Plano de contingência contra peste suína africana

“Até o momento não há uma vacina eficaz para o controle da PSA. Vários grupos de pesquisa estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger os animais…”

Geraldo Marcos de Moraes é diretor do Departamento de Saúde Animal e médico veterinário, auditor fiscal federal agropecuário do MAPA desde 2002.

Moraes foi responsável pela Coordenação de Febre Aftosa até 2004, participando ativamente dos pleitos nacionais de implantação das zonas livres de aftosa e das ações de emergência veterinária.

Geraldo de Moraes, diretor do Departamento de Saúde Animal


A peste suína africana (PSA) é uma doença viral hemorrágica, de alta letalidade, que afeta suínos e causa  grandes impactos econômicos e sociais, mas não representa risco à saúde pública.

No Brasil, as medidas adotadas pelo Serviço Veterinário Oficial brasileiro permitiram a erradicação da doença e o país foi declarado livre em 1984.

A PSA permaneceu restrita ao continente africano e a Sardenha desde a sua erradicação na Espanha (1995) e em Portugal (1999). Entretanto, em 2007, houve reintrodução do vírus na Europa pela Geórgia, na região do Cáucaso. Focos da doença foram registrados em outros países do leste e sudeste europeu, tendo javalis como principal fator de disseminação.

Em 2018, a PSA foi observada na Bélgica, e, em 2020, foram detectados centenas de javalis infectados na Alemanha, elevando o risco de disseminação da doença pelo continente. Ainda em 2018, o vírus foi detectado em suínos no leste da China e, a partir de 2019, a doença disseminou-se no sudeste asiático. Em 2021, depois de 40 anos sem a ocorrência da doença nas Américas, a PSA foi identificada na República Dominicana e no Haiti.

Dentre outras vias de transmissão, o vírus da PSA pode ser transmitido por carrapatos do gênero Ornithodoros. No Brasil, existem diferentes espécies (O. talaje, O. rostratus, O. brasiliensis, e O. nattereri) que, eventualmente, podem participar na transmissão do vírus da PSA.

(Adaptado do Plano de Contingência para Peste Suína Africana de setembro de 2022, do Sistema Nacional de Gestão de Emergências Agropecuárias e Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias)

AgriBrasilis – No que consiste o novo Plano de Contingência para Peste Suína Africana? 

Geraldo Moraes – O  Plano de Contingência para Peste Suína Africana faz parte do Plano de Ação para Prevenção da PSA, elaborado pelo MAPA em 2019. É um documento escrito pelo Departamento de Saúde Animal, com contribuição de diferentes agentes do serviço oficial de saúde animal do Brasil, de instituições de ensino e de pesquisa e de entidades representativas do setor privado, que descreve de forma detalhada, mas não exaustiva, todos os passos que o serviço veterinário brasileiro deve seguir para conter e erradicar um foco de peste suína africana, ou PSA.

O Plano descreve a doença, além dos objetivos, princípios e estratégias para sua contenção afetando a menor área e no menor tempo possível, caso ela seja reintroduzida no País.

Além disso, descreve como deve ser a organização do serviço veterinário brasileiro, de forma padronizada e seguindo o Sistema de Comando de Incidentes como modelo. Detalha, ainda, o planejamento e a execução das ações previstas. É utilizado na capacitação dos profissionais durante a realização de simulados.

AgriBrasilis – Que medidas de controle podem ser adotadas contra a PSA?

Geraldo Moraes – Até o momento não há uma vacina eficaz para o controle da PSA. Vários grupos de pesquisa estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger os animais e não causar nenhuma infecção ou manter a doença de forma subclínica.

As ações de prevenção e de controle estão descritas no Plano de ação para prevenção da PSA, citado anteriormente. Há diversas ações descritas para evitar que a doença ingresse e que, caso ocorra, seja rapidamente detectada e contida. Esse plano contém seis objetivos principais: evitar o ingresso, reduzir a exposição ao vírus, fortalecer a detecção, aperfeiçoar o diagnóstico, melhorar a resposta e minimizar os impactos diante de uma introdução do vírus da PSA.

Carrapato Ornithodoros rostratus em vista dorsal. Foto: Jaqueline Matias. Museu do carrapato, Embrapa Gado de Corte, MS.

AgriBrasilis – Por que se faz necessária a realização de um simulado de emergência zoossanitária contra a PSA? Para quais outras doenças esse simulado foi desenvolvido?

Geraldo Moraes – O exercício simulado serve para colocar em prática as atividades propostas no Plano de contingência, para corrigir possíveis falhas e melhorar a resposta do serviço veterinário brasileiro. O Brasil já conta com Planos de Contingência específicos para: Peste Suína Clássica, Influenza Aviária e Doença de NewCastle, Febre aftosa e agora para a Peste Suína Africana e tem realizado simulados para todas estas doenças.

O Brasil considera a febre aftosa, a peste suína clássica e a influenza aviária como doenças emergenciais. O modo e as estratégias de contenção são praticamente os mesmos, respeitando as peculiaridades de cada doença. Por exemplo, no ciclo epidemiológico da PSA, o carrapato tem um papel importante como vetor, o que deve ser considerado nas estratégias para controle da doença.

Simulação de emergência zoossanitária de febre aftosa, realizada em Mato Grosso

AgriBrasilis – Qual é a atuação e os objetivos do Departamento de Saúde Animal?

Geraldo Moraes – O Departamento de Saúde Animal, nessa área de Emergências Zoossanitárias, trabalha para aumentar a capacidade e o preparo do serviço veterinário brasileiro para detectar precocemente os casos de qualquer doença emergencial, controlando o mais rápido e no menor espaço possível, diminuindo ou impedindo a ocorrência e as consequências na saúde humana ou animal e diminuindo os impactos econômicos e sociais diante de uma possível ocorrência.

 

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