“No entanto, a queda nos preços dos produtos está ajustando a margem da atividade…”
Lorena D’angelo é analista de mercado e consultora comercial, formada em contabilidade pela PUC, mestre em finanças pela Universidad del CEMA.

Lorena D’angelo, analista de mercado
AgriBrasilis – O cenário é favorável para o produtor de grãos na Argentina?
Lorena D’angelo – O produtor está em uma situação melhor do que o esperado, pois está colhendo mais do que o que foi inicialmente estimado, quando o tempo seco afetou o potencial produtivo. No entanto, a queda nos preços dos produtos está ajustando a margem da atividade, visto que os preços recebidos pelos produtores estão abaixo dos valores internacionais devido às taxas de exportação cobradas pelo governo argentino.
Além disso, há alguns produtores que, apesar da melhora na produtividade da soja, tiveram duas safras anteriores afetadas pelo clima.
AgriBrasilis – Como as mudanças na taxa de câmbio afetam o setor?
Lorena D’angelo – Após a decisão do governo argentino de suspender as restrições cambiais sobre algumas entidades econômicas, o setor conta com uma taxa de câmbio única para a liquidação de suas colheitas. Alguns escolhem vender suas colheitas em dólares americanos e outros em pesos argentinos, mas no fim das contas todos são pagos em pesos argentinos.
A unificação cambial obriga o setor a operar com uma taxa de câmbio única, atualmente muito semelhante à anterior, por conta da chamada “mistura” (composta por 80% no câmbio oficial e 20% no CCL, o dólar “contado com liquidação”), porém com preços menores em dólar.
A medida adotada pelo governo é favorável para todo o setor, mas ele ainda precisa se ajustar à volatilidade do câmbio, que opera de acordo com a oferta e a demanda de dólares no mercado.
AgriBrasilis – Como tem sido o desempenho das vendas de soja nos últimos meses?
Lorena D’angelo – As vendas dos produtores argentinos ficaram abaixo das médias de outros anos no mesmo período. A incerteza sobre a evolução da taxa de câmbio, preços baixos e taxas de exportação levaram à previsão de baixo giro.
Entretanto, com a unificação cambial e o avanço da colheita da soja, os produtores começaram a vender e, nos últimos dias, o volume de vendas acelerou, embora o volume acumulado seja 9,5% menor que no mesmo período do ano passado.
AgriBrasilis – Como o congestionamento nos portos está impactando os preços dos grãos?
Lorena D’angelo – O aumento dos negócios, assim como o andamento da colheita, que havia sido atrasada pelo tempo chuvoso, impulsionaram o fluxo de mercadorias para terminais portuários e usinas de beneficiamento de oleaginosas.
Aproximadamente 5.000 caminhões chegam diariamente aos portos do Up-River, que se estendem da cidade de Timbúes, no Norte, até Villa Constitución, no Sul.
Com base nesses registros, comuns nessa época do ano, observamos problemas no descarregamento nos destinos de maior demanda, fazendo com que grande volume da colheita fique retido nos campos em silos-bolsas ou seja encaminhado para armazéns.
AgriBrasilis – Os novos acordos com o FMI são positivos para a agricultura?
Lorena D’angelo – O acordo do governo com o FMI é uma boa notícia para o país, dada a entrada de dólares que permite o aumento das reservas e talvez alivie um pouco a pressão sobre o setor para vender a produção para liquidar divisas.
Da mesma forma, dado o balanço do Banco Central, a necessidade de liquidação do setor agroexportador continua sendo necessária, e de fato foi observado um aumento nos últimos meses devido à chegada da safra de grãos.
AgriBrasilis – Qual é a perspectiva atual para a política de retenciones?
Lorena D’angelo – Em 25 de janeiro, o governo emitiu um decreto reduzindo temporariamente as taxas de exportação de produtos agrícolas até 30 de junho. No caso dos cereais, elas passaram de 12% para 9,5%, enquanto a soja passou de 33% para 26% e os subprodutos de 31% para 24,5%.
Declarações recentes do Presidente da Nação e do Ministro da Economia indicam que o decreto expirará na data estabelecida e, a partir de 1º de julho, as taxas anteriores serão retomadas.
Com base nessas definições, muitos produtores, principalmente os de soja, têm acionado negócios para capturar os melhores preços e aplicá-los às necessidades financeiras, comprar insumos para o próximo ciclo de negócios ou simplesmente investir em outros ativos.
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