Adubação, deficiências e metabolismo do nitrogênio na soja

“Dose elevadas de nitrogênio (N) no início do desenvolvimento da soja reduzem a nodulação…”

Lílian Angélica Moreira é pesquisadora de pós-doutorado, doutora e mestre em nutrição de plantas pela Universidade de São Paulo. Sua pesquisa de pós-doutorado está focada na eficiência de fertilizantes nitrogenados associados com bioinsumos.

Lílian Moreira, pesquisadora de pós-doutorado pela USP


AgriBrasilis – Até que ponto a adubação nitrogenada na soja prejudica a fixação biológica?

Lílian Moreira –  Dose elevadas de nitrogênio (N) no início do desenvolvimento da soja reduzem a nodulação. Portanto, de modo geral, recomenda-se apenas uma adubação de arranque, ou seja, aproximadamente 30 kg/ha de N no plantio. Esse N será responsável por atender a demanda da cultura até o estabelecimento da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). Outro ponto é a aplicação foliar de N, prática sobre a qual ainda existem muitas dúvidas na literatura.

AgriBrasilis – O Molibdênio (Mo) pode ser indicado para melhorar o metabolismo de nitrogênio na cultura? Por quê?

Lílian Moreira –  Sim. O Mo é de extrema importância em plantas que adquirem N pelo processo de FBN, pois além de participar da redução do nitrato, como em todas as outras plantas, esse elemento é componente da nitrogenase, enzima responsável pelo processo de FBN. Ou seja, na ausência de Mo não há formação da enzima.

AgriBrasilis – Que outros elementos interferem no metabolismo do N?

Lílian Moreira –  De modo geral, todos os nutrientes interferem no metabolismo do N. Mas claro, alguns possuem relações mais diretas, como por exemplo Molibdênio, Ferro, Fósforo e Enxofre.

“As deficiências mais comuns na soja são de Manganês, Boro e Zinco”

AgriBrasilis – Quais são as deficiências nutricionais mais comuns da soja e em quais regiões?

Lílian Moreira –  As deficiências mais comuns na soja são de Manganês, Boro e Zinco. Ocorrem principalmente em áreas com pH elevado e com alta matéria orgânica (complexação).

AgriBrasilis – Como é possível distinguir os sintomas das deficiências nutricionais?

Lílian Moreira –  A deficiência nutricional tem como principal característica a simetria na folha, na planta e na área. Ou seja, o sintoma não aparece em plantas aleatórias em uma área como pode ocorrer no caso das doenças.

O sintoma da deficiência nutricional normalmente forma um gradiente na planta, a não ser que ocorra de maneira muito brusca, o que não é comum no campo. Sintomas bruscos de desordem normalmente estão relacionados a aplicações equivocadas e fitotoxidez. Outro importante ponto sobre a deficiência nutricional é a localização na planta: os elementos possuem características de mobilidade marcantes e isso nos permite observar o surgimento do sintoma de maneira localizada nas folhas velhas (N, P, Mg, K)  ou jovens (Ca, S, Fe, Mn, Zn, Cu).

Fonte: Lílian A. Moreira; Folhas coletadas do baixeiro até o ponteiro de planta de soja com deficiência de potássio

AgriBrasilis – Como realizar a amostragem foliar para detecção dessas deficiências?

Lílian Moreira –  Para soja deve ser coletado a primeira folha madura e livre de ataque de doenças e pragas a partir da ponta do ramo principal no florescimento pleno. O material é enviado ao laboratório e os valores gerados são comparados com valores de referência (lavouras de alta produtividade). Existem diversos métodos de cálculos (DIRS, CND…) que podem auxiliar na interpretação dos dados laboratoriais. A diagnose visual, ou seja, identificação do sintoma é um método auxiliar, mas que quando realizado significa que a deficiência está em fase avançada. Portanto, o monitoramento da lavoura, com diagnose foliar é essencial para obtenção de altas produtividades.

 

 

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