca no cenário internacional. Quanto movimenta a viticultura anualmente e qual foi a produção total e a exportação na última colheita?

Jaime de la barra – De acordo com o relatório de produção de vinho elaborado pela Agência Chilena de Agricultura e Pecuária (SAG), a produção total de vinho em 2020 atingiu 1.033.722.888 litros, 13,4% inferior ao do ano anterior, dos quais 888.206.705 litros correspondem a vinhos com denominação de origem, equivalentes a 85,9% do total declarado; 121.987.575 litros para vinhos sem denominação de origem, que também inclui vinhos comuns declarados que não especificam a variedade, equivalente a 11,8% do total declarado; e 23.528.608 litros aos vinhos de uva de mesa, equivalentes a 2,3% do total declarado.

Em relação à produção de vinhos com denominação de origem que atingiu 888.206.705 litros, 66,0% equivalente a 586.045.415 litros, correspondeu a vinhos de castas tintas e 34% equivalente a 302.161.290 litros, a vinhos de castas brancas. Ao analisar as produções em relação aos tipos de castas, Cabernet Sauvignon atinge 30,6% da produção total de vinhos com D.O., seguido de Sauvignon Blanc com 14,6%, Merlot com 11,6%, Chardonnay com 9,1%, Carmenere com 7,6% e a variedade Syrah com 5,8%. Adicionalmente, os aumentos de produção mais notáveis ​​correspondem à variedade Moscatel de Alejandría com 26,5% e à variedade Pedro Jiménez com 16,3% em relação à safra 2019.

Viñedos Santa Rita Valle del Maipo

 

AgriBrasilis – Com mais de 135 anos de história, a vinícola está entre as marcas mais admiradas. Quais são os principais tipos de uvas plantadas e qual sua capacidade produtiva?

Jaime de la barra – Santa Rita produz 14 milhões de caixas de 9 litros anualmente e há 6 anos, começamos com um ambicioso plano de renovação de vinhas. Estamos desenvolvendo uma abordagem baseada na ciência, que nos leva do “plantio de uvas” para o “plantio de vinho”. É também o maior projeto focado no Cabernet Sauvignon em uma das melhores regiões vinícolas para esta variedade: Alto Maipo. Muitas das nossas vinhas nesta área foram plantadas nos anos 90, sem os benefícios dos estudos científicos que temos hoje. Os avanços tecnológicos têm permitido realizar estudos de terroir para desenhar novos plantios levando em conta variedades, porta-enxertos e suas particularidades.

Sob este ponto de vista, a vinícola decidiu representar as denominações de origem que prestigiam o nosso país, assim contamos com 600 hectares plantados do Maipo Andes, o mais prestigioso Cabernet Sauvignon do Chile, que dá origem a vinhos nobres como Casa Real e Carmen Gold. Em climas mais frios, temos 90 hectares de Pinot Noir no Vale do Leyda, a 5 km do mar. Como em Casablanca, são 4 vinhedos com um total de 300 hectares de grande qualidade para a produção de castas brancas. No Vale do Apalta, em Colchagua, conhecido por seus climas mais quentes, temos cerca de 100 hectares que incluem vinhedos com mais de 70 anos, de onde vêm os nossos vinhos Pewën de Apalta e Floresta Carmenere.

AgriBrasilis – A maior parte dos vinhos produzidos no Chile são exportados. Quais são as principais diferenças entre o mercado de exportação e o mercado nacional de vinhos?

Jaime de la barra – Sobre o mercado nacional, antes da crise consumíamos 40 litros por pessoa por ano, enquanto
atualmente estamos consumindo 12 litros. Mas por outro lado, como vinícola, estamos muito focados em ganhar espaço no mercado, o desafio é criar novas ocasiões de consumo em que o vinho seja a melhor alternativa. Acredito que na atual crise sanitária, em que por obrigação devemos permanecer em casa, o vinho pode mais uma vez ganhar proximidade e carinho em relação às outras bebidas (pensando sempre no consumo responsável).

Já o mercado de exportação, percebemos que o Chile ainda possui pouco conhecimento como produtor de vinhos de alta qualidade. O desafio incrementar a consideração do comércio nos principais mercados (Estados Unidos, Europa, Ásia. Acho que estamos no caminho certo.