Nova lei dos agrotóxicos beneficia a aviação agrícola

“Isso porque ela passou a exigir das aplicações terrestres uma qualificação e transparência que desde os anos 1960 era rotina na aviação agrícola…”

Gabriel Colle é diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola – Sindag e do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola – Ibravag. Colle é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas, com mestrado em administração e MBA em agronegócio pela Atitus Educação.

Gabriel Colle, diretor-executivo do Sindag


AgriBrasilis – O Ceará proibiu a pulverização aérea. Como isso está impactando o manejo agrícola?

Gabriel Colle – O principal impacto da proibição da aviação agrícola no CE foi um aumento da quantidade de aplicações necessárias nas lavouras que eram atendidas pelos aviões. Logo, a proibição resultou em um maior uso de produtos. Consequentemente, também resultou na maior exposição das pessoas aos riscos nas operações, já que uma das principais ferramentas alternativas foram os pulverizadores costais, especialmente na cultura da banana.

AgriBrasilis – Outros Estados devem adotar medidas similares?

Gabriel Colle – Acreditamos que não, porque tem ficado evidente o quanto isso representa em perdas nas lavouras e maior risco nas operações e para o meio ambiente. Há projetos tramitando nesse sentido, por exemplo, no MS e RS. Mas, esses são Estados que dependem da agricultura, e onde todos percebem muito claramente a insanidade que é tirar de cena uma ferramenta tão técnica,  regulada, e que garante produtividade e uso racional de insumos.

Temos trabalhado muito para levar esclarecimento aos legisladores. Tanto que estamos vendo também o movimento inverso: projetos de lei no RS, SC e ES declarando a aviação agrícola “ferramenta de relevante interesse público e econômico”.

AgriBrasilis – Como a nova lei dos agrotóxicos, nº 14.785/2023, afeta a aviação agrícola?

Gabriel Colle – De modo geral, acreditamos que a nova lei beneficia a aviação agrícola. Isso porque ela passou a exigir das aplicações terrestres uma qualificação e transparência que desde os anos 1960 era rotina na aviação agrícola. Por exemplo, agora é exigida a assinatura do aplicador do defensivo no receituário. Isso aumenta a transparência e a rastreabilidade da pulverização de agrotóxicos.

Na aviação, há décadas cada aplicação realizada já gerava relatórios completos, identificando toda a equipe envolvida, com assinatura do piloto, agrônomo e do técnico em solo, inclusive com o mapa da área tratada e vários outros dados.

AgriBrasilis –  Qual o prejuízo da pulverização aérea ao meio ambiente e aos insetos polinizadores?

Gabriel Colle – Prejuízos em pulverizações – seja para o meio ambiente, insetos polinizadores, lavouras vizinhas ou até pessoas – ocorrem quando não são observadas as condições meteorológicas ideais, quando não se aplica a tecnologia correta, ou não se segue as orientações técnicas para cada produto.

O risco existe, mas não é exclusivo “da pulverização aérea”. É “das pulverizações” em geral, ponto. Isso vale inclusive para os equipamentos costais, que têm o mesmo risco de deriva do avião, quando não obedecidos os parâmetros ideais.

AgriBrasilis –  Que outras mudanças regulatórias recentes foram importantes para o setor?

Gabriel Colle – Na verdade, estão sendo. Além da nova Lei dos Agrotóxicos, publicada em dezembro de 2023, atualmente as principais normas do setor estão na fase final de seus processos de modernização, no aguardo da publicação de suas novas versões pelo MAPA. Esse é o caso da revisão da Instrução Normativa 02/2008 (das operações com aviões e helicópteros) e da Portaria 298/21, que disciplina as operações com drones de pulverização em lavouras, além do texto substituindo o Decreto 86.765/1981, que disciplina a atividade aeroagrícola em geral.

AgriBrasilis –  Os drones podem substituir as aeronaves tripuladas? Por quê?

Gabriel Colle – Ambas são ferramentas que, na verdade, se completam. Não há como comparar, em uma propriedade maior, a produtividade e rapidez de um avião agrícola. Ao mesmo tempo, as ferramentas remotas são ideais para áreas menores e para arremates em pontos com obstáculos ou perto de áreas ambientalmente sensíveis em lavouras maiores. Por isso, no Sindag temos associados que operam com aviões, outros que operam com drones, e algumas empresas com os dois tipos de ferramenta, atuando justamente de forma complementar.

AgriBrasilis –  Como minimizar os riscos de deriva?

Gabriel Colle – Através de técnicas e tecnologias adequadas, e respeitando as condições climáticas e as orientações para cada produto. Isso vale tanto para equipamentos aéreos quanto terrestres. Temos bicos e atomizadores, adjuvantes para os produtos e instrumentos para avaliar as condições meteorológicas. Além disso, na aviação, a legislação obriga que quase todos os envolvidos nas operações sejam no mínimo técnicos com especialização.

 

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