A era digital da pecuária leiteira

“Desmistificar a aplicação da tecnologia no campo é importante para adesão dos pecuaristas…”

Laerte Cassoli é CEO da Rúmina, agrônomo, mestre em gestão de fazendas e doutor em qualidade do leite pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo. Participou da construção da Clínica do Leite, da Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite. Possui MBA em gestão de negócios pela USP e tecnologia aplicada a negócios pela PUC.

Cassoli também é fundador da OnFarm, startup voltada ao controle da mastite e que integra a Rúmina, ecossistema de soluções digitais para pecuaristas de leite e de corte.

Laerte Cassoli, CEO da Rúmina


AgriBrasilis – Para que serve a digitalização da pecuária leiteira e qual é a contribuição da inteligência artificial?

Laerte Cassoli – A digitalização é uma realidade no agronegócio brasileiro em geral e na pecuária leiteira. Neste cenário, softwares de gestão e algoritmos de inteligência artificial são aliados na busca dos produtores pela otimização da rotina no campo.

A tecnologia permite entender o comportamento de índices zootécnicos e seus impactos na eficiência produtiva, medir a eficácia das ações tomadas e predizer doenças e tendências do rebanho.

A pressão para produzirmos alimentos de forma sustentável tem aumentado, especialmente na pecuária. Devemos aumentar a produtividade a partir dos mesmos recursos, garantindo menor impacto ambiental.

Exemplo disso é o RúmiScore, um benchmarking independente de produtividade e sustentabilidade da pecuária leiteira, com a participação de mais de 1.100 fazendas no Brasil. A ferramenta auxilia a fazenda a comparar indicadores com outras propriedades na região. O produtor consegue avaliar os pontos de melhoria que podem ser adotados. Interessados podem acessar o site: rumiscore.com.br.

AgriBrasilis – É possível estimar as chances de cura de um animal com mastite ou predizer o risco para concessão de crédito? Qual é o nível de precisão dessas predições?

Laerte Cassoli – Na Rúmina, temos um exemplo de aplicação da inteligência artificial para controle da mastite. Embarcada no aplicativo da OnFarm, sistema de cultura microbiológica na fazenda, nossa inteligência artificial ajuda o produtor a identificar o agente causador da doença no rebanho. A ferramenta analisa a foto enviada no aplicativo e indica se existe um patógeno presente na amostra e qual é o agente. O algoritmo foi treinado e validado por um time de especialistas e leva em consideração as características de forma e cor das colônias bacterianas. Além disso, a partir de um banco de dados de mais de 400 mil diagnósticos de mastite, é calculado o “escore de chance de cura” do animal (baixo, médio e alto), e quais protocolos de tratamento seriam eficientes a partir dos dados reais da comunidade de produtores que utilizam a OnFarm.

No caso do crédito, utilizamos um algoritmo para avaliar as informações trocadas com o laticínio, como volume de leite entregue, contagem de células somáticas e tempo de fornecimento no laticínio daquele produtor, com informações fornecidas pelo próprio tomador de crédito, como perfil racial do rebanho e volume de leite gerado pela fazenda. O algoritmo determina se o produtor se encaixa nas qualidades de A até E. Na categoria A, ele recebe nossa melhor taxa de juros.

AgriBrasilis – A digitalização no mercado de leite ainda é pouco explorada. O que falta para aumentar a adesão entre os pecuaristas?

Aplicativo para gerenciamento de fazendas leiteiras

Laerte Cassoli – Desmistificar a aplicação da tecnologia no campo é importante para adesão dos pecuaristas. Muitos ainda acreditam que a implementação de inovações gera altos custos, com resultados apenas em longo prazo. É importante disseminar resultados e benefícios da digitalização para que os produtores saibam que a tecnologia gera frutos promissores.

Um negócio só é próspero a partir do momento em que ele atende as necessidades dos clientes. Nesse cenário, a digitalização irá impactar toda a cadeia. As exigências produtivas em termos de quantidade, qualidade do produto final e meios de produção crescerá e a tecnologia ganhará ainda mais relevância no setor.

AgriBrasilis – A Rúmina oferece crédito através de parcerias com grandes laticínios, antecipando recursos aos pecuaristas. Quais os parceiros da empresa?

Laerte Cassoli – A concessão de crédito é feita com base em modelo de análise específico para o setor leiteiro, sendo levado em consideração o perfil produtivo de cada produtor. A contratação é feita por WhatsApp de forma rápida e simples, com o crédito disponibilizado ao produtor em 24 horas, sem necessidade de garantias.

A marca hoje tem parceria com seis grandes laticínios – Vigor, Verde Campo, PJ, Scala, Cruzília, Lac Lelo, Catupiry e Agnuslat.

 

LEIA MAIS:

Monitoramento agrometeorológico da cana-de-açúcar