Preços, demanda e expectativas do mercado de fertilizantes

Published on: July 28, 2025

“Acreditamos que a demanda se manterá firme, ainda que com movimentos pontuais de ajuste em função do custo…”

Felipe Coutas de Souza é presidente da Itafos no Brasil, formado em direito pela Universidade Católica de Petrópolis, com MBA pela FGV.


Felipe Coutas de Souza, presidente da Itafos no Brasil

AgriBrasilis – Por que os preços dos fertilizantes estão aumentando?

Felipe Coutas – O aumento dos preços está relacionado a uma combinação de fatores geopolíticos, logísticos e estruturais. Conflitos internacionais têm encarecido o frete marítimo e impactado cadeias de suprimento, como enxofre e gás natural. Além disso, o Brasil ainda depende fortemente da importação de fertilizantes, o que nos torna mais vulneráveis à oscilação cambial e às condições globais.  

AgriBrasilis – Deve haver redução da demanda?

Felipe Coutas – Acreditamos que a demanda se manterá firme, ainda que com movimentos pontuais de ajuste em função do custo. O produtor brasileiro tem consciência da importância de manter a fertilidade do solo e tende a buscar alternativas mais eficientes e acessíveis — como os fosfatados nacionais. Por isso, vemos espaço para produtos como o fosfato natural reativo e os fosfatos parcialmente acidulados farelados e granulados, que entregam resultado técnico com custo mais acessível.  

AgriBrasilis – O setor vai fechar 2025 com resultados positivos?

Felipe Coutas – Ainda é cedo para dizer. Os sinais, porém, são positivos, especialmente para players com produção integrada, relacionamento próximo com o produtor, logística eficiente e portfólio técnico. No nosso caso, a retomada de Arraias, a entrada no mercado do fertilizante granulado e nossa consolidação na região do cerrado estão nos impulsionando.

AgriBrasilis – O Brasil tem capacidade de diminuir sua dependência em importação de fertilizantes? Qual seria o investimento necessário?

Felipe Coutas – O Brasil tem, sim, essa capacidade — mas ela depende de um plano estruturado de longo prazo. Hoje, mais de 80% dos fertilizantes utilizados no país são importados. Isso nos torna vulneráveis a flutuações cambiais e crises internacionais.

O Plano Nacional de Fertilizantes é um bom começo, mas precisa ser efetivado com segurança jurídica, incentivos estruturantes e políticas de Estado. A estimativa de investimentos é significativa, já que cada projeto envolve cifras consideráveis, que só virão se houver previsibilidade regulatória e acesso a insumos como gás e enxofre em condições competitivas.

O caminho passa por integrar a produção à jazida, como fazemos em Arraias. Isso reduz a dependência externa, melhora a eficiência logística e fortalece a soberania nacional sobre um insumo estratégico.

“…são iniciativas essenciais para cortar custos logísticos, garantir agilidade no abastecimento e melhorar a competitividade do agronegócio como um todo”

AgriBrasilis – A dependência do modal rodoviário ainda é um gargalo para o setor?

Felipe Coutas – Sim.  O setor de fertilizantes ainda depende do modal rodoviário e a logística continua sendo um dos maiores entraves para o setor de fertilizantes no Brasil. Embora tenha havido algum avanço nas ferrovias, a dependência do modal rodoviário ainda é muito grande.

Entre 2010 e 2022, o transporte ferroviário de fertilizantes cresceu 23%, mas a demanda aumentou mais de 80% no mesmo período, mantendo os caminhões como principal meio.

Isso implica custos elevados, gargalos sazonais e risco de desabastecimento. Por isso, acreditamos que produzir próximo das jazidas, com operação verticalizada, além de ampliar ferrovias e corredores logísticos são iniciativas essenciais para cortar custos logísticos, garantir agilidade no abastecimento e melhorar a competitividade do agronegócio como um todo.

AgriBrasilis – A produção de baterias para carros elétricos pode afetar o setor de fertilizantes?

Felipe Coutas – A indústria de baterias LFP (lítio-ferro-fosfato) tem crescido e pode gerar competição por insumos no médio e longo prazo. Ainda é cedo para mensurar impactos diretos, mas é um ponto de atenção — especialmente se os investimentos em fertilizantes não forem proporcionais à demanda projetada para múltiplos setores, o que exige atenção estratégica e planejamento para evitar gargalos.

O Brasil precisa se preparar para isso fortalecendo sua produção local, diversificando a origem dos insumos e antecipando movimentos globais.

AgriBrasilis – A Itafos chegou a sair do país durante a pandemia. O que fez a empresa retornar?

Felipe Coutas – A planta de Arraias foi temporariamente hibernada no fim de 2019, num contexto de reestruturação internacional e instabilidade de mercado.

O retorno, iniciado em 2022, veio após uma revisão estratégica que reconheceu o Brasil como mercado-chave, com potencial para crescimento sustentável, valorização do produto local e alinhamento com a agenda do Plano Nacional de Fertilizantes. Desde então, a Itafos vem apresentando resultados importantes e um crescimento.

Hoje, operamos de forma verticalizada, com produção própria, logística regionalizada e foco em inovação e sustentabilidade. Estamos investindo fortemente no país, foram mais de R$100 milhões de reais investidos no Brasil de 2022 a 2024. 

Projetamos um crescimento contínuo até 2026, com a Itafos se tornando um fornecedor relevante no cenário nacional. Nosso produto tem sinergia plena com as culturas da região, e queremos estar cada vez mais perto de quem faz o agro acontecer.

 

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