“… a limitação temporal das retenciones gera incerteza no setor, dificultando a tomada de decisões…”
Martín Biscaisaque é engenheiro agrônomo pela Universidade de La Plata. Atualmente, é sócio-gerente da Vocación SRL, empresa agrícola, pecuária e florestal localizada no sudeste de Buenos Aires, com um vinhedo e uma vinícola em Barreal, San Juan.
Biscaisaque foi presidente da Comissão de Agricultura do CREA (2014-2016), representante do CREA na Argentrigo em 2021 e, desde 2024, presidente da Argentrigo.

Martín Biscaisaque, presidente da Argentrigo
AgriBrasilis – Como a guerra comercial EUA-China afeta o mercado de trigo da Argentina?
Biscaisaque – A instabilidade global gerada pelas tensões entre essas duas potências alterou as dinâmicas internacionais, afetando tanto os preços quanto os fluxos comerciais no mercado de grãos. No entanto, a alta qualidade e competitividade do trigo argentino nos permite adaptar-nos por meio da diversificação de destinos e do fortalecimento de nossos mecanismos de exportação, posicionando-nos favoravelmente em um ambiente global em constante mudança.
AgriBrasilis – O trigo argentino entrou de vez no mercado chinês?
Biscaisaque – Conseguimos avanços significativos no acesso ao mercado chinês ao negociar um protocolo fitossanitário para a exportação de trigo ao país asiático. No entanto, ainda não foram concretizadas operações para esse destino. O mercado está aberto, restando apenas a oportunidade comercial para iniciar esse fluxo de exportação.
AgriBrasilis – Como ampliar a presença no mercado internacional?
Biscaisaque – À medida que a produção de trigo aumentar, a Argentina poderá ampliar sua presença no mercado internacional e recuperar parte da participação que já teve. Os volumes exportados nos últimos anos – cerca de 3 milhões de toneladas em 2023, impactados pela seca, e 8,1 milhões de toneladas em 2024 – ainda estão distantes dos volumes exportados entre 2017 e 2022, que chegaram a um máximo de 14 milhões em 2022. A negociação para melhorar o acesso aos países de destino, o fortalecimento logístico por meio de alianças estratégicas e a participação em feiras globais permitirão abrir novos mercados e atender às demandas tanto de mercados emergentes quanto de nossos destinos tradicionais.
“A cotação do trigo tem se mostrado volátil, influenciada por fatores internacionais…”
AgriBrasilis – Quais os impactos da redução das retenciones sobre o trigo?
Biscaisaque – A redução das retenciones representou um alívio fiscal que se traduz em maiores margens para os produtores, proporcionando uma vantagem competitiva nos mercados internacionais. No entanto, é fundamental destacar que essa medida tem vigência até 30 de junho, o que significa que não impactará a próxima safra. Essa limitação temporal gera incerteza no setor, dificultando a tomada de decisões quanto à área de plantio e à formulação de estratégias de cobertura de preços em um cenário já marcado pela volatilidade.
AgriBrasilis – Como têm se comportado os preços do cereal?
Biscaisaque – A cotação do trigo tem se mostrado volátil, influenciada por fatores internacionais, flutuações do dólar e condições climáticas adversas. Ainda assim, o compromisso com a qualidade que caracteriza nosso grão tem permitido manter preços competitivos no mercado FOB, garantindo uma posição sólida mesmo diante de conjunturas desfavoráveis.
AgriBrasilis – O que mudou após a aprovação do trigo HB4?
Biscaisaque – A aprovação do trigo HB4 representa um avanço significativo para o setor, incorporando uma variedade mais resistente à seca e com uso mais eficiente de herbicidas. No entanto, apesar das aprovações em alguns países, até o momento não foram concretizados negócios de exportação deste produto. Toda a produção tem sido destinada exclusivamente à indústria moageira local, e, por ora, não há perspectivas de mudanças significativas nesse cenário.
AgriBrasilis – Quais as perdas estimadas com a seca nas últimas safras?
Biscaisaque – As condições de seca afetaram significativamente algumas regiões-chave de produção, com perdas estimadas em até 10%. Esse cenário evidencia a necessidade contínua de investimentos em tecnologias de irrigação e na adoção de práticas agronômicas que minimizem os impactos das condições climáticas adversas, fortalecendo a resiliência e a continuidade produtiva do setor.
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