Valorização do peso e mercado de grãos na Argentina

Published on: February 24, 2025

“A valorização do peso fez com que os custos superassem os rendimentos, reduzindo as margens de lucro…”

Carlos A. Pouiller é sócio fundador da consultoria AZ Group. Pouiller é engenheiro agrônomo formado pela Universidade de Buenos Aires

Carlos Pouiller, sócio fundador da AZ Group


AgriBrasilis – Quais os impactos da valorização do peso para o Agro argentino?

Carlos Pouiller – O produtor argentino recebe a taxa de câmbio oficial, controlada pelo governo, que cresce 2% ao mês, abaixo da inflação. Isso tem ocasiona em perdas para os agricultores. Insumos importados também são cotados pelo dólar oficial, com um imposto que encarecia esses produtos. O peso valorizado fez os custos superarem os rendimentos, reduzindo as margens de lucro. Outros custos, como salários, também seguem a inflação, aumentando os custos em dólares na produção, que interferem na relação de troca entre grãos e insumos.

AgriBrasilis – O agricultor está capitalizado?

Carlos Pouiller – Até o momento, não houve grande descapitalização, mas a tendência é negativa devido às margens apertadas, com possibilidade de margens negativas em algumas áreas, especialmente pela falta de chuvas.

AgriBrasilis – De que formas a eliminação do Impuesto País tem afetado os negócios?

Carlos Pouiller – A eliminação do imposto de importação teve um leve impacto positivo sobre os preços locais de alguns insumos importados, mas essa eliminação ocorreu quando a maioria dos insumos já havia sido comprada. Portanto, ela só começará a ter um efeito positivo a partir da safra 2025/26.

“O milho superou a soja em termos de margens…”

AgriBrasilis – Por que a soja passou por tantas dificuldades em 2024?

Carlos Pouiller – Acredita-se que por conta da oferta limitada. Houve retenção de mercadorias pelos produtores devido à queda do preço internacional e perspectivas de grande produção mundial. Espera-se um grande estoque remanescente no final da safra 2024/25, que será levado para a próxima safra.

AgriBrasilis – O milho foi o cultivo que apresentou melhor desempenho. O que motivou isso e quais as expectativas para a próxima safra?

Carlos Pouiller – Embora os preços tenham caído inicialmente devido à grande produção, o milho superou a soja em termos de margens em algumas regiões. Contudo, em áreas com ataques da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), as margens foram as piores. Para a próxima colheita, espera-se redução de área, com uma possível colheita de 48 milhões de toneladas devido à falta de água e altas temperaturas. As perspectivas de mercado são positivas devido à demanda internacional firme.

AgriBrasilis – O La Niña pode prejudicar novamente o setor nos próximos meses?

Carlos Pouiller – As previsões indicam uma La Niña de curta duração, com uma fase neutra a partir do outono. Se não houver efeito prolongado, o clima deve voltar ao normal. Entretanto, é importante destacar que os rendimentos de milho e soja são definidos antes, no verão, especificamente entre janeiro e fevereiro.

 

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