El Niño pode causar perdas mais severas na safra 2023/24

“Para a safrinha 2022/2023 temos um cenário de transição da La Niña para El Niño, que é bem favorável neste momento”

Aníbal Gusso é CEO e fundador da Agro Observer, pós-doutor em sensoriamento remoto aplicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Gusso foi professor de sensoriamento remoto e geoestatística na Unisinos e consultor para o mercado de commodities agrícolas.

Aníbal Gusso, CEO da Agro Observer


AgriBrasilis – Como o clima tem afetado os principais cultivos brasileiros e o que se espera para as próximas safras?

Aníbal Gusso – Na agricultura brasileira, qualquer percentual de perda associada com o clima terá cada vez mais impacto na produção. No Mato Grosso, em 2016, a seca associada a altas temperaturas ocasionou uma quebra de aproximadamente 10%, representando pouco mais de 2 milhões de toneladas de perdas. Atualmente, a alta produtividade no MT permite produzir mais de 40 milhões de toneladas. Logo, condições semelhantes decorrentes do tempo e do clima levariam embora mais de 4 milhões de toneladas de soja.

Por outro lado, o crescente cultivo da soja em áreas de várzea no Rio Grande do Sul, que vem ocorrendo nas últimas duas décadas, tem o objetivo de evitar o impacto de condições desfavoráveis como o estresse hídrico, mas também aproveitar as condições mais favoráveis da umidade do solo. Secas, ondas de calor ou chuvas intensas sempre ocorreram e são um grande desafio para o cultivo da safra de verão no RS.

Para a safrinha 2022/2023 temos um cenário de transição da La Niña para El Niño, que é bem favorável neste momento. Estados de menor expressão na produção do milho 2ª safra, como o Tocantins, vem sofrendo com excesso de chuvas. Mesmo assim, a safra deve ser média/boa para os maiores produtores como MT, PR, GO+DF e MS, com perdas de baixo impacto e muito localizadas.

Para a safra de verão 2023/2024, com a consolidação de El Niño, a Agro Observer está notando um cenário de perdas mais severas.

AgriBrasilis – Quais as atividades da Agro Observer? Como são realizadas suas projeções?

Aníbal Gusso – A Agro Observer é uma empresa brasileira de tecnologia para monitoramento global dos cultivos de soja e milho. Oferecemos consultoria para acompanhamento de evolução e prognósticos da safra com entrega de relatórios semanais detalhados.

Nossos relatórios abordam análise do cenário, mapas, gráficos e/ou tabelas descrevendo as condições de desenvolvimento das safras e as projeções até a colheita. Nossos relatórios e informes são elaborados de acordo com as demandas específicas dos clientes, sejam eles bancos, cooperativas, seguradoras, outras consultorias do agronegócio ou pessoas físicas.

AgriBrasilis – Como é realizado o monitoramento através de satélites? Quão acuradas são as estimativas realizadas com os dados obtidos?

Aníbal Gusso – De maneira simplificada, a coleta de dados ocorre por meio da análise da radiação solar refletida na superfície terrestre. Essa radiação é detectada pelos instrumentos sensores colocados a bordo de satélites. Esses instrumentos são capazes de interpretar e separar comprimentos de onda específicos da radiação, oriundos da faixa do visível, infravermelho ou termal.

Ao longo da safra, a Agro Observer entrega, por exemplo, uma análise objetiva com mapas e projeções de distribuição da produtividade nos campos de produção. Os mapas mostram quais são as áreas de melhor aproveitamento das condições e as áreas com expectativa de perdas. Isso ajuda o cliente/tomador de decisão a estabelecer uma perspectiva de médio prazo sobre os cenários possíveis.

Algumas das informações provenientes diretamente de imagens de satélite são a temperatura no dossel da vegetação, índice de vegetação e acumulado de chuvas, que têm características específicas de precisão associada aos instrumentos de medidas que vão a bordo dos satélites. Essa precisão, por sua vez, é testada e corrigida continuamente por meio de trabalhos científicos.

Para se ter uma ideia, o erro no dado de temperatura está entre 1 a 1,5 graus em cada pixel. Já para produtos de maior valor agregado, como a estimativa da produtividade, a margem de erro média estadual é de 2%, dependendo do estado.

 

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