“A área de cultivo de cacau na Bahia tem se expandido significativamente, especialmente em regiões não tradicionais…”
Moisés Schmidt é produtor rural, proprietário da Schmidt Agrícola, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. A Schmidt Agrícola anunciou recentemente que irá investir R$ 270 milhões para expandir a cultura do cacau na região Oeste da Bahia.
AgriBrasilis – Como a Bahia voltou à liderança na produção de cacau?
Moisés Schmidt – A área de cultivo de cacau na Bahia tem se expandido significativamente, especialmente em regiões não tradicionais. Esse crescimento, aliado ao uso de tecnologias avançadas no plantio e manejo das lavouras, tem contribuído para o aumento da produtividade.
Nas áreas tradicionais, os produtores têm adotado práticas de manejo mais eficientes, o que também tem impulsionado os rendimentos. Além disso, os bons preços das amêndoas nos últimos anos têm incentivado novos investimentos no setor.
AgriBrasilis – Os problemas com a vassoura-de-bruxa foram controlados?
Moisés Schmidt – Nas regiões tradicionais de cultivo, ainda é necessário conviver com a doença. No entanto, o uso de técnicas adequadas, como plantios menos sombreados ou a pleno sol e a aplicação de produtos específicos para o controle do fungo, tem ajudado a reduzir os impactos. Já nas novas áreas de plantio no Cerrado, a doença não representa um problema, devido ao clima seco da região.
AgriBrasilis – A demanda global e os preços do cacau devem continuar aumentando?
Moisés Schmidt – O consumo mundial de cacau segue em crescimento, o que tem reduzido os estoques de passagem. Além disso, os principais países produtores enfrentam dificuldades conjunturais e não há previsão de aumento significativo na oferta de amêndoas no curto prazo. No Brasil, os produtores têm expandido as áreas de cultivo e investido mais nas lavouras, buscando elevar a produtividade para aproveitar os bons preços do mercado.
Atualmente, a demanda por cacau na Ásia cresce acima de 6,5% ao ano, enquanto na Europa e nos EUA esse crescimento gira em torno de 3,5% ao ano. Esse cenário se contrapõe à redução da oferta global, reforçando que o momento de investir na produção está no Brasil. O país se destaca por contar com tecnologias avançadas e um produtor tecnicamente preparado para melhorar a eficiência produtiva e suprir essa demanda crescente.
AgriBrasilis – Por que o senhor considera que existe uma “demanda reprimida” no mercado global de cacau?
Moisés Schmidt – A demanda reprimida ocorre porque o consumo global cresce em ritmo mais acelerado do que a produção. Além disso, novos mercados consumidores, como a China, têm ampliado significativamente a demanda. No entanto, a expansão das áreas de cultivo ocorre de forma mais lenta, pois depende da disponibilidade de mudas, da mão de obra qualificada e de recursos financeiros, já que o custo de implantação das lavouras é elevado.
Nos últimos três anos, a produção de cacau tem registrado quedas, intensificando esse cenário de demanda reprimida. Para atender parte desse déficit, a indústria tem diluído o licor de cacau com açúcar e manteiga de palma, mas essa estratégia não tem sido suficiente para suprir a real necessidade do mercado por cacau de qualidade. Esse descompasso reforça a importância de investimentos na produção, especialmente no Brasil, que tem condições de aumentar a oferta e atender essa demanda crescente.
AgriBrasilis – Costa do Marfim e Gana têm enfrentado desafios por conta das mudanças climáticas. Como o clima está afetando a produção brasileira?
Moisés Schmidt – No Cerrado, as áreas de expansão do cacau são, em grande parte, irrigadas, o que reduz os impactos das variações climáticas. Já em regiões como o sul da Bahia e o Pará, o cultivo ocorre em regime de sequeiro, mas com boa distribuição de chuvas ao longo do ano. No entanto, períodos de estiagem podem ocorrer e afetar a produtividade.
O que temos observado é que as áreas sem irrigação ou sem algum complemento hídrico são as que mais sofrem com as mudanças climáticas. Em contrapartida, as novas áreas de cacau em regiões não tradicionais já são implantadas com sistemas de irrigação, permitindo que passem por períodos críticos sem prejuízos significativos à produção.
O que ocorre hoje na Costa do Marfim e em Gana – onde a produtividade tem sido impactada pelo clima – é semelhante ao que acontece no sul da Bahia e no Pará, nas áreas de cacau não irrigado. Isso reforça a necessidade de tecnologias e estratégias de adaptação para manter a produção em patamares elevados.
AgriBrasilis – Qual o nível de mecanização e controle fitossanitário no oeste da Bahia?
Moisés Schmidt – No oeste da Bahia há um esforço contínuo para aumentar a mecanização das lavouras. Máquinas já são utilizadas para o plantio de mudas e parte da colheita, embora a retirada dos frutos e a poda ainda sejam feitas manualmente.
O controle fitossanitário é um fator determinante para a produtividade, com a adoção de mudas sadias produzidas em viveiros locais e o uso de defensivos para prevenir pragas e doenças, garantindo a sanidade dos pomares.
AgriBrasilis – A Schmidt Agrícola está investindo no consórcio cacau/banana irrigado. Quais os custos e os ganhos em produtividade?
Moisés Schmidt – O consórcio de cacau com banana irrigada foi implementado como um projeto piloto na Schmidt Agrícola e demonstrou vantagens, mas atualmente as culturas ocupam áreas separadas. Quando utilizado, o sistema permite otimizar custos relacionados ao manejo, controle de pragas, nutrição das plantas e manutenção da irrigação. Além disso, o consórcio pode proporcionar maior segurança financeira ao produtor, ao gerar receita a partir de duas culturas e minimizar riscos em caso de oscilações no mercado.
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