Conservação e qualidade dos solos do Brasil

“É necessário conhecer a qualidade de cada solo para definir as melhores práticas de manejo e conservação…”

Maria Eugenia Ortiz Escobar é presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, ex-diretora do Núcleo Regional Nordeste da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, e professora da Universidade Federal do Ceará.

Escobar é engenheira agrônoma e doutora em manejo de solos e águas pela Universidad Nacional de Colombia, com doutorado sanduíche e pós-doutorado na University of Hawaii.

Maria Eugenia Ortiz Escobar é presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo


AgriBrasilis – Por que se perde mais de 500 milhões de toneladas de solo por ano no Brasil?

Maria Escobar – A perda do solo pode ser considerada um estado de degradação avançado e pode ocorrer por causas naturais e/ou antrópicas. As perdas relacionadas às atividades realizadas pelo homem, que causam forte degradação e perda de solo, são: desmatamento, queimadas, pisoteio de gado e tráfego de máquinas agrícolas. Condições inadequadas de umidade contribuem para acentuar a degradação. O uso intenso do solo para implantação de culturas, principalmente monoculturas, deixa o solo mais vulnerável e exposto a ser perdido.

AgriBrasilis – Como mitigar as perdas e qual a importância das práticas de educação em solos?

Maria Escobar – É necessário conhecer a qualidade de cada solo para definir as melhores práticas de manejo e conservação e garantir que o solo cumpra com os serviços ecossistêmicos.

Práticas mais conservacionistas, como evitar o revolvimento/preparo do solo, contribuem para a manutenção das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, as quais evitam perdas por erosão, ajudam na retenção de umidade e nutrientes e promovem um ambiente adequado para a presença e atividade de microrganismos.

A manutenção dos restos culturais, por exemplo, permite, junto com a atividade de microrganismos, a reposição de nutrientes exportados pelas culturas, disponibilizando-os gradativamente para as colheitas seguintes; e a diversificação de espécies, em rotação, consorciação e/ou sucessão de culturas, é outra prática que contribui com a diversidade de microrganismos e qualidade do solo.

AgriBrasilis – Como se avaliam os índices de qualidade do solo e por que são importantes?

Maria Escobar – Cada solo apresenta propriedades físicas, químicas e biológicas que o caracterizam e diferenciam de outros solos. A avaliação da qualidade do solo é realizada por meio do uso de indicadores, que são: físicos (textura, estrutura, densidade do solo, porosidade, capacidade de retenção de umidade, formação e estabilização de agregados), químicos (potencial hidrogeniônico, capacidade de retenção iônica, disponibilidade de nutrientes, teor de matéria orgânica, condutividade elétrica, saturação por alumínio, saturação por bases e a relação C/N), e biológicos (presença de microrganismos, atividade enzimática, respirometria, biomassa microbiana, dentre outros).

Para obter e manter uma boa qualidade do solo, é necessário promover e manter em condições adequadas as propriedades do solo de uma forma conjunta, de modo que elas sejam favoráveis ao crescimento das plantas, desde a germinação das sementes, passando pelo crescimento inicial e desenvolvimento das culturas até a colheita.

AgriBrasilis – Os agrotóxicos prejudicam a qualidade dos solos?

Maria Escobar – Com o crescimento populacional, também aumenta o uso de insumos usados nas diferentes atividades agrícolas. Nas últimas décadas, as atividades agrícolas, quando praticadas em larga escala, se tornaram altamente dependentes da utilização de produtos que contêm compostos de baixa biodegradabilidade, classificados como elementos tóxicos persistentes, incluindo os agrotóxicos. Esses produtos comprometem a presença e atividade de microrganismos, e alteram a disponibilidade de nutrientes. Essa condição é desfavorável, e impede que o solo cumpra com a prestação de seus serviços ecossistêmicos.

AgriBrasilis – Por que estudar a distribuição de metais pesados no solo?

Maria Escobar – Resultados referentes à concentração de elementos no solo indicam a quantidade desse elemento, mas não necessariamente indicam se ele apresenta algum risco ambiental. A distribuição ou fracionamento químico do solo apresenta a quantidade de cada elemento avaliado nas diferentes frações do solo e que podem disponibilizar o elemento para a solução do solo na forma em que pode ser absorvido por plantas ou microrganismos, entrando na cadeia trófica e afetando a saúde do homem e demais organismos.

AgriBrasilis – Qual é o estado da arte da ciência do solo no Brasil?

Maria Escobar – O estudo do solo no Brasil remonta ao final do século XIX, com a criação de vários institutos agronômicos. Nessa época também começam a ser estruturados estudos sobre solos brasileiros.

No século XX continua a criação de institutos e laboratórios, além da realização de congressos e eventos sobre ciência do solo, e a realização dos primeiros levantamentos de solos do Brasil. Nessa época, surgem as primeiras publicações sobre manejo do solo e a criação de programas de educação (graduação e pós-graduação) em ciência do solo. Todas estas atividades têm acontecido de forma periódica até o momento, permitindo que o Brasil seja destaque mundial no que se refere ao estudo de ciência do solo.

AgriBrasilis – Qual é a atuação da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo? Que projetos estão sendo desenvolvidos?

Maria Escobar – A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) foi criada em 1947, para congregar pessoas e instituições na promoção e desenvolvimento da Ciência do Solo no Brasil. Trata-se de uma entidade científica e civil sem fins lucrativos.

A SBCS promove a aproximação e o intercâmbio intelectual daqueles que atuam na pesquisa, no ensino, na divulgação ou em atividades técnicas para o conhecimento e melhor utilização do solo e da água no Brasil, e difunde o conhecimento dos métodos científicos e das técnicas racionais de exploração, tratamento e conservação do solo e da água, por meio da realização de eventos técnico-científicos (congressos e reuniões) e publicações científicas, como a Revista Brasileira de Ciência do Solo e a Série de Tópicos em Ciência do Solo.

 

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