Blockchain para rastrear carnes e derivados já é realidade

“É uma forma que os consumidores têm de escolher o que e como consomem, para poderem recompensar os produtores alinhados com os seus valores.”

Diego Heinrich é CEO da Origino e cofundador da Carnes Validadas, foi membro do conselho de administração da Associação Argentina de Produtores de Plantio Direto e vice-presidente da Associação de Milho e Sorgo da Argentina.

Heinrich é engenheiro agrônomo pela Universidad Nacional de Mar del Plata, com MBA pela Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.

A plataforma argentina Carnes Validadas permite o gerenciamento e a transferência de dados de diferentes elos da cadeia produtiva da carne, informando consumidores sobre certificações da cadeia, idade e peso do animal, o tipo de ração consumida, etc.

Diego Heinrich, CEO da Origino e cofundador da Carnes Validadas


AgriBrasilis – O que é blockchain? Por que essa tecnologia é uma boa opção para rastreabilidade de carnes?

Diego Heinrich – A blockchain é uma tecnologia de registro que permite o armazenamento seguro e a validação de dados e transações. É baseado em uma rede descentralizada, que mantêm cópias idênticas de um registro compartilhado.

Depois que uma informação é adicionada à blockchain, é praticamente impossível modificá-la ou removê-la, tornando-a segura e confiável.

Essa tecnologia tem sido usada principalmente para criptomoedas, mas também está sendo explorada em uma variedade de aplicações comerciais e governamentais, como rastreabilidade de produtos, gerenciamento de contratos e votação online.

A tecnologia blockchain pode ser aplicada à indústria da carne de várias maneiras. Por exemplo:

  • Registro de transações: para manter um registro seguro e confiável das transações de compra e venda de carne em toda a cadeia de suprimentos, melhorando a eficiência e transparência;
  • Rastreabilidade: para rastrear produtos à base de carne em toda a cadeia de suprimentos. Importante para atender aos padrões de qualidade e sanitários;
  • Gestão de contratos: para automatizar a gestão de contratos e acordos comerciais entre empresas do setor de carnes. Pode reduzir erros e acelerar negociações;
  • Otimização da cadeia de suprimentos: permite melhor visibilidade e coordenação entre diferentes participantes da cadeia.

Existem muitas razões pelas quais uma empresa do setor de carnes deve considerar a implementação de estratégias de rastreabilidade estendida de blockchain em suas cadeias de suprimentos.

É possível dar ao consumidor a informação que ele necessita, em termos de sustentabilidade, ética na produção, etc.; atender às exigências da regulamentação, ou seja, produzir de forma livre de desmatamento, de trabalho escravo ou infantil, observando práticas produtivas sustentáveis.

Pode-se digitalizar transações entre participantes da cadeia produtiva, dar confiança e transparência aos processos produtivos; além de controlar e/ou fidelizar os fornecedores das cadeias de abastecimento.

AgriBrasilis – Como o sistema de rastreabilidade por blockchain está relacionado ao processo de certificação de carnes na Argentina?

Diego Heinrich – A relação é de complementaridade. A rastreabilidade é definida como a reconstrução do local ou locais onde foram realizadas as transformações em um produto. Por exemplo, na pecuária se refere à cria, recria, engorda, abate, etc.

Quando falamos em rastreabilidade de carne ampliada por origem, não se trata apenas da identificação da cabeça, ou seu local de origem, com o nome do estabelecimento. Estamos falando de fotos, vídeos, robótica, interações via satélite. A quantidade de dados que se pode levantar, entre eles as certificações de locais ou processos de produção, é infinita.

Uma embalagem de carne pode, por exemplo, mostrar a história, a linha do tempo, fotos, vídeos, etc. O consumidor pode acompanhar essas informações escaneando um QR code direto da embalagem.

AgriBrasilis – Qual é a panorama da rastreabilidade de alimentos? O rastreamento por blockchain é usado em outras cadeias de produção, além das carnes?

Diego Heinrich – A rastreabilidade é um canal de comunicação entre o primeiro elo de uma cadeia de suprimentos e os demais atores, até chegar ao consumidor, de uma ponta a outra. Por isso é e será cada vez mais relevante.

É uma forma que os consumidores têm de escolher o que e como consomem, para poderem recompensar os produtores alinhados com os seus valores. Ao conectar produtores “ponta a ponta” (“end2end”), processadores, comerciantes e consumidores, serão possíveis cadeias de suprimentos alinhadas por valores de produção.

 

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