“O Brasil tem um plano de prevenção sólido e vem se preparando há mais de 20 anos para evitar o ingresso do vírus.”
Ariel Mendes é o diretor-presidente da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas – FACTA, médico-veterinário formado pela Universidade Federal do Paraná, com mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado pela Universidade Nacional Autônoma do México.
A FACTA é uma organização civil sem fins lucrativos focada no fomento e na difusão de conhecimento e tecnologias para a avicultura.
AgriBrasilis – A entrada da gripe aviária no Brasil é uma ameaça iminente? Quais as consequências da ocorrência da doença no país?
Ariel Mendes – Com os recentes casos na Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Chile, Uruguai e Argentina, apenas Brasil e Paraguai ainda continuam livres dessa enfermidade na América do Sul.
Como o Brasil é um pais exportador, o ingresso do vírus em nosso território, em explorações comerciais, trará como consequência imediata a interrupção das exportações de carne de frangos e ovos para mercados que exigem a condição de “pais livre” da doença, além de enormes prejuízos financeiros com a mortalidade e sacrifício de milhares ou milhões de aves para erradicar os focos.
AgriBrasilis – Que ações estão sendo tomadas para prevenir a entrada da gripe aviária?
Ariel Mendes – O Brasil tem um plano de prevenção sólido e vem se preparando há mais de 20 anos para evitar o ingresso do vírus. Para isso, foram realizados investimentos robustos pelo setor público em infraestrutura de laboratórios para diagnóstico, treinamento, realização de simulados e criação de grupos de atendimento à emergências.
Quanto ao setor privado, foram realizados investimentos para a adequação de instalações, compra de EPIs e capacitação de pessoal.
AgriBrasilis – O setor avícola está preparado para eventuais medidas emergenciais? Qual o protocolo mediante a confirmação de casos?
Ariel Mendes – Sim, o setor está preparado. Mas, devido ao tamanho da avicultura brasileira, ainda existem alguns gargalos, como a necessidade de ampliar a capacidade de diagnóstico, estruturar melhor os fundos de indenização para a compensação das aves mortas e sacrificadas, e ampliar os casos de seguro sanitário, pois atualmente apenas o estado do Mato Grosso conta com esse mecanismo. Alguns estados ainda não dispõe de EPIs e insumos suficientes para a coleta de amostras e para o sacrifício e destinação das aves mortas.
AgriBrasilis – O senhor afirmou que “granja não é lugar de visita”. Por quê? Quais as principais práticas de biosseguridade na avicultura?
Ariel Mendes – Biosseguridade é a palavra-chave, pois como o vírus é carreado por aves migratórias e silvestres, as granjas devem ser blindadas para evitar a entrada no vírus nos galpões. Isso é feito por meio de telas anti-pássaros, combate a roedores, tratamento de água e material de cama, e pelos cuidados com os trabalhadores que devem tomar banho, trocar de roupa e calçados antes de entrar nos galpões.
Sobre a questão de visitas, hoje em dia é inadmissível receber pessoas estranhas nas granjas. No caso dos trabalhadores, os mesmos são proibidos de ter aves em suas casas, por exemplo. Devemos garantir que quem entra nas granjas não teve contato com aves de fundo de quintal ou silvestres, que podem estar contaminadas.
AgriBrasilis – O estado do Paraná solicitou junto ao MAPA para se tornar área produtiva autônoma. O que isso significa? Quais os passos necessários?
Ariel Mendes – Muitos certificados sanitários negociados com nossos importadores mencionam a exigência de “país, zona ou compartimento livre de Influenza Aviária”. Isso significa que, caso ocorra a entrada do vírus no Brasil, o Ministério da Agricultura vai propor uma zonificação, o que é justificável tendo em vista as dimensões continentais do país.
O plano está delineado, mas isso só ocorrerá após a entrada da enfermidade. Provavelmente essa zonificação será por Região ou Estado. Os Estados Unidos fizeram isso por condados, que são regiões equivalentes aos nossos municípios. O México também tem um programa de zonas livres, por exemplo.
Quanto a compartimentação, hoje todas as casas genéticas estão compartimentadas. Já no caso de produção de frangos, apenas a unidade da Seara de Itapiranga em Santa Catarina está compartimentada.
AgriBrasilis – Qual o cenário atual do setor avícola? Por quê?
Ariel Mendes – O setor de frangos de corte vem se recuperando de uma crise forte decorrente do aumento do custo dos insumos, principalmente milho e farelo de soja. Já o setor de postura comercial está passando por um bom momento por que os alojamentos estão ajustados.
Por outro lado, as exportações de carne de frango vêm batendo recordes principalmente devido a alta demanda da China. Isso deve continuar nos próximos meses ou até mesmo por anos se a situação da Influenza Aviária continuar nos Estados unidos e na Europa.
AgriBrasilis – O que tem motivado as sucessivas quedas no poder de compra dos avicultores?
Ariel Mendes – Isso decorre do aumento dos insumos, como mencionado acima, além do desequilíbrio entre oferta e demanda e por não conseguirmos repassar o aumento dos custos para o preço dos produtos.
O varejo no Brasil é muito organizado e consegue manter suas margens de lucros elevadas. Com isso, e com o baixo poder aquisitivo da população, o produtor é o elo fraco dessa cadeia. Só vamos conseguir reverter essa situação se conseguirmos ajustar a oferta à demanda, como ocorreu com o setor de produção de ovos.
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