Falta de mão de obra e problemas de logística limitam exportações de frutas do Brasil

“…a situação dos portos brasileiros tem causado atrasos na saída e chegada dos navios. Para produtos perecíveis, como é o caso das frutas, essa questão é fatal…”

Carlo Porro é fundador e CEO da Agrícola Famosa, maior produtora de melões e maior exportadora de frutas do Brasil, que acaba de comprar a empresa espanhola El Abuelo.

Carlo Porro, fundador e CEO da Agrícola Famosa


AgriBrasilis – Que fatores limitam as exportações de frutas do Brasil?

Carlo Porro – A falta de mão de obra e os problemas de logística. A falta de mão obra é hoje o principal fator limitante para o crescimento das exportações. A parte da logística não é tanto um problema para a Agrícola Famosa, porque nós temos nossos próprios navios, mas a situação dos portos brasileiros tem causado atrasos na saída e chegada dos navios. Para produtos perecíveis, como é o caso das frutas, essa questão é fatal. A demora para chegada de navios e a desorganização, como no caso de navios que chegam ao mesmo tempo, têm prejudicado muito o exportador brasileiro.

Além desses dois pontos, outros fatores envolvem o cumprimento, por parte do fruticultor, com as normas internacionais de uso de agrotóxicos, a obtenção de certificações, a preocupação com questões sociais. Eu não diria que essas são limitações, mas são especializações que o agricultor precisa obter para exportar. Fatores limitantes são mesmo a falta de mão de obra e os problemas de logística.

“A falta de mão obra é hoje o principal fator limitante para o crescimento das exportações…”

AgriBrasilis – Quais são as demandas dos mercados importadores?

Carlo Porro – Nosso principal mercado é o europeu, mas cada mercado tem suas especificações e suas variedades preferidas. No caso do melão e da melancia, por exemplo, existem mais de oito variedades. Só no caso da melancia a gente tem quatro tipos. Para os melões temos o cantaloupe, melão amarelo, americano, dentre outros. Cada mercado tem sua preferência por variedades, tamanhos, etc. Sem falar de toda o rigor exigido hoje pelo setor no caso das inúmeras especificações, dos limites de resíduos de agrotóxicos. Tudo isso precisa ser respeitado para atingir os mercados de interesse.

AgriBrasilis – Como verticalizar de forma assertiva no setor de frutas?

Carlo Porro – Eu acredito na completa verticalização. A verticalização é importantíssima pra você poder controlar e dominar cada passo da produção até a entrega pro seu cliente.

É necessário começar pela produção bem feita, pela qualidade. A qualidade é o segredo para exportar. Para obter essa qualidade, você precisa produzir você mesmo, o que envolve riscos e investimento, ou você precisa ter excelentes produtores parceiros. Portanto, o primeiro ponto é focar na produção e com a consciência de que sem qualidade você não vai atingir bons resultados. Partindo disso, nós “subimos” na cadeia.

No caso da Agrícola Famosa, nós temos navios próprios, por exemplo, o que é justificado pelo nosso volume. Nós já fomos pequenos produtores, sem acesso a isso. Hoje eu produzo 100% do que eu exporto, quase 70% disso vai em navios próprios, e boa parte do que eu vendo é pra empresas minhas na Europa. Nós abrimos nossa operação na Inglaterra, a gente acabou de adquirir uma empresa na Espanha, que é a El Abuelo.  Queremos abrir uma empresa na Holanda.

AgriBrasilis – Quais os principais desafios com relação ao ESG?

Carlo Porro – Hoje grande parte dos nossos tratamentos fitossanitários são feitos através do controle biológico. É necessário produzir com pouquíssimo uso de agrotóxicos, se apoiando nos bioinsumos.

Além disso, existem todas as considerações a serem feitas de higiene das fazendas, da forma como você lida com seus funcionários, etc. Tão importante quanto os resíduos de agrotóxicos, por exemplo, são as certificações ambientais e sociais. Tudo isso hoje faz parte do mesmo “ecossistema” e precisa estar tudo muito bem calibrado para que a empresa consiga exportar.

AgriBrasilis – De que formas o senhor considera que é possível aumentar o shelf life do dos produtos e otimizar a logística?

Carlo Porro – Precisamos de eficiência em todos os passos da produção, ou seja, do momento do plantio até a entrega. É assim que é possível aumentar o shelf life da fruta. Não adianta colher mais verde, porque ela não vai ter sabor e qualidade. Tem que colher no ponto certo, transportar rapidamente até as packing houses, reduzir a temperatura o mais rápido possível, não quebrar a cadeia de frios. É necessária uma logística eficiente no transporte, seja por navio ou avião. Por isso que eu digo que é necessário dominar todo o processo, para alcançar essa eficiência.

AgriBrasilis – Quais as expectativas após a aquisição da El Abuelo?

Carlo Porro – Essa é parte de uma estratégia da empresa de atingir diretamente os mercados consumidores. A El Abuelo é uma marca muito forte na Espanha. Eu diria que é a marca mais prestigiada para os melões pele-de-sapo. Além de comprar de produtores espanhóis, a El Abuelo produz melões no Senegal, e essa janela de produção é muito importante para nós.

Apesar da Agrícola Famosa produzir em todos os meses do ano, existem alguns momentos de chuva no Nordeste em que temos falhas na produção, e a produção do Senegal pode suprir essas falhas. Essa foi uma aquisição muito estratégica.

AgriBrasilis – Que tecnologias são utilizadas pela Agrícola Famosa para otimizar a produção no clima semiárido?

Carlo Porro – São muitas tecnologias adotadas, desde a irrigação até tratamentos de solo, controle biológico, etc. O semiárido é ideal para produção, mas é muito difícil de manejar também. É necessário ter precisão, exatidão. No caso do melão, o tempo do plantio até a colheita é de apenas 60 dias, o que é um ciclo muito rápido e em um clima extremo. Por isso, você tem que aplicar o que existe de melhor na tecnologia, desde a colheita, embalagem, obtenção de água, etc.

 

 

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