Baixa produtividade é o principal desafio do setor de cacau

Ana Lee/CocoaAction Brasil

“Para que o produtor brasileiro de cacau seja rentável, é necessário que sua produtividade seja três ou quatro vezes mais alta…”

Pedro Paulo de Faria Ronca é coordenador da iniciativa CocoaAction Brasil, em parceria com a World Cocoa Foundation, e diretor na consultoria P&A.

Ronca é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, pós-graduado em cafeicultura pela Universidade de São Paulo e em economia e ciência do café pela Universidade de Trieste.

Pedro Ronca, coordenador da CocoaAction Brasil


AgriBrasilis – Quais os projetos da CocoaAction Brasil? Qual a origem e os destinos dos recursos da instituição?

Pedro Ronca – O CocoaAction é uma iniciativa da Fundação Mundial do Cacau / World Cocoa Foundation – WCF, que busca unir os atores e elos da cadeia cacaueira do Brasil.

Buscamos unir agentes dos setores público, privado e sociedade civil para implementar ações que fomentem o desenvolvimento sustentável do setor cacaueiro, com foco nos produtores rurais.

A iniciativa busca aumentar a produtividade no cacau mediante a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, expansão do acesso a crédito rural, fortalecimento do setor produtivo através da ampliação da assistência técnica e da promoção do trabalho decente.

Buscamos a conservação ambiental através da prevenção do desmatamento e promoção do reflorestamento, a melhoria do diálogo e da disseminação de conhecimento na cadeia.

O CocoaAction Brasil tem oito membros financiadores – Barry Callebaut, Cargill, Dengo, Harald, Mars, Mondelez, Nestlé, e Ofi – que investem anualmente para que a iniciativa possa executar suas ações e projetos, que por premissa são colaborativos e pré-competitivos, ou seja, têm o intuito de beneficiar o setor cacaueiro como um todo, sem interesses comerciais.

AgriBrasilis – Qual a situação do setor produtivo do cacau no Brasil? Qual a produção nacional e quais as expectativas para os próximos anos?

Pedro Ronca – A produção nacional hoje alcança aproximadamente 220 mil toneladas, em uma área de 600 mil hectares, localizada em sua maior parte na Bahia e no Pará.

O cacau é uma cultura baseada na produção familiar. Estima-se que, dos 93 mil produtores de cacau existentes no país, cerca de 74% sejam pequenos agricultures e/ou agricultores familiares.

O Brasil é o 7º maior produtor de cacau do mundo, depois de Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Indonésia, Equador e Camarões. O principal desafio da cadeia brasileira de cacau é a baixa produtividade, estimada em 300kg/ha (média nacional). Para que o produtor brasileiro de cacau seja rentável, é necessário que sua produtividade seja três ou quatro vezes mais alta, ou seja, ao redor de 1.200 a 1.500 kg/hectare.

O setor trabalha para ser autossuficiente nos próximos cinco a dez anos. Esperamos produzir cacau suficiente para abastecer a indústria nacional moageira (processamento) e de chocolates, sem a necessidade de importar cacau.

AgriBrasilis – O senhor comenta sobre a necessidade de um plano de fomento para a cadeia do cacau. Que medidas deveriam ser adotadas e por quê?

Pedro Ronca – Dentre as principais ações de fomento, destaca-se a necessidade da expansão e fortalecimento da assistência técnica, para que, através da transferência de conhecimento, os produtores possam adotar boas práticas agrícolas, que favoreçam a gestão dos negócios e a produção sustentável de cacau.

O aumento do acesso a crédito também é um importante instrumento para acelerar o aumento de produtividade e e qualidade de vida dos produtores, através da compra de insumos e de maiores investimentos nas propriedades rurais.

AgriBrasilis – 78% das propriedades produtoras de cacau do litoral sul da Bahia utilizam o sistema de cabruca. O que é esse sistema e por que é considerado mais sustentável? Qual o sistema de produção mais utilizado no Brasil?

Pedro Ronca – A cabruca é um sistema agroflorestal, em que o cacau é cultivado em meio à mata nativa, colaborando para a conservação ambiental. Na Bahia, especificamente, esse sistema se chama “cabruca”, que é quando o plantio do cacau ocorre sob a sombra das árvores da Mata Atlântica.

A cabruca é um importante mecanismo de proteção do bioma, e coexiste com centenas de espécies de plantas e animais. O cacau plantado em sistemas agroflorestais evita o desmatamento e reduz o número de incêndios.

No Brasil, o sistema de produção mais utilizado no cacau é justamente o agroflorestal, conhecido por SAF (Sistema AgroFlorestal). O cacau plantado a pleno sol também é adotado, mas, sendo uma planta que “gosta” de sombra, ele geralmente é cultivado sob a sombra de outras árvores, e em consórcio com frutíferas, como açaí e banana, que ajudam a complementar a renda dos produtores.

AgriBrasilis – A que se deve a expansão do cultivo do cacau na Amazônia? Quais as consequências dessa expansão?

Pedro Ronca – O cacau é nativo da região amazônica, ou seja, ele nasceu neste ambiente. Atualmente, uma das maiores regiões produtoras de cacau fica nas imediações da rodovia Transamazônica, no Pará, englobando municípios como Medicilândia, Altamira e Uruará.

O cacau é um agente de preservação e conservação. A maioria dos produtores que cultivam cacau o fazem em sistemas agroflorestais, que protegem espécies nativas de árvores, capturam carbono, colaboram com a fertilidade do solo, e evitam o desmatamento.

Um estudo recente da Embrapa, desenvolvido com apoio do CocoaAction, titulado “A expansão sustentável do cacau no Pará”, comprovou que a expansão das lavouras cacaueiras no estado ao longo dos últimos 20 anos ocorreu em áreas previamente degradadas, de pastagens, o que tem contribuído para evitar as queimadas e o desmatamento, e conservar florestas.

AgriBrasilis – O setor cacaueiro conseguiu contornar os problemas causados pela vassoura-de-bruxa? Quais as principais pragas e doenças que prejudicam a produção e suas respectivas formas de controle?

Pedro Ronca – A vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa) é uma doença que ainda hoje está em evidência no Brasil e prejudica a produção de cacau. No entanto, é possível conviver com a doença e produzir de maneira satisfatória, quando aplicadas técnicas de manejo corretas, atreladas ao uso de variedades resistentes.

As principais doenças que assolam a produção de cacau são de origem fúngica. Dentre elas, destacam-se a podridão parda (Monilinia fructicola), e o mal do facão (Ceratocystis fimbriata). Recentemente tivemos notícias da entrada da monilíase (Moniliophthora roreri) em terras brasileiras.

Outras pragas e doenças que geram impacto econômico na produção são: mal-rosado (Erythricium salmonicolor), antracnose (Colletotrichum spp.), morte-súbita (Verticillium dahliae), monalônio (Monalonion bondari), cigarrinha (Clastoptera spp.), tripes (Selenothrips rubrocinctus), ácaro-da-gema (Eriophyes reyesi), entre outras.

Para controle, é necessário que os produtores adotem o manejo integrado de pragas e doenças (MIPD), que utiliza técnicas químicas, culturais, físicas e biológicas para minimizar os danos econômicos.

 

Ana Lee/CocoaAction Brasil

 

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