China é o maior mercado para o óleo de amendoim

“Trata-se de produto premium, pouco conhecido no Brasil, voltado ao mercado externo”

Rodrigo Chitarelli é CEO e sócio-fundador da CRAS Brasil, empresa focada no processamento de amendoim, madeiras beneficiadas e certificadas e trading de óleo de soja, farelo de soja e glicerina.

Chitarelli é formado em engenharia elétrica na Universidade Católica de Petrópolis, pós graduado em engenharia mecatrônica e automação industrial pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com MBA em Finanças e especialização em Gestão do Comércio Exterior pela FGV.

Rodrigo Chitarelli, CEO e sócio-fundador da CRAS Brasil


AgriBrasilis – Quais os principais produtos derivados do amendoim? Para quais segmentos esses produtos são destinados e por quê?

Rodrigo Chitarelli – Rico em óleo, proteínas e vitaminas, o amendoim é um alimento de origem brasileira, com diversas utilidades. A leguminosa tem destaque na culinária, com a produção de óleo de amendoim, por exemplo. Ele é rico em antioxidante e com alto ponto de fumaça, ideal para utilização para  frituras ou em saladas. Trata-se de produto premium, pouco conhecido no Brasil, voltado ao mercado externo, principalmente para os EUA, Europa e China.

O farelo de amendoim é excelente opção para alimentação de rebanhos, como bovinos de corte e leite, podendo ser ingrediente para rações diversas.

Produtos derivados da casca do amendoim podem ser utilizados para cama de frango na avicultura, combustível para queima em caldeiras ou produção de pellets para nutrição animal.

AgriBrasilis – Qual o mercado brasileiro de óleo de amendoim? Qual a importância da China nesse setor?

Rodrigo Chitarelli – Por ser um produto premium, o óleo de amendoim tem como destino o mercado externo. Queremos inserir o óleo na gastronomia nacional, por todas suas contribuições para a saúde e na qualidade do preparo de alimentos.

A China é o carro chefe das exportações. Hoje, na CRAS Brasil, 90% da comercialização é direcionada para o país asiático. Somos líderes na comercialização de óleo de amendoim entre China e Brasil.

A China é o maior mercado para o óleo de amendoim. O consumo de óleo de amendoim nesse país vem crescendo anualmente, com espaço para continuar evoluindo.

AgriBrasilis – De que formas o farelo de amendoim pode ser utilizado para alimentação animal? Qual a aceitação desse produto no setor pecuário?

Rodrigo Chitarelli – O farelo de amendoim, resíduo sólido obtido após a extração do óleo de amendoim, pode ser utilizado como componente nutricional da dieta animal, como fonte de proteínas, fibras e energia. Pode ser associado com outros ingredientes, como milho, bagaço de cana, polpa cítrica, ou utlizado na composição de rações balanceadas, exigindo um investimento menor que outras opções do mercado.

Com valor nutricional superior ao do farelo de algodão, semelhante ao do farelo de soja, o farelo de amendoim é excelente para engordar o rebanho.  Seu alto teor de proteína bruta (degradável no rúmen – PDR=82%) disponibiliza quase que de forma instantânea as proteínas para as bactérias que atuam na fermentação ruminal, o que é uma ótima vantagem nutricional. O farelo contém quantidades significativas de minerais, como cálcio, fósforo e potássio, bem como vitaminas do complexo B.

Estamos observando um crescimento no interesse pelo farelo de amendoim para nutrição de bovinos, suínos, aves e peixes. Um dos fatores é a disponibilidade maior do produto no mercado após a chegada de novas indústrias de amendoim, que garantem produção o ano inteiro.

AgriBrasilis – Qual o potencial do mercado interno de amendoim e derivados? Por que o consumo per capita no Brasil é tão baixo?

Rodrigo Chitarelli – A variedade de uso do amendoim é ampla. Há espaço para evoluir, principalmente se considerarmos que o consumo brasileiro per capita é cinco vezes menor que a média mundial.

Para crescer esse índice é preciso aumentar a produção no campo e estimular o consumo através de novos produtos que preencham necessidades da população. É o caso da pasta de amendoim, que rapidamente se tornou um dos suplementos proteicos mais procurados pelos adeptos dos exercícios físicos e fez surgir dezenas de marcas do produto, que antes era raro no mercado.

AgriBrasilis – Qual a atuação da CRAS no setor?

Rodrigo Chitarelli – Quando o assunto é o óleo e o farelo de amendoim, a CRAS Brasil faz o elo entre o produtor agrícola e o consumidor, trabalhando na industrialização dos produtos. Para potencializar esse mercado, nós atuamos ao lado de quem produz, proporcionando informações, apoio e novas variedades de sementes.

Atuamos com as principais empresas de pesquisa, como a Embrapa e o IAC, em novas variedades e linhagens de sementes que trazem melhor produtividade para o agricultor, fruto dos programas de melhoramento genético desenvolvidos no nosso Centro de Referência de Amendoim Sustentável.

O melhoramento resulta em sementes com maior concentração de óleo; menor espaço entre as plantas, aumentando a produtividade; menor ciclo de maturação das vagens, o que diminuiu o tempo de cultivo em mais de 20%; e a maior resistência a pragas e doenças, o que diminui os custos de produção.

A CRAS Brasil é a principal exportadora de óleo de amendoim do país e umas das três principais fornecedoras de farelo de amendoim no mercado interno.

AgriBrasilis – Em 2018, o faturamento da CRAS era de R$ 281 milhões, enquanto sua previsão para 2023 é de R$ 600 milhões. O que levou a esse crescimento?

Rodrigo Chitarelli – Desde a criação da empresa em 2011, o amendoim (óleo e farelo) é um dos pilares da CRAS Brasil. Em 2020 adquirimos uma fábrica em Itaju, SP, e investimos em novos equipamentos, que permitiram triplicar a produção.  Hoje, cerca de 600 caminhões são carregados por mês, volume 200% maior que o registrado há dois anos.

Outro segmento que potencializou o resultado positivo da companhia nos últimos anos foi o de produção de madeiras nobres com manejo sustentável em Belém, PA. Nesse caso, o foco é o mercado de construção civil, sendo que a empresa é uma das principais exportadoras de madeiras tropicais e forte distribuidora no mercado interno, com foco no eixo RJ e SP. Dentre as madeiras mais comercializadas destacamos: ipê, jatobá, garapa, tauari, maçaranduba, cumaru, angelim vermelho, angelim pedra, dentre outras, com todo o processo certificado FSC (Forest Stewardship Council), sendo referência em gestão de cadeia de custódia. Nos próximos anos, queremos aumentar a comercialização no mercado interno, atacando as principais capitais do país.

Essas atividades permitiram uma evolução significativa da empresa nos últimos quatro anos, quando crescemos em três vezes o nosso lucro líquido e multiplicamos por duas vezes e meia a nossa margem Ebitda, chegando à marca de 18%.

 

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