“Entre os principais produtos do agro exportados para os EUA estão o café, a carne bovina e o suco de laranja…”
Fabio Solferini é CEO da StoneX Brasil, formado em administração pela USP, com MBA pela INDEAD.
Solferini foi nomeado CEO da StoneX Brasil em agosto de 2010 e eleito Presidente do Conselho de Administração da StoneX CDI em novembro de 2022, após a aquisição da CDI-Société Cotonnière de Distribution S.A.

Fabio Solferini, CEO da StoneX Brasil
AgriBrasilis – Quais os possíveis cenários para o agro brasileiro em relação ao “tarifaço” dos EUA?
Fabio Solferini – Os EUA são um destino importante para as exportações do agronegócio brasileiro. Por isso, uma redução no comércio com os EUA pode trazer impactos significativos para determinados setores da economia nacional.
Entre os principais produtos do agro exportados para os EUA estão o café, a carne bovina e o suco de laranja. Esses segmentos podem ser duramente afetados por quedas nos volumes embarcados e pela redução na receita de exportação, o que geraria impactos para empresas, trabalhadores e investidores direta ou indiretamente envolvidos nessas cadeias produtivas. Além disso, o mercado interno norte-americano pode enfrentar maiores níveis e inflação. Cabe destacar que os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de café e esse mercado passar por um momento de preços já muito elevados.
AgriBrasilis – Como a dependência de grandes compradores e a volatilidade dos preços impactam o setor?
Fabio Solferini – A ameaça de tarifas sobre as exportações brasileiras também pode provocar volatilidade, dificultando a tomada de decisão no setor. Relações de troca podem ser afetadas, decisões de investimento podem ser adiadas e a variação das cotações pode impactar a dinâmica entre oferta e demanda, reduzindo a previsibilidade do agro nacional.
Considerando que os EUA são um parceiro comercial estratégico para o Brasil, uma redução drástica das exportações, se não for rapidamente compensada pela abertura de novos mercados ou pelo redirecionamento dos fluxos comerciais, representaria uma péssima notícia para o agro brasileiro.
AgriBrasilis – Quais as consequências das tensões no Oriente Médio para o mercado de fertilizantes nitrogenados?
Fabio Solferini – O conflito no Oriente Médio trouxe mais incerteza para um setor que já apresentava sinais de firmeza. Quando se trata do mercado de nitrogenados, o Brasil é altamente dependente das importações. Por isso, um conflito como o ocorrido entre Israel e o Irã reascende dúvidas sobre o comércio global de fertilizantes, trazendo preocupações aos importadores, especialmente os brasileiros.
Durante o confronto, o Egito e o Irã interromperam a produção de nitrogenados. Isso gerou, ainda que temporariamente, um aperto na oferta global de nitrogenados, impulsionando as cotações da ureia em diversos países. Além disso, os riscos logísticos resultaram em custos mais altos para o transporte de fertilizantes da região.
Atualmente, o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Irã acalmou os ânimos do mercado, e a produção de nitrogenados no Egito e no Irã já foi restaurada. Os riscos para o mercado de fertilizantes caíram consideravelmente desde a redução das tensões no Oriente Médio. Contudo, os preços da ureia seguem acima dos patamares registrados antes do conflito, o que não é uma boa notícia para os compradores brasileiros, especialmente para os que precisam de nitrogenados para a safra 2025/26.
AgriBrasilis – Como o senhor enxerga o panorama atual do agro, com insumos em alta e Plano Safra abaixo do esperado?
Fabio Solferini – O Plano Safra 2025/2026 reflete os desafios de um cenário de restrições orçamentárias do governo e de aumento expressivo da taxa básica de juros (Selic). O aumento dos recursos disponibilizados não conseguiu acompanhar a inflação em relação à safra 2024/2025 e a maioria das taxas de juros incentivadas teve crescimento de 1,5 ou 2,0 pontos percentuais.
As oscilações nos preços das commodities, o nível de endividamento mais elevado após investimentos recentes e as condições mais restritivas para o crédito trazem desafios para o setor, porém ainda enxergamos uma expansão do segmento para os próximos anos, ainda que a um ritmo mais moderado.
AgriBrasilis – Quais as expectativas da StoneX para o mercado de commodities?
Fabio Solferini – De maneira geral, o setor de commodities agrícolas no Brasil enfrenta custos produtivos mais altos, o que tem penalizado os segmentos com diminuição de receitas, como o complexo de grãos e algodão.
Condições mais restritivas de crédito, com juros mais altos, aumentam os desafios para os produtores, o que deve resultar em um crescimento mais lento da produção agropecuária, principalmente nas culturas com preços mais pressionados. Por outro lado, alguns setores contam com margens mais favoráveis em função de preços elevados no mercado global, como café e cacau.
A aprovação de novas diretrizes de mistura de biodiesel e etanol nos combustíveis, que devem entrar em vigor em agosto, deve expandir a absorção doméstica da produção de commodities agrícolas e contribuir para um cenário mais favorável aos produtores brasileiros. Isto é particularmente importante em um momento de indefinição para o mercado externo, com receios de que a imposição de tarifas de importação pelos EUA reduza o crescimento econômico global e, por consequência, também diminua a demanda por commodities. Porém, as próprias tensões comerciais podem resultar em mais oportunidades para o agronegócio brasileiro, visto que é possível que outros países queiram diminuir a dependência de produtos americanos, o que beneficiaria os setores em que Brasil e EUA competem globalmente, como é o caso de grãos e algodão.
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