Inovação brasileira: nova tabela de maturação para a cultura do amendoim

“Pela primeira vez, foi desenvolvido um material brasileiro, voltado para nossas condições tropicais…”

Edvaldo Aparecido Amaral da Silva é professor da Universidade Estadual Paulista em Botucatu, graduado em agronomia e mestre pela Universidade Federal de Lavras, com doutorado pela Wageningen University e pós-doutorado pela Universidade Federal de Lavras.

Edvaldo da Silva (esquerda) e Gustavo de Oliveira (direita), da Unesp de Botucatu


AgriBrasilis – Quais os benefícios do desenvolvimento de uma nova tabela de maturação?

Edvaldo Amaral – A tabela de maturação possibilita com que o ponto de colheita seja definido com assertividade. Essa tabela foi desenvolvida como parte da tese de doutorado do Gustavo Fonseca de Oliveira, profissional que oriento. Com apoio da Copercana, nós criamos uma tabela inédita, focada na qualidade fisiológica de sementes. Isso significa que o agricultor poderá relacionar a morfologia da vagem com a qualidade fisiológica das sementes.

Até então, nós tínhamos disponível uma tabela de maturação produzida há bastante tempo, por pesquisadores americanos. Pela primeira vez, foi desenvolvido um material brasileiro, voltado para nossas condições tropicais. As informações geradas podem auxiliar produtores, gestores e estudantes sobre o processo de maturação do amendoim e aquisição da qualidade de sementes da cultura.

AgriBrasilis – A parte aérea da planta já não indicaria o ponto certo de colheita do amendoim? Por quê?

Edvaldo Amaral – A parte aérea da planta de amendoim traz indícios de que o ciclo está sendo finalizado. No entanto, para a produção de sementes é preciso considerar se o campo de produção alcançou ou não 70% de maturação.

Nem sempre o final do ciclo da planta coincide com a maturação adequada das vagens. No setor de sementes isso é muito importante porque é somente após a determinação da maturação que é possível decidir se o campo pode ser destinado para sementes ou grãos.

A tabela de maturação auxilia exatamente nisso: à partir de amostragens de plantas no campo e com as informações da tabela é possível verificar a maturação. Por fim, é possível decidir se o campo será destinado para sementes ou grãos de consumo.

No setor produtivo do amendoim, as perdas ocorrem principalmente devido ao sistema de colheita. As plantas são arrancadas do solo para remoção das vagens. Durante esse processo mecânico, muitas vagens ficam no solo ou sobre sua superfície. O amendoim permanece secando no ambiente por dois ou três dias e depois é recolhido por máquinas específicas. Somente são retiradas do campo as vagens presas às plantas. O restante será perdido.

AgriBrasilis – Como a qualidade das sementes de amendoim é avaliada? Que fatores definem uma boa semente?

Edvaldo Amaral – Para comercialização, a qualidade de sementes é avaliada por meio do teste de germinação. As informações sobre esse teste estão presentes nas Regras para Análise de Sementes, que trazem instruções oficiais para gerar laudos técnicos, aceitos pelo Ministério da Agricultura. As empresas que trabalham com sementes de amendoim podem também realizar o seu controle interno de qualidade por meio de testes de vigor como o teste de tetrazólio e a emergência de plântulas no campo. Essas informações trazem segurança para as empresas para a gestão da qualidade das sementes que serão entregues aos agricultores.

AgriBrasilis – Em que patamar se encontram as tecnologias de visão computacional para identificar a maturação do amendoim?

Edvaldo Amaral – Hoje, temos estudos já documentados sobre o uso de geotecnologias baseadas em reflectância e uso de drones para determinar de forma aérea a maturação das plantas de amendoim no campo. Trata-se de uma tecnologia promissora e que trará avanços no setor produtivo. Acredito que em breve essas inovações associadas ao uso de inteligência artificial mudarão a forma como tomamos decisões em diferentes frentes da agricultura. Isso inclui a tomada de decisão da colheita do amendoim destinado para sementes.

 

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