Problemas com nematoides são agravados pelo monocultivo

Bionematicidas

“Os problemas com nematoides costumam ser agravados pelo monocultivo e pela sucessão de plantas suscetíveis…”

Cláudia Dias-Arieira é professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Maringá – UEM, engenheira agrônoma e mestre pela UEM, com doutorado em fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa.

Bionematicidas

Cláudia Dias-Arieira,  pesquisadora da UEM


Nematoides são organismos vermiformes encontrados nos mais diferentes habitats, sendo o solo um ambiente com elevada abundância deles. Muitas espécies são benéficas, incluindo os nematoides onívoros, bacteriófagos, fungívoros, nematófagos, etc. No entanto, nos solos agrícolas predominam os nematoides parasitas de plantas, os quais são parasitas obrigatórios, ou seja, só se alimentam de plantas vivas. Existem alguns poucos nematoides que também podem se alimentar de fungos no solo, como é o caso do Aphelenchoides besseyi.

Dentre os nematoides parasitas de plantas, há espécies que apresentam ampla gama de hospedeiros, parasitando praticamente todas as plantas cultivadas, como é o caso de Meloidogyne incognita, M. javanica, Pratylenchus brachyurus e Helicotylenchus dihystera. Por outro lado, existem espécies cuja gama de hospedeiros é mais restrita, podendo tomar como exemplo Heterodera glycines, que parasita soja e algumas outras leguminosas, e Radopholus similis, o nematoide cavernícola, que tem como principal hospedeiro a bananeira. As principais espécies de nematoides que ocorrem no Brasil são nativas, ou seja, estão presentes naturalmente em nossas áreas. Por isso, eliminá-las é praticamente impossível, sendo necessário aprender a conviver com elas.

Estratégias de manejo

Dentro das estratégias de manejo, as plantas de cobertura são importantes aliadas, desde que o produtor conheça as espécies de nematoides presentes em cada área (por meio de análise laboratorial) e tenha a assessoria de um consultor para planejar o manejo correto, visto que uma planta pode ser má-hospedeira de uma espécie, mas aumentar outras.

O controle biológico foi o método de manejo de nematoides que mais cresceu nos últimos anos, com aumento exponencial do mercado nacional e perspectivas para dobrar o faturamento em nematicidas nos próximos anos. Uma série de fatores contribuíram para esse, cenário especialmente a alta eficiência de controle conferida pelos bionematicidas, visto que, em muitos casos, tais produtos conferem proteção igual ou superior ao controle químico. O mercado também foi impulsionado pelo número de produtos registrados no MAPA, os avanços nas formulações, na facilidade operacional e no tempo de armazenamento.

Mercado de nematicidas

O mercado de nematicidas é muito dinâmico e a busca por novos produtos tem sido constante. Assim, dentro dos produtos químicos, o produtor pode encontrar novas moléculas com mecanismos de ação diferentes daquelas já amplamente usadas, incluindo os inibidores da enzima succinato-coenzima Q redutase, no complexo mitocondrial II da cadeia de transporte de elétrons (fluopiram, que já está disponível no mercado, e ciclobutrifluram, com previsão de lançamento dentro de alguns meses), além dos produtos do grupo das fluazaindolizinas. Tais produtos não substituíram o controle químico já conhecido pelo produtor, como tiodicarbe e abamectina, mas vem como novas opções para o mercado.

“As principais espécies de nematoides que ocorrem no Brasil são nativas”

No mercado de bionematicidas, o maior crescimento foi para produtos contendo bactérias do gênero Bacillus. As empresas buscam constantemente melhorar suas formulações e a eficiência dos seus produtos, combinando espécies e/ou cepas, além dos avanços nas formulações, que facilitam o transporte, armazenamento e a parte operacional. Além disso, existem inúmeras pesquisas a respeito de extratos de plantas e algas, metabólitos secundários, e novas espécies de fungos e bactérias, que deverão aquecer ainda mais o mercado de nematicidas.

Os problemas com nematoides costumam ser agravados pelo monocultivo e pela sucessão de plantas suscetíveis, como o sistema soja-milho, cana-de-açúcar e café, visto que, nessas condições, os nematoides se alimentam e se reproduzem praticamente o ano todo. Mesmo nesses casos, é possível manejar e conviver com os nematoides parasitas de plantas para evitar perdas na produtividade, desde que o planejamento e o monitoramento da área sejam assistidos por um profissional experiente.

 

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