“As tarifas impactam aproximadamente US$ 11 bilhões em produtos brasileiros…”
Guilherme Abbud é CEO e diretor de investimentos da Persevera Asset Management, MBA pela INSEAD, formado em administração, com mestrado pela FEA/USP. 30 anos de experiência no mercado financeiro, ex-CIO do HSBC na América Latina.

Guilherme Abbud, CEO Persevera Asset Management
AgriBrasilis – Como as tarifas dos EUA impactam o agro?
Guilherme Abbud – As tarifas impactam aproximadamente US$ 11 bilhões em produtos brasileiros, sendo aproximadamente US$ 3 bilhões no agro.
AgriBrasilis – O senhor acredita que o Brasil conseguirá redirecionar as exportações?
Guilherme Abbud – Apesar de demandar tempo e trabalho, a experiência internacional e a própria experiência brasileira em eventos passados de sanções específicas, setoriais ou sanitárias é a de que o redirecionamento de exportações acaba por ocorrer e resolver grande parte da ansiedade e desafios impostos por sanções.
AgriBrasilis – Quais os riscos da dependência excessiva do mercado chinês?
Guilherme Abbud – O Brasil é de fato bastante dependente do mercado chinês, mas dada a inescapável necessidade de todo o mundo por produtos alimentícios, essa dependência é menos perigosa para o agro do que, por exemplo, para o setor de commodities metálicas.
“Existem 4 explicações clássicas que propôe justificar porque o Brasil precisaria de juros nominais e reais de outra magnitude…“
AgriBrasilis – De que forma o tarifaço afeta câmbio, inflação, balança comercial, e outras variáveis no Brasil?
Guilherme Abbud – O efeito é passageiro. O câmbio já se recuperou e deve continuar se apreciando em direção a BRL5,0/USD. Não há evidências de pressão inflacionária no Brasil advindo de tarifas e o espaço para queda de juros permanece importante. O efeito no crescimento do PIB é bastante limitado.
AgriBrasilis – Quais os mitos mais difundidos sobre a situação econômica brasileira?
Guilherme Abbud – Que o Brasil está rumando para uma situação fiscal de descontrole. Os inúmeros mecanismos e leis aprovados nos últimos anos, especialmente nos anos em que Henrique Meirelles e Paulo Guedes forma Ministros, tornaram o descontrole fiscal primário muito mais improvável do que no passado. Com isso, teremos um período de maior estabilidade cambial e inflação e juros muito menores à frente.
AgriBrasilis – Por que os juros seguem tão altos?
Guilherme Abbud – Porque o Banco Central do Brasil não acompanhou a evolução observada nos outros países emergentes nos últimos 15 anos, em que uma política de juros mais independente, mais gradualista e com melhor comunicação, substituiu a brutalidade e exagero do uso mecânico da Selic. Outros países têm ciclos de juros. O Brasil tem choques de juros.
Existem 4 explicações clássicas que propôe justificar porque o Brasil precisaria de juros nominais e reais de outra magnitude em relação a seus pares. Segundo essas, o Brasil teria:
- a maior distância entre inflação observada e meta entre os emergentes,
- inflação mais alta que seus pares,
- déficit fiscal primário mais alto que seus pares e,
- de longe a maior dívida pública entre seus pares.
Essas justificativas, porém, não são mais válidas. Esse cenário mudou muito durante os últimos 15 anos. Mesmo assim, o Brasil pratica taxas de juros reais que são o triplo ou quádruplo dos outros países emergentes.
É preciso um ambiente institucional de menos disputa política e de menos ruídos e discursos sobre desejos constantes de aumentos de gastos públicos, que torne o ambiente propício a uma discussão técnica e não política sobre a governança de política monetária no Brasil.
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