“Produtos sistêmicos e produtos de contato requerem cobertura e densidade de gotas muito diferentes…”
Fabiano Griesang é especialista de produtos – máquinas agrícolas da Jacto, técnico em agropecuária, engenheiro agrônomo pela Unochapecó, mestre em mecanização agrícola pela UEL e doutor em produção vegetal pela Unesp.
AgriBrasilis – Quais são as características de um bom pulverizador?
Fabiano Griesang – As características de um bom pulverizador agrícola devem contemplar elevada eficiência na aplicação de defensivos, garantindo cobertura uniforme das áreas-alvo. Características como o fácil manuseio e regulagem, permitindo o ajuste preciso de variáveis como o volume de aplicação, também são muito desejáveis.
Como o pulverizador é um equipamento crucial para o sucesso da lavoura, ele deve sempre estar disponível para operar, apresentar boa durabilidade e resistência, suportando o uso intensivo no campo. Quando houver alguma ocorrência, essa deve ser de fácil e rápida solução, com boa disponibilidade de peças de reposição. Outro fator de suma importância é que o equipamento deve ser seguro ao usuário, com proteções e dispositivos que minimizem riscos ao operador e ao meio ambiente.
AgriBrasilis – Como devem ser realizadas a regulagem e calibração desses equipamentos?
Fabiano Griesang – A regulagem e calibração de um pulverizador agrícola devem levar em consideração, em primeiro lugar, o alvo da aplicação, considerando qual é esse alvo e onde ele está localizado.
Às vezes os alvos são organismos que estão em posições específicas do dossel da cultura, e podem ser móveis ou não. O alvo pode ser a planta como um todo, especialmente quando se considera a aplicação de produtos protetivos.
É necessário levar em consideração as características do produto fitossanitário. Produtos sistêmicos e produtos de contato requerem cobertura e densidade de gotas muito diferentes.
As condições ambientais predominantes no período em que se fará a aplicação poderão exigir mudanças importantes nas configurações do pulverizador. Não as despreze, sob o risco de fracassar no controle dos alvos.
Conhecendo o seu pulverizador, é importante utilizar informações das últimas aplicações bem sucedidas para regular o equipamento. Para ajustar a calibração, utilize recursos como papeis hidrossensíveis para verificar se as gotas estão atingindo o alvo em quantidade e distribuição satisfatórias. Se não estiver de acordo, ajuste a regulagem.
“Os adjuvantes de uso agrícola, os modelos de pontas de pulverização e a pressão de trabalho são componentes de grande relevância no manejo da deriva…”
AgriBrasilis – Como e quanto os adjuvantes e modelos de pontas de pulverização conseguem reduzir a deriva nas lavouras?
Fabiano Griesang – Os adjuvantes de uso agrícola, os modelos de pontas de pulverização e a pressão de trabalho são componentes de grande relevância no manejo da deriva. Os modelos de pontas e a pressão de trabalho definem o padrão do jato e o tamanho das gotas, enquanto os adjuvantes podem ter papel importante na modificação de características da calda.
A escolha do adjuvante a partir da sua funcionalidade tende a agregar muito nos resultados. Alguns adjuvantes podem atuar na redução da taxa de evaporação de gotas, enquanto outros atuam no espalhamento e adesão das gotas sobre as superfícies alvo. Outros ainda, combinados a determinados modelos de pontas de pulverização, podem melhorar o espectro de gotas, reduzindo a fração em gotas de menor tamanho, que são as mais sensíveis à deriva. A combinação de estratégias de mitigação de deriva pode superar a redução de 90% na deriva.
AgriBrasilis – Quais são os efeitos da pressão de trabalho e espaçamento entre os bicos de pulverização?
Fabiano Griesang – A pressão de trabalho e o espaçamento entre os bicos, juntamente com características do modelo da ponta de pulverização, como o padrão do jato e tamanho de gotas, afetam a qualidade da aplicação e a ocorrência de deriva. Pressões elevadas aumentam a formação de gotas menores, aumentando os riscos de deriva. O espaçamento inadequado entre pontas também pode prejudicar a uniformidade de deposição e elevar a deriva.
AgriBrasilis – Que outros fatores são determinantes para uma pulverização bem-sucedida?
Fabiano Griesang – Os fatores determinantes para o sucesso na aplicação são:
- a) conheça o alvo e sua biologia, para então definir o momento correto para realizar a intervenção, considerando o ciclo da praga, da cultura e o momento do dia;
- b) conheça o produto e suas características: escolha produto adequado para a praga ou doença alvo, levando em consideração sua eficácia, segurança e compatibilidade com a cultura;
- c) respeite as condições ambientais e faça os ajustes necessários para adequar o pulverizador à condição reinante. Realize a pulverização em condições de temperatura, umidade e ventos favoráveis, evitando perdas por deriva e maximizando a absorção do produto;
- d) regule e calibre o equipamento: ajuste adequadamente o volume de calda, escolha o ponta de pulverização e pressão de trabalho que produza gotas de tamanho adequado para uma cobertura uniforme da planta;
- e) não renuncie à segurança: use equipamentos de proteção individual (EPIs) para minimizar riscos de contaminação.
AgriBrasilis – Como o mercado de equipamentos autônomos tem avançado no Brasil? O que podemos esperar para as próximas safras?
Fabiano Griesang – O mercado de equipamentos autônomos no Brasil tem apresentado crescimento significativo nos últimos anos. Tratores, colhedoras e pulverizadores autônomos estão se tornando cada vez mais comuns devido a popularização das tecnologias e por conta da escassez de mão-de-obra no campo. Essas soluções proporcionam elevada precisão, eficiência e produtividade, além de reduzir custos com mão de obra e insumos.
Para o futuro, projeta-se um crescimento importante nesse segmento, com adoção em larga escala de sistemas de agricultura de precisão e robótica. Investimentos em P&D, associados com políticas públicas de incentivo, devem impulsionar ainda mais a utilização desses equipamentos, transformando a realidade da agricultura brasileira.
AgriBrasilis – No que consiste a aplicação localizada e quais são seus benefícios?
Fabiano Griesang – A aplicação localizada de pesticidas consiste em direcionar o uso desses produtos apenas nas áreas alvo, em vez de aplicá-los de maneira uniforme em todo o talhão. Essa técnica apresenta benefícios como a redução do volume de pesticidas utilizados, diminuindo custos e impactos ambientais. Busca-se maior eficiência na aplicação, com menor exposição de organismos não-alvo aos pesticidas. Essa abordagem seletiva e direcionada contribui para uma agricultura mais sustentável e responsável no uso de agroquímicos.
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