Preço do boi gordo caiu 22,6% em 12 meses

“…não esperamos uma oferta grande de confinamento no segundo semestre…”

Hyberville Paulo D’Athayde Neto é diretor da HN AGRO, e  consultor de mercados agropecuários. Neto é médico veterinário pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mestre pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, com MBA em gestão financeira pela Unopar.

Hyberville Neto, diretor da HN AGRO


AgriBrasilis – Como tem se comportado as exportações brasileiras de carne bovina para a China?

Hyberville Neto – Em maio foram exportadas 111 mil toneladas de carne bovina in natura para a China, um aumento de 16,5% ante o mesmo mês de 2022. Comparado com abril, o acréscimo foi de 173,5%. Em abril as vendas ao país ainda sentiam o efeito da suspensão ocorrida entre o final de fevereiro e o final de março, relacionada ao caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB, ou “doença da vaca louca”).

Em relação aos preços, houve aumento mensal de 2,8% na cotação média da carne vendida à China em maio, com média de US$ 5,25 mil/t. No entanto, o patamar está 27,2% abaixo do observado no mesmo mês de 2022, quando a cotação estava em US$ 7,22 mil/t (Secex).

Outro ponto que pode ser observado é que, apesar dos preços menores na comparação anual, tanto para China, como para os demais clientes, os valores que a China tem pagado a mais do que os outros clientes aumentou nos últimos meses. Em dezembro e janeiro, a cotação média da carne exportada para a China foi 0,4% e 2,5% superior à das exportações para os demais destinos, respectivamente. Em abril e maio, essa relação foi de 11,1% e 9,5%, respectivamente.

AgriBrasilis – Como o embargo chinês afetou os estoques de carne bovina no Brasil?

Hyberville Neto – A oferta maior de gado em 2023, relacionada ao ciclo pecuário, se somou ao escoamento mais fraco das exportações e aumentou a oferta de carne no mercado doméstico, desvalorizando o boi, a carne no atacado e, mais sutilmente, os preços no varejo.

Apesar de quedas para os pecuaristas e no atacado, a margem de comercialização do frigorífico, considerando o mercado doméstico, está interessante. Segundo dados do Cepea, na média parcial de junho, a cotação da carcaça no atacado supera em 5,5% o preço pago pelo boi gordo, o que é a melhor relação desde outubro de 2021.

AgriBrasilis – O que causou a queda de 18,5% na cotação do boi gordo em 2023? Quais são os efeitos no curto e médio prazo?

Hyberville Neto – A maior oferta de gado para abate associada a uma demanda doméstica moderada causou essa queda. Segundo o IBGE, no primeiro trimestre os abates de bovinos aumentaram 4,8% na comparação com 2022, puxados principalmente pelo aumento da oferta de vacas (18,7%) e novilhas (15,7%).

No mercado internacional, a expectativa do USDA para o ano é de mais um recorde de volume exportado pelo Brasil, mas o início de 2023 foi conturbado pela suspensão de vendas à China. Como citado, as vendas estão acelerando novamente e, apesar de preços menores, na comparação com 2022 os volumes têm sido bons.

AgriBrasilis – As projeções positivas para o consumo de carne bovina podem segurar essa diminuição dos preços?

Hyberville Neto – A expectativa do USDA é de aumento do consumo total de carne bovina no Brasil em 1,3% em 2023, na comparação com 2022.

Essa expectativa de aumento está relacionada ao acréscimo da oferta de carne (de fêmeas), relacionado ao ciclo pecuário. Com oferta maior de carne, se a exportação não escoar todo o “adicional” disponível, a tendência é que os preços caiam e isso estimule o escoamento no mercado interno, ainda que o poder de compra da população esteja moderado.

AgriBrasilis – Como os preços estão hoje em relação aos últimos doze meses? Qual a relação entre o preço e o consumo nesse período?

Hyberville Neto – Em doze meses, considerando a parcial de junho, o boi gordo cedeu 22,6%, enquanto a carcaça no atacado caiu 16,7% em valores nominais, segundo dados do Cepea.

Considerando as variações do IPCA, na média dos cortes bovinos acompanhados, a carne bovina cedeu 6,0% nos doze meses, considerados até maio (último IPCA disponível).

Ou seja, tivemos recuos maiores para o boi gordo do que no atacado, melhorando a margem de comercialização da indústria no mercado doméstico, e tivemos quedas mais relevantes no atacado que no varejo, onde a margem de comercialização também melhorou.

AgriBrasilis – Como as oscilações de custos impactam o preço final para o consumidor? Qual a tendência para 2023?

Hyberville Neto – Os custos influenciam a atratividade econômica de qualquer atividade, ou seja, estimulam ou desestimulam a produção, o que pode impactar os preços futuros. Não é uma transmissão automática e nem ocorre sempre, mas existe essa relação.

Na avicultura, por exemplo, é comum que ocorram ajustes de alojamento em função de margens apertadas ou negativas. Isso diminuí a produção e colabora com os preços posteriormente.

Pensando no momento da pecuária de corte, temos custos com alimentação em queda e custos com reposição contidos há algum tempo. Por um lado, isso colabora com a intenção de confinamento (que seria mais oferta adiante). No entanto, as quedas de preços de venda observadas nos últimos meses, tanto no mercado físico, quanto nos futuros, afetaram as projeções de resultados e o ânimo do produtor em confinar.

Como as cotações do milho cederam bem no passado recente, é possível que isso anime o produtor a fechar o gado, mas não esperamos uma oferta grande de confinamento no segundo semestre. Um cenário de confinamento tímido colabora com os preços em algum nível. Não podemos esquecer que 2023 é um ano de mais oferta, por isso não esperamos altas fortes de preços, mas alguma valorização pode ocorrer na segunda metade do ano.

Pensando no consumidor final, a tendência é que o mercado do boi gordo ganhe firmeza com a entressafra, o que deve sustentar preços ao longo da cadeia. O consumo doméstico um pouco melhor na segunda metade do ano, com destaque para o último trimestre, também não deve exigir que o varejo devolva muito das suas margens, o que deve manter os preços ao consumidor sustentados, com possíveis valorizações, mas moduladas pela economia.

AgriBrasilis – Qual a atuação da HN AGRO nesse setor?

Hyberville Neto – A HN AGRO atua em todos os elos do agronegócio, colaborando com o posicionamento e resultados das empresas por meio de pesquisas de mercado, projeções de oferta e demanda, elaboração de cenários e tendências, etc. Trabalhamos com reuniões e relatórios exclusivos de acompanhamento de mercado, feitos sob demanda.

Palestras sobre os mercados agropecuários também fazem parte dos nossos serviços, com cenários, expectativas, tendências e estratégias para produtores, agentes financeiros e empresários.

 

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