“Depender de importações sempre traz riscos significativos…”
César Palacio Martínez é consultor internacional para empresas do setor de agronegócios, com 25 anos de carreira no setor de fertilizantes e corretivos de solo na Colômbia e na América Latina.

César Martínez, consultor internacional
AgriBrasilis – Quão preocupante é a dependência da Colômbia de fertilizantes importados?
César Martínez – A dependência da Colômbia, assim como a da maioria dos países latino-americanos, é um desafio. No caso colombiano, mais de 90% dos fertilizantes para o solo são importados. Isso se deve à escassa presença de minas de fertilizantes, à baixa produção de ureia e fósforo inorgânico e à limitada exploração de potássio na região.
Atualmente, a produção de ureia na América Latina está limitada a Trinidad e Tobago, Argentina, Bolívia, Venezuela e Brasil; o Chile produz potássio; e o Peru tem uma fonte interessante de fósforo mineral em Bayóvar.
Depender de importações sempre traz riscos significativos para o fornecimento oportuno e eficiente, uma vez que fatores socioeconômicos, logísticos, sazonais, climáticos e financeiros podem afetar a disponibilidade ou os preços.
AgriBrasilis – Quais são os principais fatores que impactaram o mercado?
César Martínez – O mercado de fertilizantes para solo tem sido impactado por conflitos armados em países produtores, clima, flutuações cambiais, interrupções logísticas globais, mudanças inesperadas em rotas de transporte, custo do gás (um insumo essencial), sazonalidade do consumo em potências agrícolas, disponibilidade de água para as plantações e acesso à tecnologia por agricultores, entre outros fatores.
AgriBrasilis – Quais são as conclusões do relatório que você preparou sobre as principais empresas do mercado colombiano?
César Martínez – A Colômbia mantém um consumo anual de fertilizantes próximo a dois milhões de toneladas. O mercado evoluiu de um duopólio para uma concorrência aberta, com mais de 10 empresas representativas de diversas origens de capital. Há uma preferência particular por fertilizantes NPK complexos granulares, e o uso de misturas físicas está crescendo. Em termos de receita, a Yara permanece líder, seguida pela Precisagro e Nitrofert. A entrada e o crescimento sustentado de novas empresas como Nitrofert, EvoAgro e Disan são evidentes.
“A Colômbia está avançando no uso de biofertilizantes, em linha com a crescente conscientização ambiental na América Latina…”
AgriBrasilis – Como as práticas de sustentabilidade evoluíram no setor?
César Martínez – Sustentabilidade e boas práticas ambientais tornaram-se questões corporativas essenciais para empresas de fertilizantes na Colômbia e na América Latina. A descarbonização dos processos de produção, o uso de energias renováveis e a economia circular são agora projetos empresariais concretos.
Na Colômbia, a Yara e a Monómeros estão avançando com projetos de descarbonização e implementando tecnologias para reduzir emissões e utilizar materiais reciclados em suas embalagens.
A indústria busca a descarbonização por meio do uso de hidrogênio verde ou de baixa emissão, produzido com fontes de energia renováveis, como eólica, hidrelétrica ou solar, ou biomassa para gerar amônia verde e, consequentemente, fertilizantes verdes.
A Monómeros, com o apoio da GIZ, assinou um acordo para produzir ácido nítrico verde com tecnologias de redução de óxido nitroso, o que reduzirá suas emissões totais em 50%.
Por sua vez, a Yara Colômbia implementou um projeto de descarbonização com uma planta de redução de gases de efeito estufa que eliminará 500.000 toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.
Além disso, a Celsia e a Hevolucion estão explorando oportunidades em hidrogênio verde, incluindo seu uso para produzir fertilizantes verdes.
A indústria de fertilizantes e corretivos de solo está adotando um modelo de economia circular para maximizar o valor dos recursos, minimizar o desperdício e reincorporar subprodutos, tanto agrícolas (por exemplo, bagaço, casca de arroz), pecuários (por exemplo, esterco, penas, farinha de ossos) quanto industriais (por exemplo, escórias de aço e resíduos de outras indústrias).
AgriBrasilis – Como tem evoluído a adoção de biofertilizantes no país?
César Martínez – A Colômbia está avançando no uso de biofertilizantes, em linha com a crescente conscientização ambiental na América Latina. É essencial aproveitar ao máximo os microrganismos benéficos e utilizar produtos de qualidade e eficazes, sempre aplicando-os de forma técnica e segura.
Na Colômbia, os microrganismos que recebem maior atenção são solubilizadores e mobilizadores de fósforo, fixadores de nitrogênio e sintetizadores de sideróforos. O principal objetivo desses microrganismos é dissolver minerais como apatita (rocha fosfática), silicato de magnésio, cal agrícola e dolomita, bem como micronutrientes no solo, melhorando a eficácia dos insumos para nutrição e enriquecimento do solo.
AgriBrasilis – Como o conflito entre Irã e Israel pode afetar o setor?
César Martínez – Qualquer interrupção na cadeia global de produção de fertilizantes afetaria seu fornecimento, tanto em preço quanto em disponibilidade. O Oriente Médio é uma região-chave na produção de fertilizantes e está diretamente ligado ao gás, um insumo essencial. Portanto, diante da possibilidade de escassez com demanda sustentada, o mercado reage imediatamente à lei da oferta e da demanda, impactando a oferta e o custo desses insumos essenciais.
LEIA MAIS: