“A valorização do peso argentino teve impacto significativo nos custos internos do setor de insumos…”
Germán Rovetto é gerente de insumos comerciais da fyo, empresa do mercado de grãos e insumos agrícolas da Argentina. Rovetto é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Nacional de Rosário.

Germán Rovetto, gerente de insumos comerciais da fyo
AgriBrasilis – Como a taxa de câmbio do peso argentino está influenciando o custo dos insumos?
Germán Rovetto – A valorização do peso argentino teve impacto significativo nos custos internos do setor de insumos agrícolas, afetando especialmente os custos operacionais e estruturais, medidos em dólares, em toda a cadeia comercial. Esse efeito, combinado com a queda dos preços internacionais, deteriorou severamente as margens de lucro das empresas.
No último ano, foram observados ajustes importantes na estrutura do setor de insumos, principalmente em grandes empresas que estão passando por superdimensionamento.
Esse aumento nos custos locais provavelmente incentivará a importação de produtos já formulados, em detrimento da importação de princípios ativos para formulação local.
AgriBrasilis – Quais são as perspectivas de curto e médio prazo?
Germán Rovetto – Os agroquímicos no mercado local estão com preços historicamente baixos, em grande parte devido aos altos níveis de estoque acumulados durante 2023.
Atualmente, os agricultores praticamente não possuem estoques de agroquímicos, o que gera expectativas positivas de vendas e margens melhores para a safra atual, embora laboratórios e distribuidores ainda mantenham estoques elevados. Nesse contexto, esperamos um mercado estável ou uma ligeira recuperação nas margens.
Em relação aos fertilizantes, o mercado está se comportando de forma mais transparente, acompanhando mais de perto as tendências internacionais. O fósforo apresenta demanda sustentada com baixos níveis de estoque, o que levou os importadores a validar preços maiores para a próxima safra.
Em contraste, o mercado de nitrogênio é volátil, com ampla oferta e demanda que ainda não se concretizou plenamente. Esta semana, dois fatores importantes agravaram essa instabilidade: a guerra entre Israel e o Irã e a licitação indiana, que se confirmou muito maior do que o esperado.
“O principal obstáculo atual à comercialização é o baixo nível de preços locais…”
AgriBrasilis – Como é a taxa de câmbio entre grãos e insumos?
Germán Rovetto – A queda nos preços dos grãos levou a uma deterioração geral na relação insumo/produto em comparação com a safra anterior. No entanto, graças à queda nos preços dos insumos, essas relações permanecem próximas às médias históricas.
Na minha opinião, outros fatores na estrutura de custos dos agricultores argentinos — como frete e aluguéis — estão tendo um impacto muito mais significativo nos lucros do que a própria relação de troca insumo/produto.
AgriBrasilis – Qual é o panorama do acesso ao crédito e financiamento para os agricultores na Argentina?
Germán Rovetto – Esta safra apresenta um cenário financeiro muito diferente dos últimos anos: os valores do dólar estão consideravelmente mais altos e as taxas de câmbio do peso não são atraentes.
O custo do capital se tornou um fator-chave que obriga os agricultores a ajustar seus números antes de tomar decisões de compra, o que está causando atrasos nessa questão.
Além disso, com a deterioração das margens de lucro, as empresas de insumos agrícolas estão tendo dificuldades para oferecer promoções e descontos no mesmo ritmo que faziam nas safras anteriores.
Num contexto de aumento de risco e até de alguns casos de inadimplência, muitas empresas procuram reduzir riscos, o que tem levado a uma maior participação bancária no financiamento agrícola, principalmente através de plataformas próprias e cartões de crédito direcionados ao agro.
AgriBrasilis – Quais são os obstáculos para a comercialização de grãos na Argentina?
Germán Rovetto – O principal obstáculo atual à comercialização é o baixo nível de preços locais, fortemente impactados pelos impostos de exportação.
Diante dessa situação, muitos agricultores optam por não vender, na esperança de uma melhora nos valores que lhes permita ter maiores margens de lucro.
No entanto, a possibilidade concreta de um aumento das retenciones (impostos de exportação) para o final de junho pode incentivar os agricultores a venderem no curto prazo.
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