Nanoencapsulamento: mais uma revolução no Agro

“A nanotecnologia deve revolucionar o setor, principalmente devido ao seu potencial inovativo, sendo um dos pilares da agricultura 4.0.”

Letícia Mazzarino é sócia e diretora técnica da NanoScoping – Soluções em Nanotecnologia, especialista no desenvolvimento de sistemas nanoestruturados para liberação de ingredientes ativos.

Mazzarino é formada em farmácia pela Universidade de Passo Fundo, com mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Letícia Mazzarino, diretora técnica da NanoScoping


AgriBrasilis – O que é e para que serve o nanoencapsulamento?

Letícia Mazzarino – O nanoencapsulamento se refere à incorporação ou associação de substâncias ativas em estruturas de tamanho muito reduzido, na faixa nanométrica, que vai de 1nm até 1000 nm [nm = nanômetro, equivalente a 10−9 m].

O nanoencapsulamento de ingredientes ativos é utilizado em diferentes áreas de aplicação, desde produtos farmacêuticos, como medicamentos e cosméticos, até produtos alimentícios e agrícolas, por exemplo. Na agricultura, o nanoencapsulamento de ativos tem sido considerado uma ferramenta promissora na fabricação de produtos adjuvantes, fertilizantes e defensivos, uma vez que pode conferir vantagens importantes ante os produtos convencionais, tais como:  proteção do ativo contra a degradação, redução da volatilização, facilidade de mistura na calda, melhora no espalhamento e recobrimento foliar, e liberação prolongada do ativo, resultando em um aumento da eficácia do produto no campo e até mesmo na possibilidade de redução da dose aplicada.

AgriBrasilis – Como é realizada a aplicação desses produtos em campo?

Letícia Mazzarino – Os produtos desenvolvidos pela NanoScoping são líquidos, destinados à pulverização foliar, podendo ser aplicados de forma isolada, após diluição na calda (água), ou associados com outros produtos, como fertilizantes e/ou defensivos agrícolas, para potencializar a sua ação.

AgriBrasilis – Partículas menores (nano) não favorecem a deriva de aplicação?

Letícia Mazzarino – Os produtos nano não sofrem mais com a deriva, entretanto, qualquer produto aplicado fora das boas práticas agrícolas pode ser impactado. A tecnologia nano, devido ao tamanho reduzido das partículas, apresenta ótimo recobrimento foliar, aumentando a eficiência do tratamento.

AgriBrasilis – Como o nanoencapsulamento se enquadra na legislação?

Letícia Mazzarino – No Brasil, atualmente, não existem normas específicas aplicadas aos produtos com nanotecnologia. O governo regulamenta os produtos com base nas legislações existentes relacionadas ao enquadramento do produto, segurança alimentar, proteção ambiental e saúde e segurança ocupacional, por exemplo. Entretanto, a legislação, de uma forma geral, vem se adequando para se adaptar aos avanços tecnológicos: exemplo disso é a PL 880/2019, projeto de lei que tem o objetivo de atuar como marco legal da nanotecnologia e materiais avançados.

“A tecnologia nano, devido ao tamanho reduzido das partículas, apresenta ótimo recobrimento foliar, aumentando a eficiência do tratamento”

AgriBrasilis – Os produtos nanoencapsulados são utilizados no Brasil? Esses produtos são considerados pesticidas?

Letícia Mazzarino – Sim, já existem produtos com nanotecnologia aplicados à agricultura no Brasil, mas são principalmente biofertilizantes e adjuvantes agrícolas.

AgriBrasilis – Quais os benefícios dos óleos essenciais utilizados como adjuvantes agrícolas?

Letícia Mazzarino – O uso de óleos essenciais como adjuvantes agrícolas pode ser uma alternativa mais sustentável em comparação com produtos químicos sintéticos, reduzindo o impacto ambiental e os resíduos químicos no meio ambiente. Além disso, os óleos essenciais atuam como promotores da sanidade vegetal devido às suas propriedades benéficas, como suas capacidades antimicrobianas, antifúngicas e inseticidas, além da ação estimulante do crescimento e da resistência das plantas.

AgriBrasilis – Existe potencial para utilização na agricultura convencional, além da produção orgânica?

Letícia Mazzarino – Com certeza! A nanotecnologia é uma área de conhecimento muito ampla. Na agricultura convencional, ela é capaz de reduzir doses e facilitar a aplicação dos protocolos agronômicos no campo, principalmente em produtos que apresentam limitações relacionadas com baixa solubilidade ou degradação.

AgriBrasilis – O produto é viável comercialmente? Qual o preço ao consumidor final?

Letícia Mazzarino – Os produtos que incorporam nanotecnologia geralmente apresentam um valor agregado em decorrência da tecnologia embarcada. No caso específico dos produtos Nano Agro da NanoScoping, observa-se que essa tecnologia de ponta não compromete a competitividade, mantendo-se acessível devido à excelente relação custo-benefício.

Os resultados dos testes na cultura da soja destacaram um ganho expressivo de produtividade, representando um benefício significativo para os agricultores. Ao considerar a viabilidade comercial, é essencial ponderar não apenas o custo do produto em si, mas também os ganhos adicionais proporcionados pelo produto, como a economia na dosagem aplicada e o aumento de produtividade.

AgriBrasilis – Qual o futuro da nanotecnologia na agricultura?

Letícia Mazzarino – Eu diria que esse futuro é o mais promissor possível. A nanotecnologia deve revolucionar o setor, principalmente devido ao seu potencial inovativo, sendo um dos pilares da agricultura 4.0. Dentre as principais vantagens, destaca-se a melhoria na entrega de nutrientes no caso dos fertilizantes, a redução de dose e aumento de eficiência no caso dos pesticidas, a proteção frente aos fatores bióticos e abióticos no controle biológico, além de aplicações em pós-colheita, etc.

 

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